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OPINIÃO - Levante-se a Política!

Todos nos deparámos com um insólito artigo de opinião publicado pelo Vereador do Município de Penacova Ricardo Simões.

Trata-se de um texto revelador da noção que certos responsáveis políticos têm de verdade, mentira, ética e consciência cívica.

Há três formas de dar resposta ao que foi escrito. A primeira, usando o mesmo tom  e o mesmo nível de debate, questionando que autoridade moral tem o Sr. Vereador para dizer o que disse, confrontando-o com factos que são do conhecimento público, como a coincidência da classificação nos dois primeiros lugares de um concurso público da câmara de  uma familiar direta sua e do seu secretário. Ou ainda, solicitando-lhe que disponibilize aos penacovenses o seu curriculum para todos ficarmos esclarecidos sobre a sua carreira fora da política. Ou também, questionando-o sobre as perseguições a funcionários do Município que não têm cartão rosa. Ainda, confrontando-o com o numero de pessoal político na câmara, que não são a tal equipa “reduzida” de cinco pessoas mas sim de oito, e solicitar-lhe que, em nome da transparência, dê conta aos Munícipes de quanto custa esse pessoal, inclusive dos que têm vínculo não com o Município mas com a Penaparque. A segunda é exigir que, em nome da verdade e da seriedade venha dizer quem são os boys do PSD em gabinetes de associações intermunicipais, pagos pelos penacovenses e exigir também que venha dizer de que denúncias anónimas está a falar e sobre quem foi ou foram os seus autores, isto em nome da clareza, para que não fiquem névoas e suspeitas sobre as pessoas.

Porém, eu prefiro uma terceira forma de responder. Parece-me mais importante, neste momento, refletir sobre a forma como a política é feita nos tempos que correm e sobre as consequências que daí advêm para a democracia e para a vida das pessoas.

Dizia Pacheco Pereira, há dias numa conferência que proferiu em Coimbra, e a que eu assisti, que a política perdeu a substância, que está reduzida a mera comunicação, que a atuação política se dirige em exclusivo para os resultados eleitorais, que os protagonistas são desprovidos de curriculum e experiência (s) fora dos partidos.

Isto é a mais pura das verdades. De facto, vemos chegar hoje a cargos de responsabilidade política pessoas sem qualquer percurso profissional ou cívico. A consequência é assistirmos ao acentuado nivelamento por baixo do debate e do trabalho político. A prioridade deixa de estar na discussão critica sobre os problemas concretos e sobre decisões ou falta delas, para se centrar no modo de mais facilmente conservar o poder, nem que para isso o desígnio seja a destruição das pessoas que se perfilem como oposição. É aqui que se enquadra a intervenção do Sr. Vereador.

A característica dos novos protagonistas é a dependência do poder como forma de manutenção do status económico e social, uma vez que não desenvolvem qualquer outra competência profissional que não a política. Esta dependência desencadeia fenómenos de falseamento de argumentação, tentações de manipulação da opinião pública, lançamento de boatos  sobre os adversários, dissimulação da imagem pública pessoal e intolerância à crítica. Trata-se de pura luta pela sobrevivência! Num contexto/cenário deste tipo, as regras do jogo são muitas vezes subvertidas! Joga-se a verdade e a mentira confundindo-as no lugar que ocupa cada uma. Faz-se por parecer o que não se é e por ser real o que é pura fantasia inventada.

Podemos, a este respeito, dar dois exemplos práticos, e conhecidos, da atuação política nos termos em que a descrevi: um, são os ataques pessoais que, em bateria, me têm sido dirigidos, procurando atingir a minha imagem pública, através da sua destruição, lançando boatos, atribuindo-me atitudes que não tomei nem tomaria, procurando falsear uma imagem da minha pessoa dizendo mentiras tantas vezes quantas as necessárias para parecerem verdade, procurando desta forma tirar, sem debater ideias, um adversário do caminho.

Outro exemplo é a questão do hospital de Lorvão. O executivo Municipal tem conhecimento há mais de um ano do fecho do hospital. Deu cobertura ao Governo, construindo uma fantasia à volta da suposta construção de duas unidades de raiz (em novos edifícios) em Lorvão. Desenvolveram conversações praticamente em segredo, lançando aqui e ali a informação de que estariam a trabalhar na construção das tais novas unidades, como forma de obterem dividendos políticos. O resultado está à vista!

Sempre defendi a política como corolário da intervenção cívica. A política não deve ser um fim em si mesmo, mas um meio de estar ao serviço da comunidade. O meu percurso fala por esta perspetiva que defendo. Levo 15 anos de trabalho em prol da comunidade, dando muito do tempo que deveria dedicar à minha família à causa do desenvolvimento da minha terra. Sempre fui um cidadão ativo no  associativismo. Foi do reconhecimento do trabalho que fiz no associativismo que surgiu o convite para ingressar na política em 2003.  Comecei muito novo, em 2005, com 26 anos, num cargo em que se deveriam iniciar todos os políticos – Presidente de Junta – eleito pelo povo, auferindo, já agora, para conhecimento, uma compensação para encargos de 274€.

Os meus amigos mais próximos e família têm-me tentado persuadir a deixar a política. Dizem-me que é coisa que não é para mim, que me prejudico, que me sujeito a  ser criticado por pessoas que nunca contribuíram com qualquer esforço para o interesse de todos. A minha resposta tem sido a de que hoje, mais do que nunca, tenho que lutar para que a política não seja tomada por interesseiros e pessoas que têm como único desígnio a segurança do seu estatuto. O meu gosto pelo trabalho em prol da minha terra não vem de agora e ao sabor dos interesses, vem de longe, do tempo em que muitos dos que agora se dizem trabalhadores pela causa das maravilhas do Concelho andavam entretidos a cacicar 

Mauro Carpinteiro