TRADIÇÃO - Filarmónica Boa Vontade Lorvanense recorda o 1º de Dezembro
Corria o ano de
1640.
Durante seis
décadas Portugal partilhou o Rei com Espanha. O designado "domínio filipino".
A ideia de
recuperar a independência era cada vez mais poderosa e a ela começaram a aderir
todos os grupos sociais.
Faltava escolher
o dia certo.
Aproximava-se o
Natal do ano 1640 e muita gente partira para Espanha. Em Lisboa, ficaram a
Duquesa de Mântua, espanhola e Vice-Rainha de Portugal durante o domínio
espanhol do País (desde 1634), e o português seu Secretário de Estado, Miguel
de Vasconcelos.
Os nobres
revoltosos convenceram D. João, o Duque de Bragança, que vivia no seu palácio
de Vila Viçosa, a aderir à conspiração.
Na manhã do 1º
de Dezembro de 1640, um grupo de 40 fidalgos introduziram-se, de surpresa, no
Palácio Real, sede do governo em Lisboa (Paço da Ribeira), que estava no
Terreiro do Paço. Prenderam Margarida de Sabóia, Duquesa de Mântua, neta de
Filipe II, representante da coroa espanhola, e mataram e feriram alguns membros
da guarnição militar e funcionários, entre os quais o seu Secretário de Estado,
Miguel de Vasconcelos. Depois, vieram à janela, proclamar D. João, Duque de
Bragança, rei de Portugal. Terminava, assim, 60 anos de domínio espanhol sobre
Portugal. Seguidamente, os revoltosos percorreram a cidade, aclamando o novo
estado de coisas, secundados pelo entusiasmo popular.
Personificando o
grupo de 40 fidalgos que atacaram os espanhóis em Lisboa, no próximo dia 1 de
Dezembro de 2013, os músicos da Filarmónica Boa Vontade Lorvanense, de manhã,
pelas 9h30m, saem, em silêncio, da sede da Filarmónica, sita na Rua Dr. Bissaya
Barreto, nº11, Lorvão, para apanharem os espanhóis, de surpresa. Municiados com
os seus instrumentos, dirigem-se ao Mosteiro de Lorvão.
Subindo pela
estreita escadaria até à elegante cúpula lanternim do Mosteiro, comummente
conhecido por “zimbório poligonal”, sob as ordens do seu Maestro Paulo Almeida,
entoaram, pela última vez, o Hino da Restauração de 1640.
Esta singular
tradição, anualmente, renovada, pela Filarmónica Boa Vontade Lorvanense, desde
a data da sua fundação (1 de Agosto de 1910), terá o seu epílogo no próximo
domingo, 1 de Dezembro de 2013.
O Hino da Restauração de 1640 será tocado no dia
1 de Dezembro pela última vez.
Fruto de uma
decisão do XIX Governo Constitucional, de Passos Coelho, o 1º de Dezembro,
feriado nacional, passará a comemorar-se no primeiro dia não útil seguinte.
O Primeiro de
Dezembro ou Dia da Restauração, foi comemorado anualmente em Portugal com muita
pompa e circunstância ainda no tempo da monarquia constitucional. Por isso, uma
das primeiras decisões da República Portuguesa, em 1910, foi passá-lo a feriado
nacional como medida popular e patriótica.
O feriado do 1.º
de Dezembro, o mais antigo dos feriados civis de Portugal, foi eliminado “por
omissão” aquando da aprovação do novo Código do Trabalho, a 11 de Maio de 2012.
Um povo que não honra a sua história e o seu
passado, é um povo sem futuro.
No próximo dia 1
de Dezembro, a Filarmónica Boa Vontade Lorvanense entoará o hino da Restauração
de 1640. Que expressará um hino de revolta, pugnando pela afirmação e pela
valorização de Portugal, respeitando e honrando a memória dos nossos
antepassados, pela restauração e pela independência nacional.
Celebrar o 1º de
Dezembro é comemorar um facto histórico, sem o qual, hoje não seríamos aquilo
que somos! Portugueses.
Honrando o nosso passado, saberemos dignificar o
presente e projetar o nosso futuro.
Integrado nas
comemorações do 1º de Dezembro, dia da Restauração da Independência de
Portugal, seguir-se-á, pelas 15h30, na sede da Filarmónica Boa Vontade
Lorvanense, a realização do Colóquio - “1º de
Dezembro e os feriados nacionais”, com preleção do Professor Doutor Luís
Reis Torgal, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, do Professor
António Calhau.
Venham visitar e
conhecer a Vila de Lorvão, dominada pelo seu imponente mosteiro cisterciense,
classificado como Monumento Nacional em 1910, por Decreto de 16-06-1910,
publicado no DG n.º 136, de 23-06-1910.
Mosteiro
de Lorvão - De fundação muito antiga, este mosteiro será, provavelmente, do
século VI, suposição baseada na existência de uma pedra visigótica em mármore
negro e por o seu primeiro abade ter sido Lucêncio - posteriormente bispo de
Conímbriga e que esteve presente nos concílios bracarenses de 561 e 572.
Depois de uma
fase inicial na posse dos monges eremitas de Santo Agostinho (dos quais se
encontraram esqueletos) ou sem regra fixa, o mosteiro adotou, em meados do
século XI, a Regra Beneditina, que se manteve até 1200.
Os monges de
Lorvão atingiram um notável grau de cultura, como o testemunham os livros
copiados e iluminados medievais- Livro das Aves (1183) e Comentários do
Apocalipse (1189).
D. Teresa, filha
de D. Sancho I, e neta de D. Afonso Henriques, irá proceder à reforma do
mosteiro laurbanense, em 1206, incorporando-o na Ordem de Cister e destinando-o
ao acolhimento das monjas desta ordem mendicante. Na mesma altura, a sua irmã
D. Sancha fundava, em Coimbra, o mosteiro feminino de Celas. Ambas encontram-se
sepultadas na capela-mor de Lorvão, guardando-se os restos mortais das Santas
Rainhas em túmulos de prata, obra realizada em 1715 pelo ourives portuense
Manuel Carneiro da Silva.
Uma
soberba grade de ferro forjado com aplicações de bronze dourado realiza a
separação entre o coro baixo e a igreja, obra-prima do rocaille português. Sobre
esta construiu-se um órgão neoclássico, de dupla face, obra de António Xavier
Machado Cerveira e datada de 1795.
Para além de
possuir a graciosa escultura pétrea do século XIV de Santa Maria de Lorvão, ou
Senhora da Vida, o coro apresenta um dos maiores e melhores cadeirais
portugueses. Formado por 102 cadeiras de espaldar alto em madeira de jacarandá
preto brasileiro e nogueira, estas apresentam um notável e harmonioso trabalho
de delicadas figuras sagradas e assimétricos motivos ornamentais rocaille
- obra datável
de cerca do ano de 1747.
Aproveite
o dia 1 de Dezembro de 2013 e venha descobrir Lorvão. Ouvir o hino
da Restauração tocado pela Filarmónica Boa Vontade Lorvanense.
Saborear a gastronomia, a doçaria
conventual. Apaixonar-se pela nossa secular história, pelas nossas
gentes, os usos e costumes. Venha
refrescar-se nas nossas fontes, conhecer os nossos moinhos e azenhas, o nosso artesanato.
Venha viver e
fazer parte da nossa história.
Noélia Ornelas