CIÊNCIA VIVA - A maior indústria do mundo procura sustentabilidade
25 milhões de turistas em 1950. 702 milhões em 2000.
1500 milhões em 2020. Estes números redondos relativos aos fluxos turísticos
mundiais revelam a importância do turismo enquanto indústria. Mas revelam
também uma taxa de crescimento ímpar que é, ao mesmo tempo, geradora de
expetativas e de preocupações.
Com 20% da população mundial envolvida nos fluxos
turísticos, atendendo a que estes triplicam entre 1995 e 2020, a questão da
sustentabilidade é incontornável. Os impactes do turismo ocorrem em vários
domínios, traduzindo-se, por exemplo, no consumo desmesurado de recursos
naturais; em danos ambientais e poluição; na erosão cultural motivada pela
mercadorização; na deterioração das condições de vida de populações locais
sujeitas a formas predadoras de turismo; na carestia e na redefinição de
prioridades das políticas públicas que o turismo provoca ao nível local, etc. Por
outro lado, o turismo encerra virtualidades várias em termos de criação de
riqueza, de emprego e de inovação.
Neste contexto, as agendas globais e as agendas locais
têm vindo a colocar o turismo sustentável no centro das políticas de
desenvolvimento. O turismo é cada vez mais o eixo central das agendas do
desenvolvimento sustentável. A Resolução adotada pela Assembleia Geral a 22 de
dezembro de 2015 (A/RES/70/193) declara 2017 como o Ano Internacional do
Turismo Sustentável para o Desenvolvimento assumindo que “o turismo pode dar um
contributo significante para as três dimensões do desenvolvimento sustentável,
consolida e pode criar emprego decente e gerar oportunidades para o comércio”.
Ao mesmo tempo, a resolução convida “todos os Estados, o sistema das Nações
Unidas e restantes atores a aproveitar o Ano Internacional para promover ações
a todos os níveis, incluindo através da cooperação internacional, e apoiar o
turismo sustentável como forma de promover e acelerar o desenvolvimento
sustentável, especialmente na erradicação da pobreza”.
O turismo sustentável invadiu também as agendas das
grandes multinacionais do turismo. A Booking, que podemos usar a
título de exemplo por ser a maior operadora mundial de reservas online,
tem vindo a envolver-se crescentemente nas questões do turismo sustentável. Em
2014, com o lançamento do programa Booking Cares, propôs aos empregados
do grupo programas de voluntariado em organizações não-governamentais, de modo
a “responsabilizar-se pelos efeitos negativos do turismo e manter a indústria
sustentável para as gerações futuras”. E, já em 2017, anunciou o Booking
Booster Programme, concebido “para tornar o turismo numa força positiva
através do apoio a um grupo selecionado de startups de
excelência, uma vez que elas podem conferir escala aos negócios e gerar impacto
global, trabalhando em conjunto rumo a um futuro mais sustentável para a
indústria global do turismo”.
Em Portugal, onde o número de turistas internacionais
não tem parado de crescer, onde o turismo se apresenta como uma prioridade no
domínio do desenvolvimento, com Lisboa a ser a quinta cidade europeia a
registar maior aumento da procura, a exaustão dos principais focos de atração
turística é uma prioridade incontornável. O International Year of
Sustainable Tourism for Development coloca, neste contexto, desafios
incontornáveis não só às políticas nacionais, mas sobretudo às políticas
setoriais, regionais e locais.
Carlos
Fortuna | Paulo Peixoto – Centro de Estudos Sociais
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