OPINIÃO - A Casa de António José de Almeida
Espero que em breve vá sair a público o livro de David Almeida, já concluído, intitulado Penacova e a República na Imprensa Regional, para que acabei de escrever o Prefácio. Fica assim esta obra a assinalar o Centenário da República. Só falta coroá-lo com a compra pelo Município, e utilização conveniente, da casa onde nasceu António José de Almeida, em Vale da Vinha (S. Pedro de Alva ou do Alva, como consideraria mais correcto dizer-se) que, para além da casa-natal de Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, será (segundo julgo) a única de um presidente da República de 1910 que se mantém de pé com a sua estrutura praticamente original. A de Sidónio Pais, em Caminha, está em ruínas e parcialmente estava também a de Manuel Arriaga, na Horta (ilha do Faial), grande amigo de António José de Almeida e a que ele deu posse na reitoria da Universidade de Coimbra, antes de ser eleito Presidente da República. Graças à acção do Governo Regional dos Açores, mas sobretudo a um movimento de cidadania, está em fase de reconstrução e em breve vai ser inaugurada como Casa-Memória.
Sei, pelas notícias vindas a público, que a Câmara Municipal de Penacova vai fazer uma oferta aos proprietários da casa de António José de Almeida que, com certeza, estão sensibilizados — como o tem mostrado o seu neto, Dr. António José de Almeida Abreu — para homenagear a memória do seu antepassado, que, a meu ver, é a personalidade mais representativa da Primeira República. Não vejo, pois, outra hipótese mais interessante do que a casa ser adquirida pelo Município, para que se transforme num museu e quiçá num centro de estudos, talvez mesmo agregando um espaço de lazer, com turismo de habitação. A casa de Teixeira de Pascoes, próximo de Amarante, continua a ser residência de seus familiares, mas conseguiu ser também um espaço hoteleiro, sobretudo para quem quer visitar a memória do grande escritor do movimento cultural da Renascença Portuguesa. Oxalá isso pudesse, ao menos, ter sucedido com o belo palacete de Aristides de Sousa Mendes, há tanto tempo em ruínas em Cabanas de Viriato.
É certo que se poderia criar em Penacova uma outra casa que tivesse como patrono António José de Almeida, o único Presidente da Primeira República a cumprir o mandato completo, de 1919 a 1923, tal como, de forma semelhante, sucedeu em Vila Nova de Famalicão com Bernardino Machado, cuja casa-museu não foi a residência onde nasceu e ou que habitou. Mas seria, sem dúvida, mais significativo que um museu desse tipo pudesse instalar-se na própria casa onde nasceu António José. Assinalaria não tanto um regime que durou apenas dezasseis anos, mas os seus ideais mais significativos, a respublica, o amor à “coisa pública”, na qual todos nos devíamos rever, esquecendo interesses pessoais, de classe, de grupo ou de partido, ou, pelo menos, não os sobrepondo aos interesses nacionais e regionais.
Penacova e a sua região, nas margens do Mondego e do Alva, que o pai de António José de Almeida, José António de Almeida, tinha de atravessar, talvez diariamente, quando foi presidente da Câmara, é um dádiva da natureza, feita pelos homens ao longo dos séculos. Há que a transformar agora numa terra de memória histórica e de cultura viva, enraizada no passado mas virada para o presente e para o futuro.
Luís Reis Torgal