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ENTREVISTA - Dj Nuka fala à PI8OITO sobre a sua carreira musical

Vive do público e para o público que o acompanha. O palco é um vício e o sorriso faz parte da festa. Falámos com Pedro Costa. aka DJ Nuka com vários Cds editados e disponíveis nas várias plataformas digitais.



Quanto estás a tocar para uma multidão e percebes que todos estão a corresponder, o que passa pela tua cabeça?

(risos) É bom, é bom. Acho que qualquer músico, seja músico pop, seja rock, seja pimba, seja o que for… Esse é o principal objetivo, é a satisfação de dever cumprido.

Consideras que houve uma evolução nas festas ao longo destes anos e já levas bastantes?

Houve muitas alterações. Aliás, nós Portugueses estamos em constante alteração das coisas (risos). Mas sim, houve muitas mudanças, a gora se para melhor ou para pior o standart de bom é relativo. O teu bom não tem que ser o meu bom nem eu vou mudar A, B, ou C.

Como surgiu o teu interesse pela música e quando percebeste que o que querias era fazer música?

Eu desde puto que tenho tendência para a música, não tinha qualquer tipo de formação musical, entrei em bandas através de programas de televisão, fui abordado por grupos de baile, mas a minha onda era o rock, não tinha nada a ver com bailes…Isso de bailes e festas não era para mim, eu queria era rock e tal…Mas foi na altura em que tinha acabado de tirar a carta e precisava de dinheiro (risos) e então fui fazendo mais um ano, mais um ano, mais um anos…Quando acabas uma época olhas para trás e dizes: “ganhei x e para o ano vou comprar isto, para o ano vou comprar aquilo.”

Porquê DJ Nuka?

Vem da minha alcunha de miúdo, a alcunha pela qual era conhecido – Manuka. Isso vem de uma novela que havia há alguns atrás, havia um personagem que era parecido comigo e na escola primária ficou Manuka. Dj Nuka surgiu um bocado como diminutivo. Eu a dada a altura quando fiz a primeira atuação e que foi um teste. Coloquei no facebook “que nome é que vamos dar ao DJ?” Houve n cenas…Houve malta a dizer DJ Sagres porque eu gostava de beber umas minis (risos) e depois ficou Nuka, era um nome pequeno que no cartaz ficava grande e são só quatro letras.

Música e personagem constroem-se juntas?

Isso é uma pergunta interessante porque muitas vezes os músicos preocupam-se com a parte musical e não com o personagem que são duas coisas diferentes. O Pedro (eu) é uma pessoa, o Nuka é outra, embora em vários aspetos se complementem, ambos são simpáticos, ambos gostam de ajudar, mas existem coisas que o Nuka faz que o Pedro se calhar não fazia (risos) mas tem que ser feito! O próprio personagem, o próprio boneco, tu criaste uma cena que seja aceite por todos, dos mais novos aos mais velhos e há muita gente que gostava de ser o David Guetta, mas também há putos que gostavam de ser o DJ Nuka e isso é fixe (risos).

Quantas pessoas trabalham contigo e que fazem?

Trabalho com voluntários. Depende dos espetáculos, mas sim, às vezes são alguns na montagem.

Que relação se estabelece entre as características do teu espaço de trabalho, a natureza das tuas músicas e os locais onde elas se materializam, onde as tocas?

Isso é outra das vertentes que a maior parte dos músicos e DJs não se preocupam porque é evidente que tens que criar a tua identidade. É importante mas essa identidade cria-se já num patamar mais elevado. Se queres viver da música dentro do patamar em que estás inserido e aqui existem duas vertentes importantes; se queres uma casa para os clientes estarem a beber copos, a conversar com música de fundo, isso é conceito que eu chamo mais deep house, de tech house…é um cena para estares a ouvir música soft. Se queres festa vai lá Nuka que é diferente! São dois bons conceitos mas depende do que queres para a tua casa. Agora é evidente que se eu estiver num festival para juventude não posso passar o mesmo repertório que numa festa popular. Tens que estar em constante mudança, trabalhar com o bar, perceber se o bar está a faturar ou não, se as pessoas estão a aderir, se estão a mexer no telemóvel, se estão distraídas, se estão de costas…Isso é uma noite e cada noite é uma noite.

Não deixas nada ao acaso, nomeadamente a relação entre a música e o consumo feito no bar…

Sim, é importante, é a vertente comercial. Isto para mim é um negócio, é um produto que tem de ser trabalhado. Claro que tens que saber cativar o s líderes, as pessoas mais emblemáticas naquele determinado sítio, que trazem mais x pessoas. Eu por natureza sou uma pessoa acessível e gosto de falar com toda gente, sejam ricos, sejam pobres, juízes, pedreiros, whatever…Isso é uma vantagem natural para mim, não é uma coisa feita. Agora numa noite sim, sempre com atenção.

Sei que tens tocado também no estrangeiro, é diferente de tocar em Portugal?

Não é igual. Os Portugueses estão em todo o lado e em grande número. Onde tenho ido há sempre portugueses que seguem o meu trabalho no verão quando cá estão e através das redes sociais. É emocionante reencontrar essas pessoas e sentir o carinho que têm por mim…Sinto-me sempre em casa!

Como preparas um set?

Não preparo! Cada noite é uma noite. Deixas-te ir em automático (risos). Claro que tenho as armas já preparadas e ao meu dispor. Tenho alternativa para o meio da noite, se for necessário, vira-la. Preparado para tudo!

