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OPINIÃO - Lugares nossos

Numa altura em que tanto se fala de migrações, revejo-me um pouco em todos aqueles que deixam a sua terra e partem para outro lugar, para dar continuidade à vida.

Penacovense de gema, aos 23 anos deixei a terra onde nasci. Fui para os Açores, à procura da tão desejada estabilidade pessoal e profissional. Bem sei que não mudei de país, mas mudei-me para uma ilha. Aqui, a insularidade sente-se. Forte, no início, vai-se atenuando com o tempo. Mas a descontinuidade territorial está sempre lá, marcada nos percursos que não duram mais do que duas horas e no facto de apenas o avião nos conseguir levar para fora dali.

Longe da terra, faz-nos falta a família, a casa, a comida, os cheiros … E, no meu caso, a estrada, que nos leva até onde quisermos, e o frio!

Mas, como em qualquer outro lugar, é uma questão de tempo. O tempo concilia, apazigua, permite-nos criar rotinas e consente a ligação e criação de laços com o lugar, as pessoas, com toda uma cultura.

Acho graça, quando ouço “continentais” dizerem que pareço terceirense. Quando falo. Quando cozinho pratos regionais para os familiares que me visitam. Quando vou a touradas à corda, a festas e romarias com vontade e satisfação.

A aculturação foi rápida, fácil, espontânea. Mas dou por mim, ao falar com a família por telefone ou Skype, a reparar que já não uso certas expressões que antes usava. Uso outras, em sua substituição. Expressões terceirenses. E, apesar de continuar a falar a mesma língua, por vezes tenho que fazer um esforço para me lembrar de como se dizia em Penacova…

O lugar onde nascemos é um lugar ao qual sempre pertencemos. É um lugar do qual sempre nos orgulhamos e que nos deixa felizes. É um lugar que nos acolhe eternamente e onde sempre ansiamos voltar.

Até breve, Penacova.