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LAMPREIA é (um)a marca que Penacova continua a promover

Em entrevista ao DIÁRIO AS BEIRAS, o presidente da Câmara de Penacova, Humberto Oliveira, fala de apostas para cativar população e visitantes, sem esquecer os problemas que preocupam o executivo e que continuam em cima da mesa neste segundo mandato




O Festival da Lampreia vai na XVII edição. Quer dizer que tem sabido segurar-se perante as dificuldades.

Este é o evento anual, juntamente com as festas do municípios e a feira do mel e do campo, que já começa a ter alguma dinâmica, que se assume cada vez mais como o grande momento de promoção do território. E este facto acontece, fundamentalmente, por dois motivos: por um lado, a tipicidade do produto que, sendo sazonal, lhe dá um caráter especial. Só se come lampreia entre Janeiro e abril. Depois, porque conseguimos genericamente ter uma qualidade do produto que não é fácil encontrar, nomeadamente, ao nível da confeção.

Porque é importante manter este tipo de eventos?

Antes de mais, porque são momentos que marcam a promoção do território. Isto é, eu poderei fazer uma divulgação do território durante todo o ano e, para isso, contamos com a comunicação social que, diga-se tem feito um trabalho notável enquanto parceiro. Dizer que Penacova tem as melhores paisagens, os melhores monumentos, que tem Lorvão, que tem o Mondego. Mas é fundamental oferecer aos visitantes um momento marcante e diferenciador. E a lampreia ainda é aquilo que nos diferencia e uma marca que é nossa.

A marca estará na confeção… porque a lampreia já não será só do Mondego!

Sem dúvida que a diferença está na confeção. Mas, mesmo assim, estou certo que há muita lampreia que se come em Penacova que é do rio Mondego.

Muito se falou sobre a escada de peixe, em Coimbra. Afinal, a obra ajudou ou não a aumentar a lampreia em Penacova?

Reconheço que se tratou de um investimento muito significativo e que já deu frutos. No ano passado, já chegou muita lampreia a Penacova. Também é verdade que beneficiámos do facto de ter sido um ano de elevada pluviosidade, tal como o deste ano, mas a verdade é que se viu muita lampreia nas águas de Penacova.

Não sendo fácil, é possível fazer-se um balanço dos visitantes na edição passada?

Os dados oficiais que temos, é que recebemos cerca de 3.000 a 3.500 pessoas durante os três dias do Festival da Lampreia. É certo que alguns não comeram lampreia, mas acompanham e voltam sempre até pelo convívio que isso proporciona. Convém lembrar que não há lampreia só neste fim de semana. Os restaurantes do concelho servem lampreia entre Janeiro e abril. Mas, neste fim de semana, há condições especiais patrocinadas pelos restaurantes, no que à lampreia diz respeito, e pelo município quando se trata da doçaria.

É positiva a adesão dos restaurantes?

É positiva, até porque este é o momento que eles privilegiam. Para além da visibilidade, contribui para cativar clientes. Temos que reconhecer que é um prato que não é barato e esta altura permite uma capacidade de gestão de margens que não existe no resto do ano. Mas também sabemos que se trata de um prato que as pessoas pagam por gosto. Pelo prato e pelo convívio. É sem dúvida, um negócio que interessa às duas partes.

Sempre que se fala em lampreia reconhece a vontade de integrar Penacova numa rota da gastronomia regional ou nacional. Isso já acontece?

De facto, a lampreia é um prato que não é só de Penacova e que tem a ver com todas as populações ribeirinhas.
Nos últimos três anos, a Região de Turismo do Centro sempre procurou, de alguma forma, articular e juntar os municípios que têm a lampreia na sua gastronomia, como é o caso de Murtosa, Penacova, Montemor, Figueira e Sever do Vouga, juntando também o sável. Neste momento, com a entrada de novos territórios, alargámos a oferta, nomeadamente, na questão gastronómica. No que à lampreia diz respeito, entraram os municípios do Tejo e Médio Tejo. Penacova pretenderá estar sempre integrada nessa lógica de visibilidade e promoção do produto em si. Obviamente que se eu for provar lampreia a Mação ou à Murtosa e gostar, um dia posso ter a curiosidade de ir comer lampreia a Penacova.

Neste trabalho de promoção, considera que a Comunidade Intermunicipal Região de Coimbra também terá um papel a desempenhar?

Sem dúvida que, quando se fala em território, tem que haver uma lógica de união entre municípios e não cada um por si só. Cada vez mais temos que trabalhar em rede e, por isso, entendo que a Comunidade Intermunicipal Região de Coimbra, que tem mais dois municípios onde a lampreia também faz parte da sua história gastronómica, que é Figueira e Montemor, tem que começar a procurar plataformas conjuntas de promoção. De facto, a gastronomia tem esta capacidade e, seja a lampreia ou outro prato tradicional, ela permite chamar pessoas de todo o lado.

Mas se um território quer mais pessoas, tem que ter respostas aos mais diversos níveis, como atividades alternativas, alojamento, etc. Penacova tem?

