MINI HÍDRICA afecta tudo o que é vida no Mondego
Plataforma Mondego Vivo identificou
falhas no Estudo de Impacte Ambiental e apresentou vários pareceres técnicos
contrários à construção
Terminou ontem a fase de discussão pública
da Avaliação de Impacte Ambiental da construção da mini-hídrica do Mondego (tecnicamente
designada de Aproveitamento Hidroeléctrico de Penacova e Poiares (AHPP) no
Mondego, a jusante do Caneiro. Findou o prazo mas não a discussão e muito menos
os argumentos que contestam a construção, com a Plataforma Mondego Vivo a revelar
ter enviado 10 pareceres, na sua maioria técnicos, de discordância.
Se o próprio Estudo de Impacte Ambiental
(EIA) que esteve em juízo público «desaconselha vivamente a construção», ao
identificar efeitos negativos «muito significativos, não minimizáveis e
irreversíveis », a análise do documento permitiu à Plataforma identificar lacunas
e ausência de reflexão sobre problemas que o “paredão” no rio irá causar.
Em conferência de imprensa, a Mondego
Vivo, que agrega três câmaras municipais (Coimbra, Penacova e Poiares, quatro
freguesias (Torres do Mondego, Arrifana, Lorvão e Penacova), empresas, a
confraria da Lampreia, associações ambientalistas e de moradores, deu conta de
dados que não foram considerados no EIA, discorrendo sobre os pareceres apresentados.
Do Centro Oceanográfico da Universidade
de Lisboa vem o alerta sobre a monitorização que a Universidade de Évora faz há
dois anos à subida do peixe (projecto com fundos comunitários, de quase um
milhão, que ficará inviabilizado, com açudes submersos).
Paulo Silva, coordenador da Plataforma,
sintetizou o parecer da Câmara de Vila Nova de Poiares, que o respectivo
autarca, João Miguel Henriques pormenorizaria. Em causa está, como adverte o
parecer assinado pelo engenheiro Celestino Quaresma, a ponte do Louredo, que
custou perto de 350 mil euros e teria de ser elevada para uma cota superior. Depois,
acresce um prejuízo imaterial, porque inviabilizaria o projecto de uma praia
fluvial.
Humberto Oliveira, edil de Penacova,
recuperou o título de uma crónica pública que fez a propósito - “nem as
lampreias sobem nem as barcas descem” – antes de falar dos efeitos da hídrica
na vida das pessoas e infra-estruturas, nas águas (captação mas também circulação,
com qualidade afectada nas praias fluviais. Do Município de Coimbra, um parecer
elaborado por João Pardal assinala a ausência de avaliação de impactos a
jusante da mini-hídrica. Paulo Cardoso, presidente da Junta de Freguesias de
Torres do Mondego, antecipa uma água mais fria na praia fluvial, perda de
qualidade, e o fim, antes de começar, de um projecto turístico na região.
Restauração e empresas de lazer, com
uma movimentação de cerca de um milhão de euros/ ano, serão afectadas de forma
irreversível, eliminando--se 35 postos de trabalho. A mini-hídrica, com
produção energética prevista para o milhão de euros/ano, «não dá trabalho a
ninguém da região», reparou Paulo Cardoso, antes de afirmar que a produção
energética facilmente seria conseguida com melhorias noutras instalações. De
resto, a Plataforma tem informações que o próprio promotor (Mota-Engil) já não
terá o mesmo interesse na construção. Se a Agência Portuguesa do Ambiente, ou melhor,
se o Governo mantiver a concretização do projecto (a decisão será a 12 de
Julho), os parceiros da Plataforma irão contestar por todos os meios ao
alcance, nomeadamente judiciais.
Texto de AMR
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