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OPINIÃO - De Capa e Batina

A “Silly Season” deste ano foi especialmente forte e vai agora acalmando. Agosto terminou, o mercado de transferências da bola já fechou e o Avante e a Universidade de Verão da JSD já lá vão.

Mas com Setembro chega outra febre, que é a febre do regresso às aulas. Embora o foco inicial esteja no ensino secundário, lá mais para o fim do mês teremos com certeza as exibições televisivas dos estudantes universitários com a capa sobre os ombros e, por arrasto, o debate nacional sobre a praxe.

Num passado recente, ser anti-praxe era uma coisa de anarquistas, que viam na praxe os “doutores” engravatados a mandar na ralé. Ora, perante isto, qualquer espírito livre se insurge, nascendo o mito – absolutamente estapafúrdio – da Capa e Batina como um símbolo de opressão. Pessoalmente, sempre vi isto como um problema de incapacidade para ver além do óbvio e, consequentemente, desvalorizei. No entanto, hoje em dia é possível ver pessoas perfeitamente capazes a defender o fim da praxe, preconizando-a como uma actividade fascizante.

Assim, este ano abro eu as hostilidades. Este texto é direcionado para os novos alunos universitários, que têm a tragédia do Meco bem presente, mas também àqueles que hoje envergam a Capa e a Batina e toda a responsabilidade que isso acarreta. Aos primeiros gostaria de pedir que não se deixem levar pelo circo mediático em torno da questão. Todo aquele ambiente de ritual satânico novelizado, para além de pouco realista é, no mínimo, anedótico. Sim, a praxe académica implica uma hierarquia, implica figuras vestidas de negro a berrar ordens por vezes incompreensíveis e até fisicamente impossíveis. Implica também a capacidade para ver além do óbvio, o humor mordaz e a criatividade como escapatória e um espírito de camaradagem sem igual. Aos “Doutores”, peço responsabilidade e brio. O vosso dever é para com a comunidade académica e para com a própria cidade. Muitos de vós envergarão pela primeira vez o papel de figura-modelo. Não o desperdicem. A autoridade conferida pela Capa é apenas tão grande como aquele que a enverga.

Sou um praxista convicto, “Padrinho” orgulhoso de grandes Mulheres e um só Homem, Membro Fundador daquela que é hoje a melhor tertúlia masculina da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, “Os Bastonários”, e eterno enamorado e Membro Honorário (dizem…) da melhor tertúlia feminina da mesma Faculdade, “As Tricanas”.

A praxe académica foi boa para mim. Deu-me os tais amigos que são “p’ra vida”, laços inquebráveis, amores e desgostos. A praxe ajudou-me a crescer e a ser quem sou.

Mas nem todos têm a mesma sorte. É inegável que existem abusos feitos em ambiente de praxe e por vezes o ambiente de euforia leva a excessos que não se justificam. No entanto, não considero que a proibição da praxe resolvesse o problema. Os excessos são um sintoma do choque de personalidades, do álcool, da falta de maturidade ou de sair debaixo das saias da mãe. Proibir a praxe não resolveria nenhuma destas questões.    

Não me peçam argumentos lógicos a favor da praxe. Não os tenho. Tudo o que a praxe me deu foram emoções.

Rui Sancho