ROMARIA: A lenda da Senhora do Mont'alto ou Senhora da Natividade
Perde-se na memória dos tempos o culto da Senhora do Mont’Alto. No dia 8 de Setembro a Fé e a Tradição são mais fortes. Há três anos, (ver aqui ), recordámos a romaria dos finais do século XIX. Hoje,
recuamos ainda mais e vamos até aos inícios do século XVIII...
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Imagem de N. Sª do Montalto segundo fotografia de 1941 |
Em 1722, Frei Agostinho de Santa Maria, publicou uma
obra intitulada “Santuário Mariano” cujo subtítulo esclarece que o livro trata
essencialmente da “História das Imagens Milagrosas de
Nossa Senhora e das (imagens) milagrosamente aparecidas”.
O autor começa por dizer que depois de ter escrito sobre a Senhora
do Montalto da Vila de Arganil, vai fazer o mesmo relativamente à Senhora do
Montalto da vila de “Pena Cova”.
Refere que o Montalto fica à
vista de Penacova que “também assenta sobre outra serra de grande altura e de
tão escabrosa subida que se sobe para ela por uns caminhos formados em caracol.”
Sobre o mais alto daquela serra vê-se o “Santuário de Nossa Senhora da
Natividade”, a quem “ordinariamente dão o título de Montalto, pelo seu lugar em
que se vê fundada a sua Casa”.
A sua origem é desconhecida: “Da
forma do seu aparecimento não sabem aqueles moradores de Pena Cova dizer nada”e
dos “princípios e origem desta milagrosa Senhora não pude descobrir notícias
certas” – escreve Agostinho de Santa Maria – porque “não se acha nada em
escritura”.
Só umas “tradições” dizem “haver
aparecido sobre aquele monte, servindo-lhe uma pedra de peanha e trono, que
ainda hoje existe e se vê para a parte do Ocidente”. Apareceria a alguns “rústicos
pastorinhos, que apascentavam por aquela serra, ovelhas e cabras, que é o gado
mais próprio que ali se vê ”.
Foram estes que “denunciaram” aos
moradores da Vila o seu ditoso e feliz “encontro”. “Os de
Pena Cova" tê-la-ão ido buscar para a sua Igreja, "para poderem lograr (com menos
trabalho) de sua vista.” Mas como a Senhora havia escolhido aquele monte,
teria ordenado aos "Anjos que a fossem colocar outra vez sobre o trono, que havia
escolhido” naquela serra que “é o símbolo da alteza de suas imensas virtudes e
perfeições”.
Ora, tanta vez se terão repetido as
fugas que se viram obrigados a condescender e construíram “no mais levantado da
serra aquele Santuário”. Nele é venerada e “buscada” com grande devoção desde
“os princípios da sua manifestação” dado que desde logo começou a operar muitos
milagres e “maravilhas”.
“Ainda hoje é a sua casa muito
frequentada pelos "moradores de Pena Cova, que lhe fica em distância de meia
légua, pouco mais ou menos, e principalmente aos Sábados e com mais frequência
nos da Quaresma. A sua festividade faz-se a oito de Setembro, dia de seu
Nascimento e sem dúvida porque escolheram este dia para a festejar, lhe dariam
o título da Natividade, pois na sua manifestação não se soube a invocação que
tinha. Servem a Senhora com muita devoção e no seu dia é grande o concurso, não
só dos moradores de Pena cova, mas de todos os lugares circunvizinhos; e todos
em suas necessidades se vão valer do seu patrocínio. A sua estatura são quatro
palmos e tem em seus braços o Menino Jesus.”
E continua Frei Agostinho de
Santa Maria: “Tem sempre esta soberana
Senhora Ermitões muito devotos que cuidavam do aceio e limpeza da Casa e Altar
e ao presente lhe assiste um que é tido em conta de homem virtuoso”.
"Histórias assim mesmo"...como diria, na Antena 1, Mafalda Lopes da Costa.
David Almeida