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RECONHECIMENTO - Sobreiro, símbolo de Portugal, a Nossa prenda de Natal*


O Sobreiro - Pintura do Rei D. Carlos (1905)
Quercus suber L. (sobreiro) é uma árvore mediterrânica com origem na Era Terciária (entre o período Oligoceno e Mioceno), e, segundo alguns autores, existe desde a formação da bacia do Mediterrâneo, há mais de 60 milhões de anos. Pertence à Ordem Fagales, Família Fagaceae e Género Quercus. O género das quercíneas possui mais de 600 espécies distintas distribuídas por todo o mundo, entre elas o sobreiro, uma das quercíneas mais jovens. Quercus suber é endémico do sudoeste da Europa – Portugal, sul de Espanha, sul de França, Itália e noroeste da antiga Jugoslávia – e norte de África – Marrocos, Argélia e Tunísia.

Pensa-se que o centro primário de difusão do sobreiro tenha sido a região actualmente coberta pelo mar Tirreno, e que a sua migração se tenha feito através da cordilheira, que no período Mioceno unia as regiões desde o centro primário até à Península Ibérica, agora submersas pelo mar Egeu. Contudo, não existem ainda dados conclusivos relativamente ao centro de difusão da árvore. A única certeza que existe é que, independentemente do local inicial de origem, se estabeleceram centros genéticos importantes no Sudoeste da Península Ibérica – área actual de sobreiro mais extensa. Em Portugal, foram encontrados fósseis do Plioceno no Alentejo.

O sobreiro é uma espécie que apresenta muitos polimorfismos, que se distinguem por certas particularidades das cúpulas, das folhas e dos frutos. Possui uma raiz aprumada perfuradora no início da germinação, que assegura a fixação da árvore, e que se completa com o desenvolvimento de raízes laterais robustas, que por sua vez se ramificam e dão origem às radículas. As radículas desempenham um papel activo muito importante no crescimento da árvore, o que explica a regeneração natural do sobreiro em ambientes hostis. As folhas persistem em geral dois anos, são pequenas, recortadas e com cutícula a revestir a epiderme. Floresce, no nosso país, entre os meses de Abril e Junho, podendo prolongar-se por Agosto e Setembro. A maior diferença em relação aos outros carvalhos é a presença de um tecido suberoso – a cortiça – a envolver o tronco e os ramos. A cortiça é constituída essencialmente por suberina, mas possui também celulose, taninos, lenhina, ceras e outros polissacáridos, que lhe conferem propriedades químicas, físicas e mecânicas únicas. Por este motivo, e por ser um tecido com capacidade regenerativa, a cortiça tem extrema importância económica, e é utilizada em diversos sectores da indústria, em múltiplas aplicações.

A árvore do sobreiro começa o seu desenvolvimento alimentando-se das reservas nutritivas da semente (bolota), que fornecem energia suficiente para iniciar a formação da raiz e das primeiras folhas. Depois de fixadas ao solo, as raízes do sobreiro, em especial as radículas, absorvem os nutrientes minerais e a água, necessários ao crescimento. O sobreiro cresce simultaneamente em dois sentidos: vertical e horizontal, resultando uma árvore adulta muito robusta, que pode atingir entre 10 e 20m de altura. Apesar das folhas persistentes, o sobreiro não cresce durante todo o ano de modo uniforme. No Inverno, devido ao frio, a árvore entra num período de latência, durante o qual não produz lenho e cortiça, reduzindo ao mínimo toda a actividade vegetativa. Na Primavera, retoma a actividade em pleno, que se prolonga até ao Verão. No fim do Verão, princípio de Outono, quando a humidade do solo atinge os seus valores mais baixos, ocorre de novo uma redução na actividade. No Outono propriamente dito, a actividade do sobreiro mantém-se mais baixa, devido à diminuição da temperatura, até chegar novamente o Inverno. À medida que a árvore adulta se desenvolve, diminui a formação de lenho e de cortiça, continuando o crescimento de ramos e folhas, o que conduz ao aumento desproporcionado entre a copa e a raiz. O sistema radicular, com o passar dos anos, começa a não ter capacidade para alimentar uma árvore tão robusta, pois os solos ocupados pelo sobreiro são em geral muito pobres. Assim, quando as raízes deixam de ter capacidade para absorver a quantidade de nutrientes mínima, necessária para assegurar o metabolismo vital, começam a manifestar-se alguns sintomas de senescência, como o afrouxamento do crescimento do lenho, os ramos sucessivamente mais curtos, amarelados e secos, o aparecimento de pragas e de doenças. O processo de envelhecimento poderá ser mais ou menos longo, dependendo das condições ambientais.

O sobreiro é uma espécie muito resistente, com adaptações fisiológicas xerofíticas típicas. Apesar de ser apontada como uma espécie menos resistente a situações de stress hídrico do que a azinheira, Oliveira constatou que as árvores de sobreiro apresentam uma disponibilidade hídrica elevada mesmo durante o período de seca estival (potencial hídrico de base > -0,7 MPa). A mesma autora refere ainda que os recursos hídricos das árvores deverão estar relacionados com o seu sistema radicular profundo e extenso, capaz de obter água a partir das zonas mais profundas do solo e afastadas do tronco, respectivamente (apenas as temperaturas baixas de Inverno parecem limitar a capacidade de absorção e de transporte dos nutrientes até à raiz).

Relativamente às condições ambientais em que se desenvolve, o sobreiro é uma árvore muito pouco exigente.

“Nas condições tão frequentemente ingratas de solo e de clima do nosso País, o sobreiro é uma árvore preciosa. Nenhuma outra espécie florestal, que se lhe avantage ou pelo menos iguale em valimento, consegue vegetar em terras tão secas e tão pobres e em condições de clima tão adversas por vezes à vegetação lenhosa. Nenhuma árvore dá mais exigindo tão pouco. (…) Extensões enormes, do Norte ao Sul de Portugal, e até agora pouco mais do que improdutivas, podem ser valorizadas pela subericultura. Confrange encontrar ainda, especialmente no Sul do Alentejo, áreas extensíssimas nos terrenos pobres do carbónico submetidas à cultura cerealífera mais primitiva, com poisios de oito e dez anos, e onde o sobreiro, nascido pelos acasos da disseminação natural, é exterminado pela relha da charrua ou destruído pelos gados. Terrenos pobríssimos das nossas serras, mas com aptidões florestais; charnecas de vegetação degradada que apenas proporcionam mesquinha pastagem; terras miseráveis de centeio em alcantilados serros, hoje fácil presa à erosão, podem ser utilmente revestidas pelo sobreiro.” - in Subericultura, Natividade, J.V. (1950) .





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