OPINIÃO - Com o fim de quatro feriados, a cultura e a história desaparecem
O historiador Luís Reis Torgal considerou hoje, em Coimbra, que o processo que levou à abolição de quatro feriados foi «muito mal organizado», classificando-o mesmo como «uma trapalhada completa e ilegítima».
Com Luís Oliveira Andrade, já falecido, Reis Torgal é autor da obra «Feriados Em Portugal. Tempos de Memória e de Sociabilidade», que é lançada terça-feira na Casa Municipal da Cultura de Coimbra.
«Todo este processo foi muito mal organizado. A abolição dos feriados aparece na revisão do Código do Trabalho, mas não se discutiu a questão em termos históricos, memoriais. A ideia é esta "É preciso produzir mais, portanto mata-se quatro feriados, dois civis e dois religiosos"», afirmou o catedrático aposentado da Universidade de Coimbra (UC), citado pela Lusa.
Para o fundador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), da UC, «até 2012, sempre que se discutia os feriados, apresentava-se [a matéria] como uma questão de memória», mas agora apareceu «um paradigma novo».
«Vamos matar quatro feriados, porque o país precisa de produzir mais. Todo o aspeto cultural e histórico desapareceu. Foi uma trapalhada completa e ilegítima», afirmou, em declarações à Agência Lusa.
Luís Reis Torgal criticou também o facto de se «estar acabar de comemorar o centenário da República e de se matar» o feriado respetivo.
«Num tempo em que estamos a lutar por uma quase independência do Estado do ponto de vista económico, mata-se o feriado do 1º de Dezembro», censurou ainda.
Na sua perspetiva, «há aspetos de natureza cultural e histórica que são muito importantes. Não se pode matar a História, a memória, a cultura, apenas por razões de natureza económica».
Iniciada há mais de dez anos e agora concluída, a obra foi completada por Reis Torgal, na sequência da morte, em 2005, do seu orientando de doutoramento Luís Oliveira Andrade.
Os autores começam por recuar até ao Liberalismo, época em que a conceção de feriados cívicos começou a surgir, vindo a consolidar-se no âmbito da celebração dos centenários e do debate sobre o descanso semanal, segundo uma nota da assessoria de imprensa da UC.
O grande passo seguinte surgiu em 1910 com o plano dos feriados da República, em que não foram incluídos os dias santos, mas sendo de realçar que esse sistema se manteve na Ditadura e no Estado Novo, só se podendo falar de feriados religiosos em 1952.
Com o 25 de Abril de 1974, para além de se tentar recriar a memória dos feriados anteriores, procurou criar-se e ativar-se as festas do trabalhador e da liberdade (o 1.º de Maio e o 25 de Abril) e dar aos feriados municipais uma dimensão popular, adianta o texto.
«A obra termina com a análise da atual viragem de paradigma, quando, em 2011-2012, ainda no âmbito do Centenário da República, surgiu uma justificação simplesmente económica para reduzir os feriados oficiais, resultando na extinção de dois feriados cívicos que simbolizam valores essenciais como o da República e o da independência de Portugal», é referido na mesma nota.
Com Luís Oliveira Andrade, já falecido, Reis Torgal é autor da obra «Feriados Em Portugal. Tempos de Memória e de Sociabilidade», que é lançada terça-feira na Casa Municipal da Cultura de Coimbra.
«Todo este processo foi muito mal organizado. A abolição dos feriados aparece na revisão do Código do Trabalho, mas não se discutiu a questão em termos históricos, memoriais. A ideia é esta "É preciso produzir mais, portanto mata-se quatro feriados, dois civis e dois religiosos"», afirmou o catedrático aposentado da Universidade de Coimbra (UC), citado pela Lusa.
Para o fundador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), da UC, «até 2012, sempre que se discutia os feriados, apresentava-se [a matéria] como uma questão de memória», mas agora apareceu «um paradigma novo».
«Vamos matar quatro feriados, porque o país precisa de produzir mais. Todo o aspeto cultural e histórico desapareceu. Foi uma trapalhada completa e ilegítima», afirmou, em declarações à Agência Lusa.
Luís Reis Torgal criticou também o facto de se «estar acabar de comemorar o centenário da República e de se matar» o feriado respetivo.
«Num tempo em que estamos a lutar por uma quase independência do Estado do ponto de vista económico, mata-se o feriado do 1º de Dezembro», censurou ainda.
Na sua perspetiva, «há aspetos de natureza cultural e histórica que são muito importantes. Não se pode matar a História, a memória, a cultura, apenas por razões de natureza económica».
Iniciada há mais de dez anos e agora concluída, a obra foi completada por Reis Torgal, na sequência da morte, em 2005, do seu orientando de doutoramento Luís Oliveira Andrade.
Os autores começam por recuar até ao Liberalismo, época em que a conceção de feriados cívicos começou a surgir, vindo a consolidar-se no âmbito da celebração dos centenários e do debate sobre o descanso semanal, segundo uma nota da assessoria de imprensa da UC.
O grande passo seguinte surgiu em 1910 com o plano dos feriados da República, em que não foram incluídos os dias santos, mas sendo de realçar que esse sistema se manteve na Ditadura e no Estado Novo, só se podendo falar de feriados religiosos em 1952.
Com o 25 de Abril de 1974, para além de se tentar recriar a memória dos feriados anteriores, procurou criar-se e ativar-se as festas do trabalhador e da liberdade (o 1.º de Maio e o 25 de Abril) e dar aos feriados municipais uma dimensão popular, adianta o texto.
«A obra termina com a análise da atual viragem de paradigma, quando, em 2011-2012, ainda no âmbito do Centenário da República, surgiu uma justificação simplesmente económica para reduzir os feriados oficiais, resultando na extinção de dois feriados cívicos que simbolizam valores essenciais como o da República e o da independência de Portugal», é referido na mesma nota.
FONTE: TVI24