INCÊNDIOS - Populares “apanham” incendiário em flagrante em Penacova
Surpresa e estupefecção são as
reacções mais comuns à detenção de um madeireiro, em flagrante, cerca das 22h00
da noite de segunda-feira. Natural de Cunhedo e residente em Paredes, Penacova,
o empresário, de 48 anos foi detido por populares que circulavam na “estrada da
serra”, uma via alternativa, utilizada face ao encerramento do IC6, devido à
violência do incêndio que lavrava em Oliveira do Mondego.
De acordo com fonte da Directoria
de Coimbra da Polícia Judiciária (PJ), os populares avistaram uma carrinha
pickup parada e, perto, dois focos de incêndio. Pararam e apagaram as chamas.
«Junto à carrinha estava o indivíduo». Outros populares, “desviados” para a
mesma estrada, juntaram-se aos primeiros e «detiveram o indivíduo até chegada
da GNR» e da PJ, imediatamente alertada para a situação. «Formalmente a
detenção foi efectuada pelos populares», esclarece a PJ, sublinhando que se
trata de uma situação prevista no Código de Processo Penal, que também requer
que o detido seja entregue o mais rapidamente possível às autoridades
policiais, o que aconteceu.
Além dos dois focos de incêndio
que colocou por volta das 22h00, a PJ considera existirem «fortes indícios» de
que o suspeito seja também o autor do incêndio que deflagrou pouco depois das
18h00 na localidade de Lavradio. É mais do que certo que o madeireiro esteve no
local e foi avistado por várias pessoas. Quem o viu e, inclusive, cumprimentou,
foi o presidente da Câmara de Penacova. «Nada fazia supor uma coisa destas»,
disse ao Diário de Coimbra Humberto Oliveira, sem conseguir «entender as razões
que o levaram a cometer um crime destes» e frisando que se trata de «uma pessoa
socialmente muito bem inserida».
O madeireiro reside em Paredes,
localidade vizinha de Lavradio, onde os Bombeiros de Penacova tiveram de
acorrer repetidamente nos últimos dias. «Em três dias foi a quarta vez que ali
fomos», conta o comandante, salientado que «nas primeiras três vezes, nos dois
dias anteriores (sábado e domingo) conseguimos dominar a situação», o que já
não foi possível na segunda-feira. Segundo apurámos, as diligências efectuadas
pela PJ permitiram relacionar o suspeito com estas três situações, o que
significa que pode estar indiciado pela prática de seis crimes de incêndio.
Muito conhecido no concelho, o
empresário, considerado «acima de qualquer suspeita», é definido como um
«indivíduo pacato e reservado, de “poucas falas”». Circula habitualmente numa
pick-up verde e diz quem o conhece que «anda sempre muito devagar, nunca deve
passar além da segunda mudança, sempre com o braço de fora». Hoje vai ser
presente a tribunal, para primeiro interrogatório e aplicação das medidas de
coacção consideradas convenientes.
Penacova viveu a noite mais longa
A topografia do terreno, muito
acidentada, foi a principal dificuldade que os bombeiros sentiram no combate ao
duplo incêndio que deflagrou ontem no concelho de Penacova. Em Riba de Cima, na
Serra da Atalhada, as chamas eclodiram às 16h56 da tarde de segunda-feira e
foram dominadas, de acordo com o comandante António Simões, dos Bombeiros de
Penacova, por volta da meia-noite. Mais “resistente foi o fogo de Oliveira do
Mondego, que começou na zona do Lavradio, às 18h20 e só às 7h00 da manhã de
ontem foi dominado.
A juntar ao terreno fortemente
acidentado, os combatentes viram-se confrontados com uma segunda dificuldade,
decorrente do vento e do maciço de eucalipto onde o fogo lavrava, cujas
projecções chegavam a «atingir 100 metros» e «multiplicavam os focos de
incêndio», refere António Simões.
«Chegamos a ter 500 combatentes
no terreno», distribuídos pelos dois incêndios, dizia o comandante dos
Voluntários de Penacova, ontem a meio da manhã, na Serra da Atalhada, numa
altura em que se mantinham «200 homens» em acção, nos dois flancos, com o
objectivo de «consolidar o rescaldo». Uma operação que contava com o apoio de
duas máquinas de rastos da ADESA – Associação de Desenvolvimento Regional da
Serra do Açor – que se juntou a outras duas, pertencentes ao Exército –
Regimento de Engenharia de Espinho – que durante grande parte da noite
estiveram em actividade, procedendo à consolidação do rescaldo do incêndio, mas
também a abrir caminhos.
Um trabalho importante, fazia
notar o presidente da autarquia de Penacova, Humberto Oliveira, não apenas para
o momento actual, mas «também para o futuro», pois «mais cedo ou mais tarde, os
incêndios acabam por acontecer».
«Foi quase uma noite de S. João»,
brincava, ontem ao final da manhã o autarca, salientando que «muita gente nem sequer
foi à cama», face à aflição de ver o fogo aproximar-se. «Em Riba de Cima
tivemos um primeiro incêndio, que apagámos, mas surgiu logo outro e já não se
conseguiu dominar», adianta o comandante. Apesar da grande intensidade das
chamas, o fogo não chegou a ameaçar habitações, mas «rondou por perto», quer em
Riba de Cima, quer em Carvalhal de Laborins.
De acordo com as estimativas de
António Simões, na Serra da Atalhada terá ardido uma área que ronda os 180
hectares e no Lavradio o fogo terá dizimado cerca de 120 hectares de floresta.
A madrugada e a manhã frescas ajudaram a consolidar o rescaldo, mas em Penacova
o dia de ontem foi de alerta, relativamente a reacendimentos, que se foram
verificando ao longo do dia. A maior incidência de focos de reacendimento
verificou-se ao final da tarde, cair da noite, quer na Serra da Atalhada, quer
em Oliveira do Mondego, de acordo com António Simões, altura em que se fazia
sentir um «vento muito forte».