FESTA DO BARQUEIRO - Miro recupera vivências do rio Mondego e da barca serrana
É uma viagem ao passado, um
encontro com as memórias e as vivência que faziam o dia-a-dia das gentes de
Miro há, pelo menos, meio século. Um salto no tempo a bordo de uma barca serrana,
que acontece no domingo. A barca vem da Figueira da Foz, explica Manuel
Nogueira, presidente do Grupo de Solidariedade Social, Desportivo, Cultural e
Recreativo de Miro, responsável pela organização da Festa do Barqueiro, que
começa amanhã, naquela localidade do concelho de Penacova. «Era um tempo em que
o rio era a única ligação de Penacova a Coimbra e também à Figueira da Foz».
Vinda da Figueira, a barca subia o Mondego, carregada de sal e chegava a Vale
dos Ladrões, local onde «as mulheres o descarregavam».
Com a barca vazia, era tempo para
proceder ao carregamento para a viagem de regresso, a Coimbra e à Figueira.
«Lenha, carqueja, vinho» eram carregados na barca, «que também levava «os
romeiros que iam para a Rainha Santa ou para a Senhor da Serra», bem como «os
pagadores da décima», que iam pagar este imposto a Penacova. Rumo a Coimbra
seguiam, também, recorda Manuel Nogueira, «alunos e professores da
Universidade», e também «as lavadeiras, com as respectivas trouxas de roupa, já
lavada».
Era assim há 50 anos e o Grupo
Social de Miro vai recriar essa vivência no domingo, com um programa que começa
às 10h00, com a passagem da barca serrana, carregada de sal da Figueira, junto
à Livraria do Mondego. Em Vale dos Ladrões descarrega-se e carrega-se e começa
a viagem de regresso, com paragem na Livraria do Mondego, onde se assiste, como
noutros tempos, à preparação do almoço, confeccionado pelo barqueiro.
Um momento onde não vão faltar as
lavadeiras, a lavar a roupa no rio, como outrora, com um breve intervalo para
«preparar o café destinado à merenda». Também os serradores e os lenhadores ali
vão estar, cortando as tábuas para as barcas ou para enviar para a Figueira.
Manuel Nogueira confessa que este é o momento áureo da Festa do Pescador, que
«atrai mais gente», pois «recupera memórias com mais de 50 anos». Para alguns,
é uma oportunidade de reviver o passado, para a maioria, um momento de
descoberta dos usos, costumes e tradições das gentes de Miro.
Todavia, a Festa do Barqueiro
começa já amanhã, pelas 9h00, com a abertura do espaço “Saberes e sabores
tradicionais”, que resulta, explica Manuel Nogueira, de uma formação
desenvolvida pelo Grupo, em parceria com o IEFP, destinada a desempregados. Dos
20 formandos, cinco mantêm-se na colectividade, «em contexto de trabalho» e
tornaram-se especialistas na confecção de licores, compotas, broa, bolachas,
folares e chás. Durante a festa, vão proceder a demonstrações de fabrico e,
claro, promover os seus produtos. «É uma oportunidade para levar uma recordação
de Miro», sugere o presidente.
Pelas 18h00 assiste-se à
inauguração da feira, que reúne cerca de duas dezenas de stands dedicados ao
artesanato, com a presença de artesãos do concelho de Penacova, alguns dos
quais a trabalhar ao vivo. Madeira, pedra, lá, tecido, cerâmica e pintura são
algumas das artes e ofícios presentes no certame. A noite é animada com baile e
um DJ.
Sábado, a festa começa às 9h00,
com o espaço "Saberes e Sabores Tradicionais” e para as 15h00 está
prevista uma visita guiada a Miro. A feira abre às 16h00 e a noite é animada
com o festival de folclore que, de resto, deu origem à Festa do Barqueiro,
realizada pelo terceiro ano consecutivo. São quatro os grupos presentes, que
actuam a partir das 22h00, a saber: Rancho Folclórico da Ribeira Quente, de S.
Miguel, Açores - «a grande atracção deste ano» - , o Rancho Folclórico
Lavadeiras do Mondego, da Póvoa de Mosqueiro, o Grupo Etnográfico Sete
Castelos, de S. Domingos de Rana, e o Rancho Típico de Miro “Os Barqueiros do
Mondego”, anfitrião do evento.
Domingo, além da manhã dedicada à
viagem pelas memórias da barca serrana, a festa continua em Miro, que reserva
uma tarde cultural, a partir das 15h30, para celebrar o dia dos avós, com a
actuação dos grupos Cordas em Sintonia de Vil de Matos, Tuna Sénior Mor de
Montemor, Grupo de Concertinas da Foz do Caneiro, Penacova, e Rancho Folclórico
da Ribeira Quente.
O evento inclui exposições de
fotografia e pintura e mostra de gastronomia e vai ser transmitido em directo
no you tube. São três dias muito intensos», afirma Manuel Nogueira, assumindo o
muito trabalho que a organização exige, mas também o «grande orgulho» no
resultado final.
Grupo quer promover a “Marca Miro”
A Festa do Barqueiro é, também,
oportunidade para proceder ao lançamento de um novo produto da “Marca Miro”.
Trata-se de flor de sal da Figueira da Foz, com plantas aromáticas de Penacova,
como oregãos, alecrim e limonete, «ideal para temperar saladas», assegura
Manuel Nogueira. A apresentação deste novo produto, que resulta de uma parceria
com a Casa do Sal da Figueira da Foz, está marcado para as 12h00, na Livraria do
Mondego.
Mas este é tão-só o mais recente
produto da “Marca Miro”. «Começámos com a broa», conta o presidente do Grupo
Social, depois «avançámos com os folares», seguindo-se os licores, os enchidos
e as compotas e, mais recentemente as bolachas com ervas aromáticas ou com flor
de sal. Produtos confeccionados pela colectividade e que se encontram no
mercado em crescendo. «Querermos chegar ao mercado europeu», diz Manuel
Nogueira, salientando que alguns dos produtos já têm um rótulo traduzido em
inglês.
Manuela Ventura - Diário de Coimbra