Estamos a tentar, sempre, melhorar as respostas a esses níveis. Há alojamento em Penacova, embora haja momentos de maior afluência em que ele não é suficiente. Por isso, o hotel é uma questão que está sempre em cima da mesa. Neste momento, temos alguém com o contrato de concessão assinado e a fazer algumas obras de reabilitação. Vamos verificar a capacidade ou não deste promotor poder levar avante um projeto que é muito importante para o concelho. Até porque estamos a fazer alguns projetos que exigem capacidade hoteleira para segurar as pessoas. Sejam as melhorias na pista de pesca, os percursos pedestres que estamos a construir, estand alguns já efetuados e a serem homologados e outros em projeto com candidaturas aprovadas, sejam as praias fluviais e a reabilitação das margens. Por isso já fiz sentir, à Comunidade Intermunicipal que, no próximo Quadro Comunitário de Apoio, teremos de privilegiar tudo o que seja melhoria e reabilitação dos nosso rios, nomeadamente o Alva e o Mondego.

Mas também temos outras infraestruturas, como uma pista de kartcross que estava abandonada e que estamos a reabilitar. São apenas alguns dos projetos que temos em execução e que podem chamar pessoas a Penacova. Por tudo isto, é importante que a capacidade hoteleira acompanhe este esforço. Daí que o hotel seja uma questão fundamental.

Qual é a responsabilidade do município neste projeto?

O município é o segundo  maior acionista do projeto. Mas, mesmo que o não fosse, a câmara tem obrigação de ajudar a desenvolver um projeto que é fundamental para Penacova. Seja aquele ou um outro qualquer. Mas, é claro, que tendo este hotel naquele local excecional e único, que apesar de ter lacunas para hotel, tem outras potencialidades que são inigualáveis em poucos locais do país, não vamos estar agora a pensar em construir um hotel noutro lugar do concelho. Por isso, ainda não desisti.

A lampreia é um sucesso, mas não apaga os problemas. Quais são as suas preocupações?

Neste momento, e sem querer ser repetitivo, cada vez mais temos que olhar para as pessoas, pois sem elas o território não faz sentido. E não podemos esquecer que quase todo o país, incluindo Penacova, continua a perder população, seja pelo saldo natural, seja pela emigração ou pela migração. Nós perdemos mais de mil pessoas entre 2001 e 2011 e continuamos a perder. Por isso, as pessoas têm que estar sempre primeiro e temos que procurar formas de as agarrar.

E que formas são essas?

Sempre pelo lado do emprego. Embora para Penacova, tendo em conta a proximidade a Coimbra, o emprego possa não ser a razão única, teremos que arranjar motivos que façam pessoas viver em Penacova. Estamos, por exemplo, a pensar nos programas de apoio à natalidade, que embora sendo simbólicos, pretendem incentivar as pessoas. Temos na Educação um projeto que pode ser estratégico para o concelho. Estamos já a preparar a candidatura ao Ministério de Educação de um projeto para uma Escola de Artes que acompanhe o percurso escolar dos nossos jovens. Queremos criar uma alternativa para os alunos que, em determinada fase da vida, vão para Coimbra estudar, muitas vezes, por causa da música no conservatório ou outras áreas que não encontram aqui no concelho.

Mas emprego faz-se com empresas. O que tem Penacova para oferecer?

Sem dúvida que só criamos emprego se tivermos empresas. Nesse campo, o município ainda tem alguma capacidade de instalação nos parques industriais, assim haja interessados. Depois, se queremos cativar turistas,
temos que investir em infraestruturas que os possam surpreender. E todos temos consciência que o Turismo também cria emprego.

A regeneração urbana, que tem estado na ordem do dia, continua a ser aposta neste mandato?

Sem dúvida que a regeneração dos nosso núcleos urbanos é uma preocupação que já começou no anterior mandato e que continua. Em Penacova, no espaço público ainda há um ou dois aspetos que podem ser melhorados, mas está razoável. No espaço privado ainda podemos tentar intervir, seja através de procura de financiamento em instrumentos que estejam disponíveis no mercado, seja através até do apoio do próprio município. Mas temos o Lorvão onde tanto o espaço público como o privado está bastante degradado.

E, embora a regeneração urbana seja algo que não esteja diretamente referida nos fundos comunitários, penso que haverá aberturas nesse sentido e que a própria CCDR está atenta e que vai conseguir alocar meios através dos fundos que são disponibilizados aos PO Regionais. Temos, ainda, o núcleo urbano de S. Pedro de Alva, embora sem a mesma necessidade de intervenção.

E em relação às infraestruturas básicas, não esconde que o saneamento continua a ser uma prioridade. O que falta?

Falta quase tudo e, por isso, é para nós a preocupação maior. Sendo um setor fundamental para a qualidade
de vida das populações, temos uma taxa de cobertura abaixo dos 50 por cento, o que para os dias de hoje é manifestamente pouco. Tendo em conta que o nosso território é relativamente lastro e povoado por todos os sítios, admito que tenhamos que ficar abaixo da média nacional fixada pela união Europeia. Mas é um setor onde vamos continuar a investir. | Jornalista Eduarda Macário