Todos contra construção da mini-hídrica no Alva
O projecto da Central
Hidroeléctrica do Vale das Botas, no rio Alva* foi apresentado na Câmara de
Arganil, uma sessão que reuniu representantes da Agência Portuguesa do
Ambiente, do proponente, autarquias, representantes de empresas de actividades
turísticas e alunos de Turismo Ambiental da Secundária. «Não encontramos
ninguém a favor da construção de mais uma mini-hídrica no rio Alva», assegurou
o presidente da Câmara de Arganil, revelando que o executivo, após analisar os
documentos, concluiu que o projecto - lançado pelo Governo de Sócrates -
implica um açude de 3,5
metros e «um impacte brutal entre Côja e Secarias». Lembrando
que o concelho tem «grande apetência para as energias renováveis», Ricardo Pereira
Alves fez notar que a produção energética desta infra-estrutura representa
«dois terços de uma torre eólica». Para o edil, há hipóteses de a praia fluvial
de Côja ficar inundada, para além da destruição da fauna piscícola. «Temos uma
experiência muito negativa com a mini-hídrica de Avô», lembrou, adiantando que outra
infra-estrutura do género irá «prejudicar a qualidade das águas», «criar
restrições ao nível da expansão urbana, sobretudo de Côja».
Paula Marinheiro, da AgriPro
Ambiente Consultores S.A., responsável pelo estudo de impacte ambiental (EIA),
assegurou que há «medidas previstas para mitigar os impactes», adiantando que a
mini-hídrica será instalada numa «zona pouco visível», com «matos e espécies
sem valor ecológico», com «a habitação mais próxima a 800 metros». Admitindo
«incómodo para as populações» na construção, referiu as consequências sócio-económicas
«positivas», pois a obra, cuja construção está prevista em 16 meses, implicaria
a contratação de «muitos trabalhadores», contribuindo para o desenvolvimento
local. Como desvantagens, assumiu «a qualidade da água e o impacte na fauna
piscícola».
Para Miguel Ventura,
«infraestruturas com estas características não trazem mais-valias ao concelho. As águas do Alva já
contribuem para a produção da energia eléctrica», afirmou o vereador do PS, acrescentando
que com esta mini-hídrica «ficamos sem condições para a prática de actividades turísticas».
Carlos Ramos, presidente da Junta
do Barril de Alva, apontou os efeitos da mini-hídrica de Avô: «Barril, no Verão, fica sem
gota de água», contestando a abertura das comportas sem aviso prévio e o
desaparecimento de espécies. Em total desacordo com o projecto,
António Souto, presidente da Junta de Secarias afirmou que «já temos uma mini-hídrica
e sofremos na pele diversas situações com a subida e descida do caudal», por isso «nada
justifica a criação desta infra-estrutura», disse, apelando ao Governo para
suspender o investimento.
Alcides Rodrigues, em
representação da Junta Coja, lembrou que esta seria a freguesia mais afectada, receando
«problemas» na praia fluvial. Manuel Gambôa, presidente da Junta de Mouronho, mostrou-se
preocupado com «a qualidade da água», afirmando que «a abertura das comportas é problemática».
Presidentes da Câmara e das
Juntas de Freguesia não vislumbram uma única vantagem no projecto e pedem ao
Governo que proceda à sua suspensão
“Ir até ao fim”para travar construção
É um investimento «prejudicial» para o concelho, concluiu o autarca de Arganil,
afiançando que «iremos até ao fim para evitar que seja construído». Pereira
Alves anunciou que o executivo vai marcar uma reunião com o secretário de
Estado do Ambiente a fim de “travar” o projecto, sublinhando que no EIA«o aspecto
sócio-económico não está aprofundado», pois não reflecte «as perdas para as
empresas de animação turística».
Por Isabel Duarte
*O Rio Alva ou Ribeira de Fervença[1] na sua parte inicial até se encontrar com a Ribeira do Covão do Urso, é um afluente do Mondego, nascendo na encosta sudoeste da Serra da Estrela, percorre cerca de 106 km até desaguar no Rio Mondego, o que ocorre na localidade de Porto de Raiva, Concelho de Penacova no Distrito de Coimbra, após o Mondego ser quebrado pela Barragem da Aguieira.
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