INVESTIGAÇÃO - Desenvolvido mecanismo para diminuir o estigma da obesidade
Investigadores do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção
Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade de Coimbra (FPCE-UC) desenvolveram e testaram a eficácia de uma intervenção psicológica
inovadora, baseada em três
componentes essenciais - mindfulness,
aceitação e autocompaixão -, para diminuir
o impacto do estigma internalizado na obesidade.
O programa, chamado Kg-Free, resulta de quatro anos de investigação
e foi desenvolvido no âmbito do doutoramento de Lara Palmeira, orientado pelos
professores José Pinto Gouveia, da FPCE-UC e coordenador do CINEICC, e Marina
Cunha, do Instituto Superior Miguel Torga.
Constituído por dez sessões semanais e duas quinzenais em grupo, o Kg-Free foca-se em promover
comportamentos saudáveis e qualidade de vida e diminuir o impacto do estigma em
relação ao peso em mulheres com excesso de peso e obesidade.
A intervenção aposta no mindfulness
(um treino mental que ensina as pessoas a lidarem com os seus pensamentos e
emoções), promovendo uma relação mais consciente com a alimentação, como, por
exemplo, dando atenção aos sabores e textura dos alimentos. É também promovida
uma relação positiva e flexível com a imagem corporal, peso e alimentação. A
terceira componente trabalha a relação do “eu” e da autocompaixão, isto é, diligencia
uma relação interna baseada numa atitude de compreensão, cuidado e suporte a
nós mesmos quando falhamos ou quando as coisas correm mal.
O projeto, que foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia
(FCT), envolveu a participação de centenas de adultos com excesso de peso e
obesidade, na sua maioria mulheres, em tratamento para perda de peso no
distrito de Coimbra, destacando-se o estudo da intervenção Kg-Free em que participaram 60 mulheres adultas com excesso de peso
ou obesidade.
Os resultados, afirma a investigadora Lara Palmeira, evidenciam que a «intervenção foi eficaz na promoção do
bem-estar e da qualidade de vida e na diminuição de comportamentos alimentares
perturbados, do estigma internalizado e do autocriticismo».
O programa Kg-Free «permitiu que as participantes
desenvolvessem uma atitude mais saudável, flexível e positiva em relação ao seu
peso e alimentação, promovendo uma alimentação mais consciente e saudável, bem
como o desenvolvimento de uma visão do Eu mais positiva e menos crítica/hostil,
focada no bem-estar e na persecução de uma vida com significado que vá para
além do peso», explicita a investigadora do CINEICC.
As conclusões desta investigação chamam a atenção para a importância de
complementar as tradicionais abordagens de combate à obesidade com uma
intervenção psicológica. É necessária «uma
abordagem multidisciplinar que se foque não só na perda de peso, mas que
promova diretamente o bem-estar e qualidade de vida, intervindo na diminuição
do estigma e nas estratégias de regulação emocional desadaptativas»,
observa Lara Palmeira.
«Apesar do seu profundo impacto
negativo, o estigma em relação ao peso permanece atualmente como uma das formas
de estigma mais socialmente aceite, sendo muitas vezes promovido como forma de
combate contra a obesidade e que tende a ser internalizado pelas pessoas com
excesso de peso e obesidade. É urgente integrar a abordagem psicológica nos
tratamentos porque a obesidade é uma doença muito heterogénea», acentua.
No seu conjunto, os resultados «apresentam
importantes implicações para a intervenção psicológica na obesidade,
salientando a importância de adequar as intervenções às pessoas com excesso de
peso e obesidade e consciencializar os profissionais de saúde para a
importância de adotar uma atitude de tolerância, aceitação e não julgamento
para promover a adesão ao tratamento e melhores resultados», conclui a
investigadora.
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