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DESPORTO - “Oliveirinha”: um campeão de boccia que é exemplo de superação na vida


Superação. Vontade. Capacidade de sacrifício. Estes são, certamente, valores que definem os grandes campeões do desporto. Mas há heróis que, para lá da normalidade, para além da limitação, vencem os horizontes do esforço e se tornam em exemplos de vida. António Manuel Oliveira Marques tem 52 anos, pratica boccia desde as 18 “primaveras”, é um “multimedalhado” paralímpico e já viajou por meio mundo em representação das cores da selecção nacional desta modalidade desportiva para pessoas portadoras de deficiência na área da paralisia cerebral.

António Oliveira na Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC), “Tonico” na selecção e Manuel na aldeia da Aveleira, do concelho de Penacova, de onde é natural, o “Oliveirinha” como também gosta de ser chamado e é conhecido na comunidade do desporto adaptado já partiu para Cali, cidade da Colômbia, onde irá disputar de amanhã até à próxima terça-feira, mais um Mundial de boccia. E a expressão “mais um” cabe-lhe na perfeição pois, desde a primeira competição internacional em que participou no ano de 1986 na Bélgica, António Marques não mais parou de vestir a camisola das “quinas” e de ganhar medalhas, seja por equipas, seja em participações individuais, espalhando o seu nome pelos “rankings” da Federação Internacional de Boccia na categoria de BC1.

«Espero conseguir bons resultados, já são muitas medalhas conquistadas, tantas que nem me lembro do número…» afirmou António Marques quando questionado acerca do que espera fazer em terras colombianas. Com respostas curtas mas de lição bem estudada, ou não fosse ele o mais antigo internacional de boccia do planeta, “Oliveirinha” referiu que a prática da modalidade necessita de «trabalho, atenção e concentração» e que o seu gosto pelo desporto das bolas vermelhas e azuis deriva do facto de já o ter levado a «vários países» e lhe ter devolvido, segundo o que partilhou, o «gosto por viver». Relativamente à conquista que melhor lhe soube durante todos estes anos ligado ao boccia, o competidor da APCC não teve meias medidas: «A medalha de prata nos Jogos Paralímpicos de Pequim, em 2008, foi o que me faltava e o que me deixou mais feliz», declarou. Emílio Conceição partilha vitórias desde 1992 Por trás de um atleta de boccia, devido às suas limitações físicas e cerebrais, tem de existir sempre um treinador. Alguém que se propõe a ficar na “sombra” para emprestar brilho e sucesso a quem a saúde não sorriu.

Emílio Conceição é essa figura na vida desportiva de “Oliveirinha” desde 1992.

O monitor de Educação Física e Desporto da APCC tem 47 anos e tem contacto com a modalidade desde há 25 “tempos” sendo que, na sua perspectiva, «o boccia é uma modalidade como outra qualquer que precisa de treino, concentração, apresentando-se como um jogo de precisão e de estratégia». Na óptica de treinador, o tipo de função que desenvolve baseia-se no desenvolvimento da «rotina de movimento e lançamento da bola, que deve ser bem trabalhado para criar automatismos», contou. Mas, para além da questão técnica e desportiva em si, há muito para lá desta experiência de Emílio com estas pessoas: «Tenho noção que estou a ajudar pessoas a sentirem-se realizadas, a terem uma melhor mobilidade porque o desporto os ajuda nisso e sinto que isto o faz terem a noção que são úteis e aumenta o seu bem-estar enquanto seres humanos».

Palavras de quem quer trazer de Cali mais medalhas e troféus mas de quem, notoriamente, já tem o maior “troféu” que se lhe pode dar: ajudar o próximo.