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CHEIRA - Seis irmãos entre 84 e 102 anos batem recorde conjunto de longevidade


Uma família de seis irmãos, todos vivos e com idades acima de 84 anos é um registo inédito de longevidade. Mais do que isso, todos os manos Flórido mantêm, ou mantiveram, pelo menos até aos 90 anos (os quatro que já lá chegaram), uma invejável lucidez e uma memória de elefante.

Quatro vivem na Cheira, Penacova; uma das suas irmãs (Adelaide), de 94 anos, vive em Coimbra, sozinha e o mais velho (Joaquim), de 102 anos, está num lar em Lisboa.

Sendo assim, a reportagem [...] só conseguiu juntar para a fotografia três deles, residentes em Cheira: Lucília (84 anos), Casimiro (91 anos) e Manuel (87 anos). O outro irmão morador no lugar (António, de 90 anos) está num lar, acamado, não sendo possível juntar-se ao grupo.

Casimiro e António são os dois homens mais idosos do lugar. Mais conversador, Casimiro começa por contar o episódio que mais lhe marcou a vida: o acidente ocorrido numa pedreira na zona do Caneiro, quando uma pedra se desprendeu lá do alto e apanhou a perna do irmão António no caminho. Foi há 68 anos, “mas recordo-me como se tivesse sido hoje”. A vítima foi imediatamente transportada para os Hospitais da Universidade, mas parte da perna, abaixo do joelho, teve que se amputada.

Acidente há 82 anos

Lucília Flórido recorda – de ouvir contar – um acidente de que é, atualmente, a única sobrevivente. Assinala-se, no próximo dia 22 de agosto, os 82 anos do sinistro, numa época em que não havia jornais para relatar os factos. Um comboio abalroou, em Ceira, o autocarro onde seguia com mais 26 pessoas. Tinha apenas dois anos de idade e viajava com a mãe.

Entre mortos e feridos, houve 21 vítimas, com alguns a ficarem estropiados para o resto da vida. A pequena Lucília foi encontrada entre os carris, ilesa, com uma boneca nas mãos.

Viúva há dois anos, encontra nos irmãos, também viúvos (à exceção de Manuel), um grande apoio, principalmente depois de uma vida de trabalho. Três dos irmãos trabalharam na Companhia Elétrica das Beiras entre uma e duas décadas, tendo depois emigrado para a construção civil em França, Angola e Moçambique. Só o António fez toda a sua carreira profissional na empresa de origem, tendo-se reformado “já no tempo da EDP”.

Pelo contrário Joaquim esteve 25 anos em Angola, 20 dos quais sem regressar ao continente: “o contacto mantinha-se por carta”, lembra Casimiro, acrescentando que “agora, para saber como ele está no lar em Lisboa, falamos por telefone, mas já só através de um sobrinho”.

Todos eles já ultrapassaram a idade com que os pais morreram (80 e 82 anos), justificando a longevidade, “se calhar, pela vontade de viver, porque pela boa vida não foi. Todos já davam servidão aos nove e dez anos, por isso pouco estudámos”. 

Entrevista de António Rosado