DOUTORAMENTO - Tese sobre Códice do Lorvão levada ao Vaticano
A musicóloga Filipa Taipina defendeu o seu doutoramento no Instituto de Música Sacra, da Cúria Romana, tendo apresentado uma tese sobre o mais antigo livro português que reúne peças da missa, encontrado no Mosteiro do Lorvão, Penacova. O manuscrito, que data do iní- cio do século XIII, é «o mais antigo gradual [livro que reúne as peças da missa] português», disse, à Lusa, Filipa Taipina.
O Mosteiro do Lorvão «foi o primeiro mosteiro cisterciense feminino em Portugal e eu fui a
primeira mulher leiga, no Vaticano, a fazer uma tese nesta área», sublinhou
a musicóloga, considerando que a investigação, de mais de quatro anos, acabou
por ser «um percurso rico de levar
portas fora um sítio pequenino, mas de uma grande importância, em termos
históricos». 
O contacto com o antigo manuscrito surgiu
após ter visto fotografias do mesmo, enviadas por uma arquivista da Torre do
Tombo. «Percebi que era sobre aquilo que
tinha que fazer uma tese», explicou. 
O manuscrito, frisa, «é muito rico, mesmo em comparação com outros da mesma ordem na Europa»,
realçando que, apesar de a Ordem de Cister ter o princípio de ser austera, os
documentos na Península Ibérica não eram muito cumpridores do ascetismo e
assumiam alguma riqueza, «no que
concerne a iluminuras e ornamentações». 
Para a tese, Filipa Taipina analisou não
apenas a música, «mas também o contexto
histórico e litúrgico» do manuscrito, que tem quase 400 páginas. Foi
analisada «a escrita literária, a
escrita musical, o conteúdo musical e ver qual a sua parentela, a que tradição
pertencia», acrescentou. 
No exercício de comparação com outros
manuscritos europeus da mesma época e da mesma ordem, Filipa Taipina
identificou «características
particulares da Península Ibérica». É no tipo de escrita e nas iluminuras
que este manuscrito difere dos demais, sendo que a liturgia acaba por ser
semelhante à encontrada em França. 
«A
liturgia era a forma de unificar o império e foi-se mantendo. No Mosteiro do
Lorvão, no Mosteiro de Alcobaça ou em França cantavam-se as mesmas melodias, em
1200. Isso foi algo que deu uma unidade cultural à Europa», notou. 
O códice vai dar trabalho a Filipa Taipina «para o resto da vida», pois «ainda há muito
para estudar», nomeadamente, do ponto de vista melódico. Além de continuar
o estudo do gradual, a musicóloga pretende, agora, também cantar o códice,
propondo-se fazer concertos em Lorvão, Lisboa e Porto, a partir do manuscrito.
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
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