Descreve-me os teus ritmos, métodos e hábitos de um dia-tipo no teu processo criativo.

É assim, nós humanos descendemos dos africanos que foi onde nasceu o mundo e é onde eles ainda conseguem fazer mexer o corpo, porque agora tens muito a onda do kizomba, mão o kuduro também é. Portanto isto faz com que o corpo mexa e eu baseei-me um bocadinho nisso. O teu coração bate a x pulsações normalmente, se tu dobrares o house music não é por acaso que tem 128 bpm, portanto isto é sempre o dobro da batida do nosso coração e faz com que as pessoas mexam. Há quatro notas tipo que o cérebro humano assimila melhor. Se fores analisar, todas as músicas pop dos anos 1960 até agora, aquelas mais conhecidas, que entram, têm quatro, cinco notas e são aquelas notas a que o nosso corpo reage melhor.

Pensas na receção do teu trabalho no público e na sua reação? Achas que deves ter a preocupação de explicar o teu trabalho?

Sim é importante, mas quem vais explicar o meu trabalho é o público. Se adere é porque está bem feito, se não adere é porque não está feito para aquele tipo de público. Existem duas coisas interessantes; eu tenho originais em português, mais populares, baladas e coisas assim e tenho a vertente mais electrónica de DJ, públicos alvo completamente diferentes que às vezes são confundidos, porque existe muito aquela ideia de que o Nuka passada baladas e depois, aparece numa cena grande a passar música electrónica e que nada tem a ver com os meus originais….Eu dei por mim em 2015 a fazer música para Indonésios, Canadianos e Suecos…

De repente vi que os Indonésios compravam mais músicas minhas que os Portugueses e deixei-me ir na onda. Cá consegui com o primeiro CD que setecentas pessoas ficassem com ele e no segundo CD foi um bocadinho menos, foram seiscentas e tal.

Qual a música que mais dinheiro te deu?

Foi uma balada, o que é engraçado…Foi “Olha para mim” a música que mais vendeu, essa e o “Salto alto”, músicas de 2014. Se calhar não é a música mais conhecida, porque a mais conhecida é “Só penso em ti” que apareceu na televisão em entrevistas, que é uma coisa que eu nunca fui, mas a música apareceu lá no fundo (risos) e foi porreiro. Uma vez foi na entrevista da Cristina Ferreira ao Mickael Carreira e outra com a Rita Pereira, sempre com a minha música de fundo. Vamos ver onde é que essa vertente dos originais vai…Não está parada, está em stand-by. Este ano fiz uma pausa e não lancei nada porque para mim este foi o ano complicado a nível pessoal.

Está associado a alguma editora?

Não. Posso dizer-te que saiu o primeiro EP em 2013, eram quatro músicas e que ficaram prontas no final de Outubro e só saiu para o mercado em 15 de Dezembro porque faltava uma assinatura daquele, quando hoje em dia tens mecanismos que em 24 horas te põem a música no mundo inteiro. Pagas, não é muito, e compensa. Os CDs físicos é complicado porque fazes promos e não recebes dinheiro o u se queres realmente receber dinheiro tens muita burocracia e não justifica, a não ser que estejas num patamar bastante alto.

Como é que vês a conjuntura actual em termos de políticas culturais em Penacova?

Nós temos aqui forças de bloqueio, não só na música, mas também na política. Eu ligo às pessoas e vejo se elas fazem um bom trabalho ou não. Quanto aos partidos uns arrancam da esquerda para a direita, outros da direita para a esquerda mas os objetivos acabam por ser os mesmos. Os partidos hoje estão bloqueados pelo poder central, não fazem o que querem, fazem o que lhes deixam fazer e depois quem toma decisões fica limitado.

Como te sentes sendo o Dj mais acariciado em Penacova?

Normal. Naturalmente aconteceu porque eu sou amigo das pessoas. Claro que fiz para que isso acontecesse, é evidente, tens que lutar, como em tudo na vida. Em Penacova tens o Rui que nada tem a ver comigo, é uma pessoa que está na onda dele e está bem e tens o Nuka, que é para fazer festa, e quando digo que é para fazer festa é se a festa é música brasileira música electrónica ou outra qualquer eles é que mandam, nós estamos cá para trabalhar.

Tens ambição de ficar referenciado para lá do teu tempos?

Sim. Aconteça o que acontecer vai sempre ficar. Já causei muitos divórcios e muitos casamentos (risos). Nas minhas noites também já se estragaram muitas coisas, já se fizeram muitas coisas. Criou-se aqui em Penacova e arredores uma onda de DJs aí há 10 anos se calhar porque eu apareci e começaram a ver e a fazer. Uns acabaram outros continuam, outros estão a começar, é como em tudo se tu tiveres como objetivo fazer, tu fazes. Eu não sou bom em nada, mas aquilo que digo que faço vou fazer faço, mal ou bem faço.

Como é a convivência entre DJs em Penacova?

Pela frente é pacífico (risos). Acaba por ser normal e a concorrência acontece na música em geral. Respeitar e saber viver com a vitória e com a derrota também. Eu tenho noites más como toda a gente, se calhar tenho 90% de noites boas, mas também tenho 10 % más (risos). Normal como tudo na vida.


Originalmente publicada na edição impressa da Revista PI8 de outubro de 2016