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CIDADANIA - Lorvão mostra indignação pelo fecho do hospital

Iminente encerramento daquela unidade de saúde deixou utentes, funcionários e população em clima de revolta. Comitiva do PS visitou instalações e ouviu comunidade



Largas dezenas de pessoas ouviram as explicações da comitiva socialista

O anúncio do iminente encerramento do Hospital Psiquiátrico de Lorvão está a deixar a comunidade daquela localidade à beira de um ataque de nervos.

População e funcionários da unidade de saúde mostram-se preocupados pelo destino que será dado aos 88 doentes (30 do sexo feminino e 58 do masculino) que residem a tempo inteiro - alguns dos quais há mais de três décadas - naquela instituição.

«Tirá-los daqui será a morte deles». «Isto será um caos para os utentes». «O que será de mim». Estas foram algumas das declarações que puderam ser ouvidas por parte dos habitantes e utentes.

A indignação contra a decisão do Governo foi mostrada à comitiva socialista, liderada pelo presidente da Câmara Municipal de Penacova, Humberto Oliveira, que ontem efectuou uma visita ao Hospital de Lorvão.

António Marques, enfermeiro reformado daquela instituição, onde trabalhou 37 anos, manifestou-se incrédulo com a sentença dada ao Hospital Psiquiátrico. «Isto é uma família que aqui se criou, porque a integração dos doentes com a população é total. Inclusivamente alguns dos utentes comem em casa das pessoas. Esta decisão é o caos», adiantou, para de seguida acrescentar: «Para estes seres humanos que aqui habitam saírem de Lorvão será uma morte».

Já Fernanda David, enfermeira no activo do Hospital de Lorvão, revelava preocupação com os seus utentes, uma vez que muitos não saberão o que fazer quando se virem sem aqueles que conhecem e em quem confiam. «A minha apreensão não é ser reintegrada noutro local de trabalho, mas sim a dependência que muitos utentes têm desta vivência, recordemo-nos que estamos a falar de pessoas com problemas de saúde mental», disse.

Fecho não será pacífico

Humberto Oliveira liderou a comitiva socialista, composta por Rui Duarte, deputado da Assembleia da República (AR) eleito pelo círculo de Coimbra e Pedro Coimbra, presidente da Assembleia Municipal de Penacova, que visitou as instalações e cujo objectivo visava ouvir população e funcionários sobre esta problemática.

Rui Duarte manifestou o seu «total apoio à causa», deixando bem clara a intenção de defender na AR «os interesses da população e utentes» daquela unidade de saúde.
O responsável pela autarquia de Penacova ficou sensibilizado pela forma «espontânea» como as pessoas se expressaram, antevendo um cenário de oposição ao encerramento da unidade de saúde.

«É, sem dúvida, um impacto negativo para a população e para as pessoas que habitam e trabalham em Lorvão. A manifestação demonstrada hoje (ontem) é clara e penso que a alternativa dada aos doentes não é melhor ao que agora existe», revelou Humberto Oliveira. O presidente da autarquia comunicou que as opções que lhe transmitiram foram «os homens serem colocados na Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do Corvo e as mulheres para uma unidade em Condeixa».

O encerramento do Hospital de Lorvão não constituiu «uma surpresa» para o responsável autárquico mas sim «o abandono da ideia de construir», em Lorvão, «uma unidade de cuidados continuados que vinha a ser estudada e negociada com a tutela».

Perante o cenário que encontrou à entrada do Hospital de Lorvão, Humberto Oliveira acredita que a questão do encerramento «será tudo menos pacífica».

Autarca garantiu postos de trabalhos

A questão do encerramento do Hospital de Lorvão também implica com a vida de um elevado número de funcionários que, diariamente, garantem o bem-estar dos residentes. Nesse capítulo, Humberto Oliveira deixou a garantia aos trabalhadores que os postos de trabalho estavam totalmente salvaguardados.

«Todos os funcionários serão distribuídos pelas várias unidades de saúde do concelho de Penacova, ou nalgum caso, do distrito de Coimbra. Ninguém ficará sem emprego», disse o presidente, acrescentando mesmo que «numa primeira fase até o transporte aos funcionários que necessitem estará acautelado».

Ricardo Busano - Diário de Coimbra