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MOSTEIRO DO LORVÃO - Órgão histórico devolvido à fruição pública



Apenas uma pequena parte das pessoas que na noite de sábado esteve na inauguração do órgão histórico do Mosteiro de Lorvão alguma vez terá ouvido o seu som. Mesmo entre os habitantes de Lorvão (Penacova), porque o órgão esteve “calado” por praticamente meio século. A expectativa era, por isso, elevada.

Tanto mais porque aquele que é considerado como o maior órgão histórico construído em Portugal no século XVIII passou por um processo complicado de mais de duas décadas, desde que se iniciaram os trabalhos de restauro e recomposição mecânica. Quando na noite de sábado se ouviram as primeiras notas bateram-se palmas na lotada igreja do Mosteiro.

«Há muitos anos se fala nisto. Sinto-me satisfeita, tive até vontade de chorar», dizia, à saída do concerto inaugural, Graciana Assunção, uma lorvanense que nunca tinha ouvido o tão falado órgão de quatro mil tubos do Mosteiro de Lorvão. Semelhante «alegria» espelhava Alice Almeida que, com idade «para lá dos 80», só ouviu o órgão «há muitos anos», tantos, que já nem se recorda bem. O concerto, garantiu, «foi lindo».

Dois testemunhos que mostram a satisfação da comunidade em ver devolvido o órgão histórico. Mas todo o povo o demonstrou porque a igreja do Mosteiro foi ornamentada com flores, fruto de um colecta na freguesia que até o padre Pedro Miranda desconhecia. E isso, afirmou o pároco, demonstra «a alegria do povo». Numa cerimónia repleta de assistência - tanto do lado da igreja como do lado do Coro - ouviram-se as composições saídas das mãos dos organistas João Vaz e Harald Vogel. O som saiu de igual forma para os dois lados porque se há particularidade que se pode apontar ao órgão de Lorvão é o facto de ter duas fachadas. A obra foi projectada pelo organeiro e escultor Manuel Teixeira de Miranda e concluída pelo filho António Machado e Cerveira, em 1795. O trabalho escultórico é do escultor Machado de Castro, também filho de Teixeira de Miranda.

«Devolver à fruição pública a sonoridade daquele que é um expoente maior de entre os órgãos históricos nacionais, único no seu género na Península Ibérica enche-nos de especial satisfação», considerou o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que homenageando uma «plêiade de artistas do século XVIII» não deixou de destacar os restauradores que «em pleno século XXI se dedicaram a dar vida àquele que é considerado o rei dos instrumentos musicais do século XVIII». O Mosteiro de Lorvão, «enquanto foco polarizador de cultura» iniciou «uma nova etapa», disse ainda. Dinarte Machado, mestre organeiro, foi o responsável pelos trabalhos. Ao entregar a “chave” do órgão, lembrou que nos mais de 1000 órgãos em Portugal, pouco mais de 100 são representativos da escola de organaria portuguesa. É preciso, alertou, «salvar» estas peças e, para tal «formar jovens» que o possam fazer.

Satisfeito pelo culminar do processo «de décadas», o presidente da Câmara de Penacova, Humberto Oliveira, lembrou que o restauro do órgão se junta a outras obras – restauro dos claustros e construção de um Museu - que agora «é necessário valorizar»

Milhões para o património português

A recuperação do órgão histórico do Mosteiro de Lovrão custou 650 mil euros e foi possível graças a uma candidatura ao programa comunitário Mais Centro. O secretário de Estado da Cultura destacou esse valor, mas falou também dos «mais de 20 milhões de euros» em 2013 e «já mais de 12 milhões de euros em 2014» que o Estado disponibilizou para o restauro e conservação do património monumental português. «Não podemos ignorar a importância dos tesouros artísticos portugueses», frisou.

Margarida Alvarinhas - Diário de Coimbra

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