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OPINIÃO - O estacionamento junto aos Hospitais da Universidade de Coimbra

Todos nos apercebemos de que vivemos num País onde as obras que se vão realizando começam a ser idealizadas e projectadas vinte ou trinta anos antes dos empreiteiros começarem a erguê-la no terreno.
Isso, a meu ver, deve-se às vá­rias mudanças de governos que, ao agarrarem as rédeas do poder, colocam de lado ou no fundo das gavetas os projectos idealizados pelo governo antecessor, só porque não é de sua autoria e assim se desperdiçam rios de dinheiro e tempo, contribuindo para o estado degradante em que o país se encontra. Sim, porque não é um pequeno proprietário como eu, que ao fazer a doação de seus bens aos filhos e agora as Finanças apresentaram-me uma dolorosa de onze mil e tal euros referentes ao imposto de selo para pagar. É caso para dizer, como diz o brasileiro… «estão mexendo no meu bolso».

Quando as obras são idealizadas e projectadas só foi tomada em conta as necessidades que os números das estatísticas do momento previam. Por esse motivo, dada a crescente expansão noutros domínios, com especial relevo para fluxo automóvel, quando essas obras são acabadas e colocadas ao serviço do utente pagador já estão desactualizadas e a rebentar pelas costuras. É assim na construção de estradas, hospitais, etc., etc.

À grande Marquês de Pombal que fazes cá tanta falta, pois já há mais de duzentos e cinquenta anos, quando se andava em carroças de burros, vias mais do que a miopia de agora.

Depois desta observação, porém, já não digo quanto à construção de escolas, pois neste campo a redução da natalidade, devido à crise que se instalou neste País, a par do planeamento familiar, nos tempos que correm e com tantos contraceptivos à disposição para evitar a gravidez e ainda a legalidade de matar seres indefesos depois de concebidos, qualquer casal deve sentir-se consciente ao colocar mais um ser humano neste mundo cão.

A continuar assim, não tardará quem não governe, porque também não haverá quem governar. Por este motivo (infelizmente), junto às escolas ainda vai ha­vendo onde estacionar, excepção feita também nas imediações da Universidade de Coimbra, mas aqui, talvez porque se trata da irreverência dos estudantes, futuros doutores de amanhã, os polícias são mais condescendentes e fecham os olhos a qualquer carro menos bem arrumado.

Agora junto do Hospital Central de Coimbra, especialmente depois de ali concentrarem todos os serviços até há pouco divididos noutros hospitais, é que se verifica um autêntico caos no estacionamento dos carros.

Recentemente desloquei-me àquele Centro Hospitalar, entrando, como é normal, pela entrada principal - Praceta Prof. Mota Pinto – em hora de ponta, cerca das nove da manhã e depois de ter andado duas voltas a todo o edificado Centro Hospitalar, sempre com uma fila compacta de carros estacionados ao longo da via, entrando em todos os poucos acanhados estacionamentos, saindo sempre frustrado por não encontrar meia dúzia de metros onde poder encostar. Encontrando vários polícias, que ao gesto de lhe abrir as mãos num sentido de frustração, se limitavam a fazer-me um sinal com o braço rotativamente, para circular mais depressa.

Calculando já ter gasto nessas movimentações mais combustível do que teria gasto desde a minha terra até lá, resolvi sair dessa área e ir virado à Avenida Afonso Romão. Cheguei à rotunda, virei à direita e continuei a ver o mesmo cenário de carros e mais carros em cima do que havia de ser passeio, mas que no momento é ainda de terra toda escavaçada pelos rodados dos automóveis para subir um lancil de altura considerável. Também tentei essa proeza, mas o carro bateu por baixo e antes de ficar com as rodas no ar, a patinar, desisti. Continuando a subir fui à rotunda de cima e virei para baixo, no sentido de me aproximar o mais possível da entrada da área do hospital, dado que tenho ainda alguma dificuldade em andar a pé, devido a um AVC que sofri há poucos meses. Antes da rotunda que se situa em frente da entrada da área do hospital, na Avenida Afonso Romão, voltei a tentar subir ao que devia ser passeio para os peões e novamente o mesmo resultado. O carro ficou empoleirado no lancil, já bem esmorrado, a dar sinais de que muitos outros já tinham passado pelo mesmo pesadelo.

Contornei a rotunda e segui virado ao Hospital Pediátrico e a fila de carros estacionados continuava compacta, todos com as duas rodas do lado direito em cima do passeio (onde raramente passa alguém a pé), compreensivelmente para não ocuparem tanto a faixa de rodagem. Até que, por infelicidade, encontrei um lugar vago e estacionei, mas deixando espaço para a passagem de peões, nem que fossem a par e de braço dado. Como ia só para me ser colocado o Holter, prevendo demorar pouco tempo, arrisquei a deixar ali a viatura. Demorei pouco mais de meia hora, a maior parte gasto no percurso e quando cheguei de novo ao carro, um «zeloso» Polícia Municipal, que se calhar nunca se viu em tais dificuldades para estacionar junto ao Hospital, des­conhecendo também se dentro dessa área existirá algum espaço para suas excelências, mesmo quando trajados à civil, me tinha colocado o talão da multa, seguro na escova do limpa pára-brisas, bem assim a mais de trinta ou quarenta carros que se encontravam nas mesmas condições.

Como é natural, fiquei triste e revoltado pelo «zelo exagerado do agente da autoridade», do qual a minha educação me leva a omitir o nome, pois se o fizesse, certamente que não seria pela identificação que ele deixou no talão.

Posto isto, na qualidade de simples cidadão, utente e contribuinte, com orgulho de nada dever ao Estado, mas que tantas vezes, por minha infelicidade, tenho que frequentar os serviços daquele hospital, sendo apenas um de tantos milhares que se vêem nas minhas condições, ve­nho por este meio pedir a quem de direito, Director do Hospital; Presidente da Câmara de Coimbra; Ministro da Saúde, etc., que tomam as devidas providências para a resolução deste caso incomodativo e vergonhoso, causador de agravamentos das doenças do sistema nervoso ou neurológico, criando estacionamentos em silos onde o utente possa deixar o seu carro, mesmo pagando, pois sempre ficará mais barato do que pagar a quem à caça da multa sem dó nem piedade e naquele dia ela foi avultada, a avaliar pela quantidade de carros multados.

Ainda me contentava se tivesse a certeza que o dinheiro que vou desembolsar se destinava à resolução deste problema, mas duvido. Até me podem dizer que eles estão a cumprir a Lei, mas essa lei terá sido feita por quem já alguma vez se viu nestas dificuldades junto a um Hospital que começou a funcionar há cerca de vinte anos, sem prever o fluxo de viaturas que neste momento para ali se dirigem?

Também alguém me poderá dizer que não vá com o carro lá para dentro, deixando-o cá fora. Só gostava que esses «zelosos agentes», num sentido humanitário, me informassem onde, tendo em conta a minha dificuldade em me deslocar a pé, em vez de andarem a praticar o que a sua índole perversa lhe dará mais prazer: caça à multa. E olhem que naquela zona, todos os dias, deve ser um local para obter boa receita.

Sentir-me-ia muito honrado se este meu humilde texto tivesse a força nem que fosse só como de uma formiga para a resolução desta caso caótico.

Por Alfredo Fonseca

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