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OPINIÃO - Aí vai a História...!

Por esta vez irão pela janela fora dois feriados. Exactamente um que comemorava a independência de Portugal e outro que simbolizava a República.

O "Governo de Portugal", com este acto, apenas representou, metaforicamente e ao contrário, o que um feriado significa ou deixa de significar. Um feriado cívico é um símbolo da História e matá-lo representa um acto simbólico de destruir essa História. E essa decisão diz bem de um Governo que não é independente no seio de uma Europa e de um Mundo regidos pelas leis do dinheiro.Assim, não será difícil extinguir o feriado da Restauração, de 1 de Dezembro, que mais do que representar o fim da Monarquia dual de Espanha e Portugal em 1640, representava (ou devia representar) a tentativa de o país conquistar a sua verdadeira independência e identidade, tal como havia sido pensada pelos intelectuais e políticos idealistas do século XIX, como Herculano ou José Estêvão, que abriram a via de celebração desse dia. Por outro lado, reflectindo a crise da República ou da Respublica, da "coisa pública" - tudo se quer privatizar, neste mundo do dinheiro -, e a doença da Democracia, não será difícil terminar com o feriado do 5 de Outubro, que, mais do que uma mudança de regime, significou (ou devia significar) uma tentativa, mais uma, de reconstituição do país, com uma nova bandeira e um novo hino, símbolos da Pátria e dos ideais da Humanidade.

No liberal Reino Unido, agora neoliberal (com a carga negativa que tal comporta), para falar em feriados utiliza-se a expressão Holidays bank, pois os feriados são sobretudo os dias em que não se fazem negócios e os bancos estão fechados. É esse o seu carácter simbólico predominante, de uma cultura e de uma civilização históricas por natureza, mas que criaram o seu Estado e o seu Império pragmática e orgulhosamente. Em Portugal será cada vez mais assim, mas sem orgulho, imitando o mundo prático e mercantilista, mas sem a força da História. Afinal sem a força de símbolos que são nossos e que fomos construindo, sem a força de símbolos nacionais e universais, os símbolos da independência, da identidade e da democracia.

Como no filme de 2007, de Paul Haggis, No Vale das Sombras (na versão portuguesa) - mais um contra a intervenção americana na guerra do Iraque - estamos quase a ter de hastear a nossa bandeira ao contrário, em sinal de que a Pátria e a nossa Democracia estão em perigo. Tudo em nome da produtividade e de uma dívida para a qual a maioria dos portugueses não contribuiu. Poderemos e deveremos, em nome destas "coisas" com que não nos identificamos, deixar que, 
irresponsavelmente, atirem fora a História, que é de todos nós