MOTOS - Carta obrigatória sim; Inspecção só visando a segurança
Entre quem conduz sobre duas
rodas, não restam dúvidas de que carta de condução de motociclo tem de ser para
todos porque andar de moto não é o mesmo que andar de carro. Os motociclistas
com quem o jornal falou são unânimes e colocam-se ao lado do ministro da
Administração Interna, Eduardo Cabrita, que defende cartas para motos de 125 de
cilindrada em nome da segurança rodoviária. Mas quando a conversa ruma para a
inspecção, o tom de concordância já não é tão claro.
«As pessoas com carta de carro podem conduzir uma mota (de 125 de
cilindrada), mas não têm experiência nenhuma, nunca andaram numa mota e põem-se
à estrada», critica o motociclista Fernando Pombo. Habituado a conduzir uma
mota de grande turismo, a Fernando Pombo não restam dúvidas de que se há mais
acidentes envolvendo motos, tal também se deve à falta a obrigatoriedade de
carta de condução entre as 125 o que, resumindo, se traduz em «falta de formação». «Conduzir uma moto tem regras de condução,
não é como conduzir um carro», garante. Leandro Gonçalves apressa-se, pelos
exemplos práticos, a demonstrar as diferenças: «ocupamos um quatro da via em relação ao automóvel, passamos
despercebidos e temos uma condução muito mais preventiva do que os
automobilistas». Outro motociclista, Ricardo Fonseca, dá outra achega às
diferenças entre os dois tipos de condução: «o condutor de um carro é mais desatento e não tem a percepção da
velocidade de uma moto».
Resumindo, «uma coisa é formação teórica, outra é a
formação prática. Deve haver aulas de prática de moto», defende o
motociclista João Veloso que, não excluindo outros factores envolvidos,
associados ao excesso de velocidade e ao álcool, acredita que o aumento da
sinistralidade também se deve ao aumento do número de motos na estrada. «Cada família tem uma 125 em casa»,
ironiza.
Sinistralidade
a subir
Entre Janeiro e Novembro de
2017 (Dezembro não está ainda publicado), houve, segundo o relatório da
sinistralidade da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, 8.294 pessoas
vítimas de acidentes com motos e destas 118 perderam a vida, havendo ainda a
registar 552 feridos graves. Comparativamente a 2016, houve mais 1.190 vítimas,
mais 46 mortos e mais 92 feridos graves.
A Comissão Interministerial
para a Segurança Rodoviária, presidida por Eduardo Cabrita, reuniu na
sexta-feira num encontro foi analisado o aumento da sinistralidade rodoviária
em 2017 e neste campo as motos estão negativamente em destaque. O pacote de
medidas para diminuir a sinistralidade prevê, por isso, que quem conduz uma
moto de 125 de cilindrada passe a ser obrigado a tirar a carta de mota, porque
a de automóvel, que até aqui era suficiente, deixará de servir. Ao mesmo tempo,
quem conduz uma mota vai ser obrigado a ir à inspecção de veículos.
É na inspecção – que até já
estava prevista desde 2012, mas nunca avançou - que residem opiniões diferentes
das do Governo. «Há uma disparidade
entre Portugal e a União Europeia», começa por apontar José Santos,
explicando que em quase todos os países europeus é possível legalizar as
alterações às motos (para posterior ida à inspecção), mas em Portugal não. Ora,
questiona Leandro Gonçalves, «porque é
que não hei-de ter uma caveira nos piscas desde que eles cumpram as regras de
segurança?». «Cada um de nós tem um
bocadinho de responsabilidade, não deixamos andar a nossa moto de qualquer
maneira», diz ainda, admitindo que também há motards «desleixados», mas por regra são todos muito cumpridores da
segurança, pelo que inspecção sim, mas apenas se visar a segurança e não a
estética.
Centros
de inspecção equipados há anos
O investimento foi feito há
anos e as linhas de inspecção estão montadas. Falta o principal: luz verde para
iniciar a inspecção de motos A inspecção periódica dos motociclos com
cilindrada superior a 250 centímetros cúbicos está prevista por lei desde 2012,
mas continua sem regulamentação. Esta lei obrigou os centros de inspecção a
adaptarem-se, mas as linhas de inspecção para motos continuam por estrear.
«As linhas estão todas fechadas», conta Hélder Sousa, proprietário
de um centro de inspecção, que desde 2016 tem todo o equipamento operacional
preparado, mas sem uso. «É um
investimento considerável de algumas centenas de milhar de euros», salienta
ainda, ironizando que o que tem no seu centro de inspecção é «um museu». Hélder Sousa garante que ele
e os seus colegas dos outros centros estarão sempre disponíveis para cumprir
com as regras porque «a segurança
rodoviária está primeiro», mas o investimento feito para a inspecção de
motos «nunca será rentável», dado o
baixo número de motociclos a circular em Portugal, ainda que esse seja um valor
a crescer.
Margarida
Alvarinhas – Diário de Coimbra

Sem comentários
Leia as regras:
1 - Os comentários ofensivos não serão publicados.
2 - Os comentários apenas refletem a opinião dos seus autores.