OPINIÃO - Guerra à “peste grisalha” na advocacia
É por demais sabido que o governo
de Passos Coelho, unicamente preocupado em aumentar receitas – de preferência à
custa dos pobres e da classe média – e em reduzir despesas – de preferência à
custa dos trabalhadores do Estado e dos pensionistas –, numa atitude inédita,
pelo menos em Portugal, declarou guerra aos idosos. A ponto de um deputado da
coligação PPD/CDS – com cujo nome não quero conspurcar a memória – ter afirmado
publicamente que os velhos são uma “peste grisalha”. Nesse combate, ele
próprio, o seu governo, a sua maioria e os escribas ao seu serviço incitaram
sistematicamente os novos contra os velhos.
Esse governo caiu; mas o veneno
ficou. Exemplo disso é o artigo que acima refiro. O Sr. Dr. Luís Filipe
Pereira, do alto dos seus trinta e tal anos, revela uma “preocupação acrescida”
com “a evolução dos pensionistas” (da CPAS – Caixa de Previdência dos Advogados
e Solicitadores): há pensionistas a mais! E como se isso não bastasse, muitas
das pensões – imagine-se! – são superiores a €2.500,00 por mês! E há até quem
receba pensões entre €4.000,00 e €5.000,00!
O Sr. Dr. LFP “esquece” que o
regulamento da CPAS prevê diversos escalões de pensões e contribuições, pelos
quais cada advogado pode optar. Como é evidente, quanto mais elevado for o
montante da pensão escolhida, mais elevado é o montante da contribuição mensal
a pagar. Assim, os tais “super-reformados” que recebem pensões de 5.000,00
euros por mês pagaram em média, ao longo da sua carreira contributiva, mais de
1.000,00 euros mensais.
Insurge-se de seguida o Sr. Dr.
LFP contra o facto de os advogados reformados poderem continuar a exercer. Ora
sempre assim foi. E os colegas da minha geração e eu próprio nunca protestámos
contra isso; desde logo por uma simples razão: lembrava-mo-nos de que um dia também
viríamos a ser velhos e a beneficiar de tal possibilidade. Agora porém, desde
que o governo que se orgulhou de “ir além da troika” procurou lançar os novos
contra os velhos, parece que alguns jovens pensam que serão sempre jovens e que
os velhos foram sempre velhos! Como se a juventude e a velhice fossem duas
classes estanques!
Assim, o Sr. Dr. LFP pretende
remeter os advogados velhos para atividade e o lugar que entende competir-lhes:
juntarem-se a jogar a sueca nuns bancos de jardim.
Finalmente, há ainda outro grave
problema a inquietar o espírito do Sr. Dr. LFP: é que os advogados pensionistas
vivem tempo demais! A sua esperança de vida é superior em 11% à média nacional!
Como velho advogado pensionista,
o meu receio é que o Sr. Dr. LFP, assoberbado por todas estas “preocupações”,
acabe por propor, na esteira de exemplos históricos não muito distantes, “a
solução final” do problema da “peste grisalha” dos advogados: a câmara de gás!
António Horta Pinto - Advogado
(Comentário a um artigo do
Senhor Dr. Luís Filipe Pereira
publicado no Diário de Coimbra
de 4/10/2016)