SAÚDE - Hepatite A continua a subir na região



Do início do ano até ontem foram registados sete casos esporádicos de hepatite A na região Centro, um número que é superior ao verificado o longo de todo o ano de 2015 (seis casos) e de 2016 (cinco casos), revelou ontem o Departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde do Centro.

Desde o início da semana que a Direcção-Geral de Saúde tem vindo a dar esclarecimentos sobre um surto epidémico de hepatite A, inicialmente apenas na região de Lisboa, mas depois com casos registados também em Coimbra. Ontem ao fim da tarde, eram já 123 os casos registados a nível nacional, cerca de uma dezena mais do que os conhecidos no dia anterior. Na região Centro em concreto, os casos registados subiram de cinco para sete.

A ARSC revela que os sete doentes identificados na região têm idades compreendidas entre os 25 e os 40 anos, numa média etária de 30 anos, sendo seis homens e apenas uma mulher. Todos estiveram internados, de acordo com uma nota de enviada às redacções.

Graças às boas condições de saneamento básico, à melhoria das condições de habitabilidade e de higiene, Portugal é actualmente um país de baixa endemicidade para o vírus da hepatite A, registando um número muito reduzido de casos por ano. Foram 29 no ano de 2015.

O director-geral de Saúde, Francisco George, explicou já que a actividade epidémica da doença no nosso país, «que tinha sido praticamente eliminada», surge agora, ao que tudo indica, relacionada com práticas sexuais de risco.

A ARSC lembra que «o principal modo de transmissão da hepatite A é por via fecal-oral», sendo o vírus transmitido por «ingestão de alimentos ou água contaminada ou por contacto pessoa-a-pessoa». Assim, «a higiene pessoal, familiar e doméstica, em especial a lavagem das mãos e das zonas genitais são altamente eficazes no controlo da transmissão da doença», sublinha.

De acordo com o Departamento de Saúde Pública da ARSC, «a transmissão associada a práticas sexuais também se tem observado, nomeadamente entre homens que fazem sexo com homens» e adoptam comportamentos de risco como «sexo anónimo com múltiplos parceiros».

Náuseas, urina escura, olhos e pele amarelados, fadiga e falta de apetite são alguns dos sintomas da hepatite A, particularmente nos adultos. Esta doença infecciosa aguda do fí- gado causada pelo vírus da hepatite A pode ser prevenida e tratada.

«Existe tratamento profiláctico e preventivo para a hepatite A, respectivamente com imunoglobulina ou com vacina», refere a ARSC. A vacina apenas deve ser tomada sob prescrição médica, sendo «recomendada a pessoas não vacinadas que tiveram reconhecida exposição recente ao vírus», sublinha.

Vacinas estão esgotadas e o problema não é de agora


É difícil encontrar vacinas contra a hepatite A nas farmácias e o surto que agora afecta o país apenas veio tornar esse facto mais evidente. Isso mesmo verificou o nosso jornal numa breve ronda telefónica a farmácias da cidade, com os farmacêuticos a frisar que as quantidades que pedem aos laboratórios são sempre bastante superiores às que acabam por receber.

Só raramente o cliente leva para casa a vacina no dia em que a vai comprar, são produtos «rateados», diz Nuno Simões, da Farmácia Rainha Santa, revelando que, de uma das marcas existentes no mercado, deixou de receber vacinas há mais de um ano. «Da Vaqta ainda consegui uma embalagem este mês», adiantou.

Paulo Monteiro, da Farmácia São José, repete as dificuldades, que não são de agora e nem se devem ao surto de hepatite A. «As duas vacinas [Havrix e Vaqta] costumam esgotar», referiu, adiantando ter uma «esgotada» e outra a chegar «com muita dificuldade».

A Plural Cooperativa Farmacêutica confirma que um fabricante tem a vacina esgotada, com previsão de entrega apenas para Julho. Já do outro laboratório [da Vaqta] devem chegar à cooperativa sediada em Coimbra 15 unidades na próxima terça-feira, informou.

O Infarmed garantiu ontem que há vacinas suficientes para o surto de hepatite A. Este organismo e a Direcção-Geral da Saúde promovem hoje uma reunião com vários organismos e associações (Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, associa- ção ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero e Grupo de Activistas em Tratamentos) para definir o local e disponibilização de tratamento preventivo da hepatite A.

Andrea Trindade - Diário de Coimbra