INVESTIGAÇÃO - Os micróbios vêm do fundo mar dos Açores para minerar Tungsténio
Um estudo internacional, liderado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade de Coimbra (FCTUC), permitiu descobrir três micróbios com elevada capacidade de minerar tungsténio,
um metal crítico para a indústria e para o ambiente, também conhecido por
volfrâmio.
Estes três micróbios foram selecionados a partir de amostras recolhidas no
fundo do mar, a 600 quilómetros a sul dos Açores, em zonas de vulcões
submarinos onde a quantidade de tungsténio é 100 vezes maior em comparação com
outros ambientes. Das várias experiências e testes realizados, dois micróbios da
espécie Sulfitobacter dubius
revelaram uma notável capacidade de tolerar e acumular tungsténio.
Esta descoberta, publicada na revista Systematic
and Applied Microbiology, representa «um
passo importante para a exploração de novas estratégias biológicas para
recuperar tungstênio de ambientes naturais ou antropogénicos (causados pela
ação do homem). A partir daqui, é possível desenvolver biossensores e
biofiltros alternativos aos métodos atuais que, embora cumpram os limites
legais, não são completamente eficazes, para obter e/ou recuperar metais
críticos», nota Paula Morais, coordenadora dos projetos PTW e
BioCriticalMetals.
Iniciado há um ano, o projeto BioCriticalMetals junta 28 investigadores e
empresas ligadas ao setor mineiro da Argentina, Portugal e Roménia, com o
objetivo de «fornecer bioferramentas
inovadoras, amigas do ambiente e vantajosas do ponto de vista económico, para
serem utilizadas na indústria mineira, transformando os resíduos (tóxicos) em
matéria-prima, numa perspetiva de economia circular», afirma Paula Morais.
Depois de estudados os mecanismos genéticos dos micróbios descobertos, os
investigadores manipularam algumas das suas propriedades, através de processos
biotecnológicos, por forma a aumentar a capacidade de acumulação de tungsténio.
A fase seguinte passa por produzir sistemas destes microrganismos, isto é,
cultivar os micróbios em laboratório e desenvolver as bioferramentas que serão
posteriormente testadas em ambientes diversificados, nomeadamente em minas.
O tungstênio tem importância industrial e económica crítica à escala
mundial, sendo utilizado nos mais diversos setores. A crescente escassez e o
fornecimento a preços cada vez mais elevados exigem a procura de soluções
inovadoras para garantir um abastecimento sustentável deste metal pesado.
Os estudos estão enquadrados nos projetos PTW e BioCriticalMetals,
financiados pelo Portugal 2020, Compete 2020, FEDER (Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional) e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
Sem comentários
Leia as regras:
1 - Os comentários ofensivos não serão publicados.
2 - Os comentários apenas refletem a opinião dos seus autores.