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VIA DOS DUQUES - Auto-estrada volta à “estaca zero” e deixa autarcas indignados



Todo o processo referente à ligação entre Coimbra e Viseu, alternativa ao IP3, e que tinha sido apresentada como a Via dos Duques por António Ramalho, presidente da Infraestruturas de Portugal, em Agosto do ano passado, em Mortágua, voltou à “estaca zero”. Pelo menos foi isso que os presidentes dos municípios abrangidos pelo IP3 perceberam das palavras do secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme W. d'Oliveira Martins.

«Não entendi a reacção do senhor secretário de Estado. Ficámos baralhados, porque em Agosto foi-nos dito que [a construção da Via dos Duques] tinha de ter intervenção de privados e agora diz que não há financiamento», afirmou o presidente da Câmara de Mortágua, José Júlio Norte, mostrando-se surpreendido com este retrocesso.

Segundo o autarca, o secretário de Estado disse numa reunião do Conselho Regional do Centro, realizada na segunda- -feira em Castelo Branco, que o estudo prévio da chamada Via dos Duques – estrada entre Coimbra (nó da Ceira) e Santa Comba Dão (IC12), deixando o IP3 como alternativa não portajada – só estará concluído em Fevereiro de 2017. O estudo de impacto ambiental vai demorar ainda mais e só será conhecido em Setembro de 2017.

«Isto é inconcebível. Se não houvesse consenso..., mas agora já há, e o secretário de Estado vem dizer que vai abrir a discussão às câmaras? Por amor de Deus, nós já mostrámos por diversas vezes a nossa posição», criticou José Júlio Norte.

Embora concorde que se façam estudos, não acredita que a Infraestruturas de Portugal não saiba já o que quer fazer, pois o projecto que apresentou em Agosto era muito claro. «Esta decisão não pode continuar adiada e os nossos munícipes não podem continuar a aguentar isto. Estamos à espera de mais uma morte no IP3 para dizer que ele existe», disse, garantindo que vai continuar a lutar por uma alternativa ao IP3, estrada que está «impraticável» e que põe em risco a «segurança» dos automobilistas, principalmente em dias de chuva.

Quem também se mostrou confuso com as palavras do secretário de Estado foi o presidente da Câmara de Tondela, José António Jesus. «Em 2015 foi apresentada uma solução sabendo-se que não havia financiamento comunitário, [mas] o Governo manifestou o interesse de operadores privados em fazer este investimento. O que se disse ontem [na segunda-feira] foi que não havia disponibilidade nem financiamento e era preciso haver novos consensos», contou. Por ter ficado surpreendido, José António Jesus pediu uma reunião com o secretário de Estado para que haja «clarividência» e se perceba «qual é o entendimento político» sobre esta matéria.

«O Governo anterior propôs uma solução que era realmente uma alternativa e agora tudo volta à estaca zero, ao reabrir de um dossiê», criticou. José António Jesus considerou que a «região não pode esperar mais por uma obra destas». O autarca quer saber que propostas tem, afinal, o Governo para este troço e defende que «só faz sentido começar uma nova discussão sobre o assunto, se a solução for diferente da que já foi apresentada».

Autarca de Viseu incrédulo e Machado quer analisar

O presidente da Câmara de Viseu disse ter ficado «incrédulo» ao ouvir que «o projecto que o Governo anterior deixou e com o qual assumiu compromissos com a região não é sustentável e que não tem dinheiro para o fazer».

«No executivo anterior ficou bem patente que era um processo para um concurso de concepção, exploração e construção e, portanto, o financiamento deveria vir de privados. Ao que sabemos, as Infraestruturas de Portugal fizeram uma pré-qualificação e há pelo menos oito interessados em fazer esta obra», lembrou.

Almeida Henriques ficou com a ideia de que «o Governo atira para as calendas gregas a ligação entre Viseu e Coimbra, o que é de grande gravidade». «O que estamos a ver da posição do Governo é que vamos adiar mais dois anos para decidir depois. Não pode ser, é inadmissível», defendeu.

Leonel Gouveia, presidente da Câmara de Santa Comba Dão, mostrou-se preocupado com as declarações do secretário de Estado, «na medida em que a auto-estrada é importantíssima para o desenvolvimento económico da região». Além disso, «estão em causa questões de segurança», visto que o IP3, «sobretudo entre Santa Comba Dão e Coimbra, é palco de inúmeros acidentes, e o Governo tem de encontrar um mecanismo para esta situação».

Já o presidente da Câmara de Penacova, Humberto Oliveira, nunca acreditou que a Via dos Duques fosse construída exclusivamente com financiamento privado, ainda assim, ficou «surpreso» com a posição do secretário de Estado. «Não sou especialista, não sei qual o troço necessário para viabilizar o investimento. De qualquer forma, está a demorar tempo demais. Eu estava aqui num compasso de espera para não prejudicar os outros municípios, mas já estou a ver que tenho mesmo de me virar para a requalificação do IP3», concluiu Humberto Oliveira.

Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, preferiu não fazer declarações antes de analisar todo o processo.

Futura Via dos Duques mantinha IP3 sem custos

A Via dos Duques, assim “baptizada” por António Ramalho, presidente da Infraestruturas de Portugal (IP), previa 83 quilómetros em perfil de auto-estrada, entre a actual A13, em Coimbra, e a A25, em Mangualde, com ligação a Viseu e à A1 em Condeixa. Estava ainda prevista «a manutenção do actual IP 3 como alternativa não portajada, recuperando níveis de serviço».

A proposta foi apresentada em Mortágua, em Agosto do ano passado, cerimónia em que estiveram presentes vários elementos do Governo, incluindo o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Para a IP, este era «um dos projectos prioritários previstos no Plano Estratégico dos Transportes e Infra-estruturas (PETI3+) para ser concretizado através de investimento exclusivamente privado, num modelo de concessão com recurso a portagens». Esta alternativa ao IP3 foi bem aceite pelos autarcas e, se houvesse consenso (tal como houve), a obra poderia arrancar em meados de 2017.

Catarina Tomás Ferreira | Diário de Coimbra