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HOMICIDIO - Filho de penacovense mata e suicida-se por razões passionais

Homem entrou em stand de caravanas e terá morto filho do dono, a tiro de caçadeira, com que terá posto termo à vida logo de seguida. PJ de Aveiro dirige investigações


Na localidade de Carqueijo ninguém queria acreditar. Não é que a situação não se comentasse na zona, mas ninguém conseguia imaginar que Pedro Miguel Antunes, mais conhecido por Michel, proprietário do restaurante D. Pitéu, em Santa Luzia, pegasse numa caçadeira e entrasse de rompante no stand de caravanas de Aires Martins, já em Carqueijo, alegadamente com a intenção de acabar com a vida do proprietário do estabelecimento, acabando por matar o filho, Adriano Barata, e por se suicidar de seguida.

A verdade é que aconteceu. Ontem, minutos depois da tragédia, multiplicavam-se as versões para o que terá acontecido, assim como os motivos para este homicídio, seguido de suicídio, mesmo à beira da EN-1, que agora está a ser investigado pela Polícia Judiciária de Aveiro e que, ao que tudo indica, terá acontecido por razões passionais.

Pelo menos, parece certo que Michel, com cerca de 40 anos, casado e pai de dois filhos (um de 18 e outro de 13 anos), estaria emocionamente envolvido com a mulher de Aires Martins, Fátima Barata, na casa dos 50, e que, alegadamente, o casal, que se terá separado por um tempo, estaria agora de novo junto, o que não terá agradado ao proprietário do restaurante. Comentava-se também que este terá mesmo ameaçado Fátima Barata de que mataria o marido e o filho se o casal se reconciliasse.

Não foi possível confirmar esta versão. De qualquer forma, ao início da tarde de ontem, Michel, estacionou o seu carro, um Audi preto, junto ao restaurante vizinho do stand de caravanas e, de acordo com a sua proprietária, Sónia Branco, entrou no estabelecimento, pediu à funcionária um saco preto e uma cerveja, que bebeu. Saiu do restaurante, terá alegadamente metido uma caçadeira no saco e deslocou-se ao stand, onde se encontravam Aires Martins e o filho, Adriano Barata, de 31 anos, a quem baleou, ao que tudo indica na zona do peito.

Vizinhos do estabelecimento dizem ter ouvido, pelo menos, três tiros. «Eu andava na minha vida e ouvi tiros. O primeiro parecia um pneu a rebentar, quando ouvi os outros dois é que percebi que eram tiros», comentava aos jornalistas uma vizinha do stand que só quando chegou junto do estabelecimento e se deparou «com um grande aparato» é que percebeu o que se tinha passado.

Pai agarrou-se ao filho morto


Um dos tiros feriu mortalmente o filho do proprietário do stand que, apesar de se dedicar à fotografia como hobby, costumava ajudar o pai no negócio das caravanas, chegando mesmo a ir com ele à Alemanha, buscar as viaturas que depois eram vendidas no stand. Desconhece-se se Michel terá atirado sobre Aires Martins, mas sabe-se que o proprietário do stand, percebendo o perigo, terá conseguido escapar pelo gradeamento lateral do stand, tendo ido pedir ajuda ao restaurante vizinho, o mesmo onde o alegado homicida deixou o carro estacionado.

Outro dos tiros foi mesmo para que Michel pusesse termo à vida, com um tiro na cabeça que, segundo Pedro Baptista, gestor de garantias automóveis e frequentador a

Pedro Baptista, que ainda se encontrava visivelmente abalado com o que se passou, terá sido o primeiro a chegar junto dos corpos. «Eu estava no carro ao telefone quando ouvi tiros. Esperei algum tempo e quando entrei é que vi o aparato», conta o homem, descrevendo o que viu: «o filho do senhor Aires estava deitado no chão consciente, lúcido, mas não conseguia falar, percebia-se que estava mal. O outro homem tinha um tiro na cabeça e estava completamente desfigurado, já cadáver».

«Na minha vida nunca tinha visto nada assim», continua, garantindo que o dono do stand não ficou ferido, apesar de ter a camisa completamente ensaguentada, porque «quando deixou de ouvir tiros, apareceu e se agarrou ao filho a chorar». Ainda houve tentativa de reanimação de Adriano Barata, pela equipa do INEM e os Bombeiros da Mealhada, que estiveram no local, mas o jovem acabou por morrer.

Não foi possível apurar se Fátima Barata estaria dentro do stand na altura do crime, mas pelo menos durante a tarde foi vista a chorar agarrada a Aires Martins, enquanto as autoridades recolhiam elemento de prova e era aguardada a recolha dos corpos.

Pai e filho foram vistos há 15 dias a almoçar no D. Pitéu

O crime aconteceu ao início da tarde, mas rapidamente a notícia se espalhou pelas imediações, fazendo deslocar ao local centenas de pessoas que foram cercando o stand Aires Martins. Muitas deles amigos de Michel, muitos amigos de Adriano e até de ambos os homens que, ao que tudo indica, já teriam tido uma relação de amizade que se terá deteriorado com a confirmação do envolvimento de Fátima Barata com o proprietário do restaurante.

De qualquer forma, Hélder Marques, amigo de longa data de Adriano Barata, com quem praticava surf, snowboard e outros desportos radicais e que conhecia bem - «não havia melhor pessoa do que ele», garante -, confirmou ao nosso jornal que «ainda há 15 dias» o amigo e o pai, Aires Martins, estiveram a almoçar no D. Pitéu, numa mesa ao lado da sua.

Aliás, o jovem, de 21 anos visivelmente emocionado pela morte do amigo, garantiu desconhecer se os pais do amigo estariam separados ou o aparente envolvimento da mãe de Adriano Barata com o alegado homicida e suicida.

Uma relação que existiria, de facto, segundo confirmou aos jornalistas Rui Correia, amigo de Michel. «Ele desabafou comigo na esplanada do [restaurante] Castiço de que andaria “amantizado” com a mulher do senhor das caravanas», afirma, adiantando que terá sido o próprio Michel quem contou a Aires Martins este envolvimento, o que terá provocado o corte de relações entre ambos. Rui Correia descreve Michel como um homem «bem humorado e bem disposto», garantindo que nada fazia prever esta sua atitude.

Natural da Espinheira, Penacova, Michel era filho do proprietário de um restaurante, junto à Câmara Municipal local. Deixa dois filhos menores, um deles estudante universitário. Adriano Barata era solteiro e aparentemente não tinha qualquer relacionamento. «São duas famílias destruidas», era a frase que mais se ouvia nas imediações no local do crime.