CIÊNCIA VIVA - Curiosidades sobre o Equinócio do Outono
Cerca das 8h50m, hora de Lisboa, do passado dia 23 de
Setembro, o nosso planeta passou por um dos dois momentos da sua trajectória ao
redor do Sol, em que os raios deste incidem perpendicularmente no equador. Este
momento astronómico é conhecido por equinócio e corresponde ao início da
estação do Outono boreal, no hemisfério norte. Esta prolonga-se por 89,812 dias
até ao próximo Solstício de Inverno que ocorre, este ano, no dia 22 de Dezembro
pelas 04h19m.
A palavra equinócio tem origem nas palavras latinas aequus (igual)
e nox (noite), ou seja, significa noites iguais. Por outras palavras,
e na realidade, equinócio refere-se ao momento em que o dia e a noite têm a
mesma duração, ou seja 12 horas. Isto acontece quando o movimento aparente do
Sol para um observador na Terra, cruza o plano que resulta da projecção do
equador terrestre no horizonte celeste.
Contudo, refira-se que devido ao
fenómeno de refração atmosférica o Sol é visto sempre ligeiramente acima da sua
real posição, e assim no dia do equinócio o dia dura quase 10 minutos mais do
que a noite. De facto, só no dia no dia 26 de Setembro de 2019, é que houve
muito perto de 12 horas de luz solar directa no solo. Nesse dia o disco solar
nasceu às 07h27:26 horas e pôs-se às 19h27:49 horas (em Lisboa), diferindo a
duração do dia e da noite em apenas 23 segundos.
Ao longo de um ano terrestre, o equinócio verifica-se duas
vezes em cada hemisfério: no início do Outono e no início da Primavera. Estas
estações ocorrem inversamente em cada hemisfério: o início do Outono no
hemisfério norte coincide com o início da Primavera no hemisfério sul e
vice-versa.
Para um mesmo hemisfério, no nosso caso, o norte, os dois
equinócios ocorrem exactamente em lados opostos da órbita da Terra à volta do
Sol. Contudo, as datas em que acontecem não dividem o ano em partes iguais! Nem
ocorrem sempre no mesmo dia todos os anos. Mas vamos por partes.
O equinócio de Outono ocorre 186 dias após o equinócio da
Primavera que o precede, e este verifica-se 179,25 dias depois do Outono anterior.
Porquê esta diferença? Porque a orbita da Terra à volta do Sol é elíptica, como
sabemos desde 1609 graças a Kepler, e pelo facto de a Terra se encontrar mais
próxima do Sol (o periélio) nos primeiros dias de Janeiro. Ora acontece que
esta maior proximidade ao Sol, faz com que a velocidade angular da Terra entre
o Outono e a Primavera seja a maior de toda a sua órbita e, tal como é predito
pela 2ª lei de Kepler, ela se mova mais rapidamente em “direcção” ao equinócio
da Primavera do que quando se aproxima do equinócio de Outono, depois de passar
pelo ponto em que o nosso planeta se encontra mais distante do Sol, o afélio,
nos inícios de Julho.
É como se a Terra se espreguiçasse agora ociosamente antes
de entrar para os tempos mais difíceis que agora chegam.
O facto de o período temporal médio entre o início de dois
equinócios de Outono (ou da Primavera) ser 365,25 dias, ou seja, cerca de 6
horas maior do que um ano comum (365 dias), faz com que o Outono de um dado ano
se inicie 6 horas mais tarde do que o Outono do ano comum anterior (na
realidade a diferença é mais próxima de 5h55m). Ao fim de 3 anos, verifica-se
um adiantamento de cerca de 18 horas. Contudo, o acerto no calendário
introduzido pelo ano bissexto, produz uma correcção aparente de 6 horas. Por
esta e outras razões atrás indicadas, o dia em que ocorre o equinócio de Outono
oscila de dois em dois anos entre os dias 22 e 23 de Setembro.
A partir do início do Outono, as noites serão
progressivamente maiores do que o dia até ao início do Inverno. A progressiva
diminuição do período de tempo em que o Sol está sobre o horizonte, irá fazer
com que os seres vivos se ajustem para suportar temperaturas e intensidades
luminosas cada vez menores. As árvores de folha caduca e outras plantas
desinvestem das suas folhas. Arrecadam o seu arsenal fotossintético e, com a
remoção das clorofilas que as vestiram de verde na primavera e no verão,
sobressaem agora outros pigmentos de cores brilhantes avermelhadas,
alaranjadas, acastanhadas, amareladas, que pincelam a paisagem com uma sinfonia
outonal deslumbrante.
De facto, os equinócios são momentos de pura poesia
astronómica a que a vida se adaptou com as suas melhores variações melódicas.
António Piedade
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