OPINIÃO | Serra de Brasfemes - Vamos salvar os Moinhos?
Já muito se escreveu
sobre a importância da panificação para o desenvolvimento económico e social
das comunidades locais. Como é do conhecimento dos estudiosos, foi na Idade
Média que se operou a difusão dos engenhos de moagem, como azenhas e moinhos.
Relembre-se, por exemplo, o diploma assinado por D. João I, em 1422, a pedido
do Infante D. Pedro, concedendo a Fernando da Fonseca, seu escudeiro e vassalo,
e aos seus sucessores, o monopólio de construção e exploração de todos os
moinhos, de Penacova até Buarcos, recebendo, como contrapartida, 1/3 do que
moessem, 20 anos após a sua entrada em funcionamento.
No planalto da Serra
de Brasfemes, para além da riqueza natural, tem resistido à passagem dos anos,
timidamente, um dos maiores núcleos de moinhos de vento de todo o Município de
Coimbra (9 exemplares, dispostos no sentido S/N), a maioria dos quais em
adiantado estado de ruína (mas não irrecuperáveis).
Trata-se, na verdade,
de um sub-grupo derivado de conjunto bem mais alargado, mas que o tempo levou
consigo. No âmbito do projecto Monografia de Souselas (2013, p.469-470),
procedemos ao inventário dos moinhos outrora existentes na freguesia. Os
resultados do levantamento, baseados em documentos e registos orais, apontaram
para 30 exemplares!! Ou seja: um dos maiores conjuntos de engenhos de moer em
toda a Região Centro, a maior parte dos quais implantados na área Sul/Nascente
da freguesia, ao longo da linha de cumeada da Serra do Ilhastro, que foram
desaparecendo ao longo dos anos fruto da intensa exploração cimenteira.
Em termos
tipológicos, estes engenhos pertenciam na maioria dos casos ao moinho de vento
fixo, de torre de alvenaria com sistema de tracção por meio de rabo e tejadilho
rodando sobre grade.
O declínio da
agricultura e as transformações ocorridas na indústria de moagem levaram à
decadência dos sistemas tradicionais, com repercussões na degradação dos
testemunhos correspondentes aos moinhos e azenhas: a maioria dos casais de mós,
por exemplo, tem desaparecido sem deixar rasto.
Grande parte do
planalto, e da própria Serra de Brasfemes, foi comprado pela Cimpor para futura
exploração cimenteira, como comprovam os vários marcos com as insígnias da
empresa espalhados pelo território. Está assim iminente a destruição de
importante património cultural.
Calamos e
consentimos? Ou lutamos pela salvaguarda, estudo e protecção?
João Pinho -
Historiador