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TRADIÇÃO - Rancho As Paliteiras, de Chelo, receberam Reis Magos em Coimbra

A espera dos Reis Magos, que Coimbra viveu intensamente no século passado, foi ontem recriada com a participação de cerca de 600 figurantes 


De dois em dois anos Coimbra tem reis. Magos, entenda-se, que vêm recriar cenários de uma Belém de há dois mil anos, mas acabam por transportar a cidade para tradições mais recentes, sobretudo da primeira metade do século passado.

“Já nasceu o Deus Menino/Filho da Virgem Maria/Vamos todos visitá-lo com muita alegria”. Já sem a estrela de Natal para os conduzir, os cânticos dos grupos folclóricos orientaram Gaspar, Baltazar e Melchior e deram-lhes a certeza de que o Menino Jesus nascera, em Santo António dos Olivais, ainda um pouco longe de Santa Clara. Ali, no “rossio”, junto ao Portugal dos Pequenitos, cinco dos 13 grupos que corresponderam ao desafio da Associação de Folclore e Etnografia da Região do Mondego (AFERM), receberam ontem à noite os Reis Magos e seguiram-nos em manifestações de alegria, cumprindo o prometido.

Gaiteiros à frente, como mandava a tradição dos Reis em Coimbra até se perder, na década de 40, seguindo-se os Magos, pagens, senhores, damas e o povo. Desta vez, os três monarcas fizeram a viagem a cavalo, o que não foi possível em 2013 devido, dizia então um membro da AFERM, à crise financeira.

Desta vez a crise foi outra: praticamente ninguém a assistir a uma tradição que a AFERM recuperou em 2000, pelo entusiasmo do então presidente Manuel Dias. E, ainda que não se visse de imediato o ouro, o incenso e a mirra, os poucos que apreciaram o desfile tiveram oportunidade de recuar umas décadas e perceber a riqueza desta tradição em Coimbra, “alimentada” pelo povo que vinha dos arrabaldes e fazia a cidade sair à rua em espera dos Reis.

De certa forma, misturavam-se as “Janeiras” com os “Reis”. Nas aldeias «não havia Reis», explicava Manuel Quitério, da direcção do Rancho Típico de Vila Nova de Cernache. Ao seu lado, António Flório Gásio segurava um escadote e chouriças, em alegoria precisamente às Janeiras, que poderiam ser cantadas pelo caminho (“deita mão ao fumeiro/dai daí um chouriço”).

De Santa Clara até à Praça 8 de Maio o que se ouviu, no entanto, foram cânticos mais religiosos. Junto aos Paços do Município, quatro outros grupos deram as boas-vindas aos Magos: “Aqui estamos para vos saudar/boas festas vos queremos dar”. Sandra Lopes, presidente da AFERM, fazia já por essa altura um balanço «muito positivo», dada a participação dos grupos. O desfile, um pouco atrasado, seguiria até à Praça da República, onde aguardavam mais quatro grupos.

Entretanto, na igreja de Santo António dos Olivais ultimava-se o presépio vivo que iria recolher as oferendas. Muito pouca gente, uma barraca de farturas e outra de produtos vários aguardavam também pelo negócio, até então fraco. O cenário, no entanto, mudaria pouco depois com a chegada dos quase 600 figurantes que participaram este ano no Cortejo dos Reis. Para os que perderam ontem a recriação, os Reis Magos vão voltar, mas agora só em 2017.

Apoios permitiram à AFERM manter a tradição e utilizar cavalos no cortejo


«Este ano foi possível novamente a inclusão dos Reis Magos a cavalo, graças ao apoio da entidade Hugo Crespo – Serviços Equestres», explica a AFERM, em comunicado. A iniciativa, observa, também só foi possível graças ao apoio da Câmara Municipal de Coimbra, Junta de Freguesia e Paróquia de Santo António dos Olivais, Polícia de Segurança Pública, Fundação INATEL, bem como do Grupo de Teatro do Sobral de Ceira, Centro de Bem Estar Social da Sagrada Família e do Grupo de Gaiteiros da Ribeira de Frades.

No desfile participaram o Grupo Folclórico da Casa do Povo de Souselas, Rancho Folclórico “As Paliteiras” de Chelo (Penacova), Rancho Típico da Palheira, Grupo Folclórico da Casa do Povo de Ceira, Grupo Folclórico da Casa do Pessoal da Universidade de Coimbra, Grupo Folclórico e Etnográfico “As Tecedeiras de Almalaguês”, Grupo Folclórico de Pereira, Rancho Folclórico e Etnográfico “As Moleirinhas” de Casconha, Grupo Folclórico de Torre de Bera, Grupo Folclórico “Camponeses do Mondego”, Rancho Típico de Vila Nova, Rancho Típico de Anaguéis e Grupo Regional de Danças e Cantares do Mondego.

Fonte DC