Opinião - Mais Vale Prevenir *
O tempo adverso que se tem feito sentir nos
últimos tempos sem ser, apesar de tudo, uma exceção meteorológica em si mesmo,
lembrou-nos que o nosso território apresenta inúmeras vulnerabilidades, e se
algumas das ocorrências foram provocadas apenas e só pelo impacto das condições
meteorológicas, outras, e certamente a sua maioria, tiveram como origem
associada a intervenção humana.
As
inundações, os aluimentos de terras, o corte de estradas com todas as suas
implicações sociais e económicas, aqui e ali situações mais graves de
desabamento de habitações, são, em regra, provocadas pela má gestão do
território, pela falta de planeamento e pela displicência quer de muitos
responsáveis, quer do cidadão comum, que habitualmente pensa que qualquer coisa
de mau só acontece ao vizinho.
Não
limpamos os cursos das águas naturais e os escoamentos de águas pluviais, não
nos preocupamos com a obstrução das ribeiras, com o vazar de aterros onde quer
que seja, construímos em terrenos aluviões e em cima de aterros depositados. Ao
mais pequeno sinal de chuva já estamos todos a rezar a Santa Bárbara.
Chega
a primavera, esse período de tempo agradável, bonito e florido, essa fronteira
fina e subtil, mas cada vez mais ténue para aliviar tensões, e tudo parece
esquecer.
Depressa
estamos no verão e aquilo que poderia ser um tempo de descanso e descompressão
torna-se num emaranhado de problemas, de medos e angústias, agora com os
incêndios florestais a invadir com maior frequência o espaço urbano e a
lembrar-nos, que mais uma vez não fizemos o trabalho de casa.
Nas
atuais circunstâncias, e apesar da velocidade do tempo em que vivemos,
precisamos de refletir sobre o nosso papel enquanto agentes ativos nesta
sociedade em permanente mutação.
O
planeamento futuro e as ações humanas, quer sejam ao nível macro, quer ao nível
individual, terão necessariamente que se adaptar, se queremos evitar danos e
perdas irreparáveis.
Assim,
a grande tarefa que temos pela frente é uma significativa mudança de
mentalidades:
Mais
responsabilidade, menos lamentações.
Prevenir
mais e remediar menos.
A
um nível mais lato, a questão das alterações climáticas é hoje incontornável e
o aumento da frequência de fenómenos mais ou menos extremos é uma realidade. As
consequências destas alterações têm sido objeto de muitos estudos ao longo dos
anos e, mesmo de uma forma empírica, todos nós já nos habituámos a dizer e a
percecionar que nada é como antes.
Tal
como se refere no Relatório Stern, (Stern, 2006 ) nome do seu autor Sir
Nicholas Stern, economista Britânico do banco mundial, os benefícios da ação
rigorosa e antecipada ultrapassam de longe os custos económicos de não agir.
Desta forma, as medidas de prevenção, através da adaptação a fenómenos
climáticos, poderão evitar desastres humanos e materiais graves, e mesmo vir a
ter um impacto positivo na economia e na qualidade de vida das populações.
Uma
outra conclusão a que se chega neste relatório é que com um investimento de
apenas 1% do PIB Mundial se pode evitar a perda de 20% do mesmo PIB num prazo
de simulação de 50 anos.
*Artigo de opinião originalmente publicado na edição do Diário as Beiras de 10.04.2013
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