CIÊNCIA VIVA - Porque é que o Ébola é tão mortífero?
Os surtos de doença causados pelo vírus do
Ébola podem atingir taxas de mortalidade entre 50 a 90%. Ou seja, em cada dez
pessoas infectadas nove podem morrer!
Decorre na Costa Ocidental de África,
desde fevereiro de 2014, um surto de doença por Vírus Ébola que já vitimou mais
de três mil pessoas. E alguns especialistas temem pelo disseminar do vírus à
escala planetária. Pode ser uma questão de tempo se não forem tomadas medidas
de saúde adequadas. O risco para os países europeus é considerado baixo. No entanto,
a Direção-Geral da Saúde disponibiliza, no seu portal
(http://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/ebola.aspx), documentação
com medidas de prevenção.
O que é o Ébola?
Trata-se de uma doença grave,
frequentemente mortal. Os sintomas, que têm início entre dois a 21 dias após a
infecção pelo vírus Ébola, englobam uma febre súbita superior a 38,6 °C , debilidade, dores
musculares e de garganta. E estes são só os sintomas iniciais.
A fase seguinte da doença carateriza-se
por vómitos, náuseas, diarreia e em alguns casos, hemorragias tanto internas
como externas, acompanhada por insuficiência de vários órgãos, entre eles o
fígado e os rins. Foram estes sintomas extremos que deram primeiramente o nome
à doença como febre hemorrágica Ébola (FHE).
O vírus Ébola
Ébola é uma doença causada por um vírus,
do género Ebolavirus. O vírus foi detectado pela primeira vez em 1976 em
dois surtos simultâneos ocorridos em Nzara (Sudão) e Yambuku (República
Democrática do Congo). Como a aldeia em que se registou um dos surtos está
situada perto do rio Ébola, o vírus ficou com este nome.
A febre hemorrágica ébola é provocada por
quatro das cinco espécies de vírus classificadas no género Ebolavirus,
família Filoviridae, ordem Mononegavirales. As quatro espécies
patogénicas são o Ebolavirus zaire, Ebolavirus sudan, Ebolavirus
bundibugyo e o Ebolavirus taïforest. O quinto vírus, a espécie Ebolavirus
reston, não aparenta provocar a doença em seres humanos.
Transmissão
Considera-se que o reservatório natural do
vírus em África são algumas espécies de morcegos frugívoros (que se alimentam
de frutas), em
particular Hypsignathus monstrosus, Epomops
franqueti e Myonycteris Torquata. Por isso, a distribuição
geográfica dos Ebolavirus pode ser coincidente com a dos morcegos referidos.
Em África estão documentados ainda casos
de infecção associados à manipulação de outros animais como sejam chimpanzés,
gorilas, macacos, antílopes e porcos-espinhos infectados, que tinham sido
encontrados mortos ou doentes na selva. Destes hospedeiros naturais o vírus é
transmitido para a população humana através do contacto com órgãos, sangue,
secreções e outros líquidos corporais dos animais infectados.
Como é que o vírus passa dos morcegos para
os outros animais? Os morcegos mordem a fruta e contaminam-na com saliva, fruta
essa que é depois recolhida e comida por mamíferos terrestres como os gorilas.
Esta cadeia de eventos constitui um possível meio de transmissão indireta entre
o hospedeiro natural e as populações animais, pelo que a investigação tem-se
focado na saliva dos morcegos.
Posteriormente o vírus propaga-se dentro
da comunidade humana pela transmissão pessoa a pessoa, através do contacto com
sangue, secreções, tecidos, órgãos ou líquidos orgânicos de pessoas doentes e
mortas. Também pode haver transmissão da infecção através do contacto de
mucosas ou lesões da pele com superfícies ou objectos contaminados com fluídos
orgânicos de um doente, como seja a sua urina ou o seu suor.
O vírus é extremamente infeccioso mas o
mecanismo da infecção ainda é mal compreendido.
Mecanismo da infecção
Os principais alvos da infecção do vírus
Ébola são as células endoteliais que recobrem os órgãos e o interior dos vasos
sanguíneos, um tipo de glóbulos brancos (os fagócitos mononucleares), e os
hepatócitos (células do fígado).
As células infectadas são “forçadas” pelo
vírus a sintetizar uma proteína (em rigor uma glicoproteína) denominada
glicoproteína do vírus do ébola (GP). A GP forma um complexo que liga o vírus
às células endoteliais que revestem a superfície interior dos vasos sanguíneos.
A GP interfere ainda com a sinalização entre certos tipos de glóbulos brancos,
o que permite ao vírus esquivar-se do sistema imunitário, o que reduz a
capacidade deste em lutar contra o vírus. Os glóbulos brancos infectados
potenciam o transporte do vírus pelo corpo do hospedeiro, depositando-o nos
gânglios linfáticos, fígado, pulmões e baço.
A infecção das células endoteliais provoca
a perda de integridade da parede dos vasos sanguíneos, o que potencia as
hemorragias internas e externas.
A infecção de tantos tipos de células
diferentes em vários órgãos é uma das razões para a alta mortalidade causada
pelo vírus Ébola.
Prevenção e tratamento
Não há vacina contra o vírus Ébola. Estão a ser experimentadas algumas
possibilidades em animais modelos, mas ainda nenhuma está disponível para uso
clínico. A existência de uma vacina permitiria ajudar o sistema imunitário a
identificar e eliminar o vírus Ébola logo depois da infecção e reduzir o
contágio.
Também não há nenhum tratamento farmacológico específico, apesar de
algumas drogas experimentais estarem a ser testadas em casos extremos.
Os casos graves requerem cuidados intensivos. Os doentes são afectados
por uma desidratação intensa pelo que um dos tratamentos é a sua reidratação
por via intravenosa ou oral com soluções que contenham electrólitos.
Risco de infeção pelo vírus Ébola e como o
evitar
É preciso dizer que o risco de
infeção pelo vírus Ébola é muito baixo mesmo para quem vive em zonas afetadas
ou tiver viajado para essas zonas, exceto se houver exposição direta a fluidos
corporais de pessoas ou animais infetados, mortos ou vivos. O contacto com
fluidos corporais inclui o contacto sexual não protegido com doentes, até três
meses depois de estes terem recuperado da doença.
A Direcção Geral de Saúde (DGS) afirma que
“o contacto ocasional em locais públicos com pessoas que não pareçam estar
doentes não transmite o vírus. Os mosquitos também não transmitem o vírus
Ébola. Não há evidência de transmissão por aerossol deste vírus, como acontece
com o vírus da gripe.”
Apesar da sua virulência, o vírus Ébola é
facilmente destruído pela utilização de sabão, lixívia, pela ação da luz solar
e por temperatura elevada ou secagem. Por exemplo, e segundo a DGS, a lavagem
na máquina de vestuário que tenha sido contaminado com fluidos destrói o vírus.
O vírus Ébola sobrevive apenas por pouco tempo em superfícies que estejam
expostas ao sol ou que tenham secado. Contudo, pode sobreviver por mais tempo
em roupas ou tecidos que foram manchados com sangue ou outros fluidos
corporais.
A Direcção Geral de Saúde aconselha que em caso
de suspeita de ébola, ligue primeiro para a Linha de Saúde 24. Siga os
procedimentos que lhe serão indicados. Não se dirija a um hospital ou centro de
saúde usando transportes públicos.
António Piedade
Ciência na Imprensa
Regional – Ciência Viva
Fontes: Organização Mundial da Saúde e Direcção Geral da Saúde.
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