SUSTENTABILIDADE - Movimento de cidadãos apela ao regresso da floresta autóctone
Um movimento de cidadãos,
intitulado "Aliança pela Floresta
Autóctone", que nasceu após os grandes incêndios de 2017, promete
lutar pelo regresso da floresta natural do território português, ao mesmo tempo
que advoga o fim das monoculturas.
O apelo lançado pela "Aliança pela Floresta Autóctone" já tem mais de mil subscritores, entre cidadãos e associações de todo o país,
tendo começado a ser desenhado ainda antes dos grandes incêndios de 2017, mas
ganhou forma depois dos fogos que assolaram o país, disse à agência Lusa um dos
coordenadores do movimento, Miguel Dantas da Gama, membro da direção do Fundo
para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS).
"A ideia do apelo foi motivar os cidadãos para uma causa comum. Queremos
tomar o pulso, porque há uma certa maioria silenciosa que não se manifesta, mas
que ao ler o apelo confirma estar preocupada e comungar de uma visão próxima da
nossa sobre o diagnóstico e as causas", explanou.
Para além de Miguel Dantas da
Gama, o movimento é coordenado por Jorge Moreira, da associação Alvorecer
Florestal, e pelo presidente da Campo Aberto, José Costa Marques.
No documento partilhado no seu
'site', o movimento defende um incentivo e promoção de "uma verdadeira reflorestação do país
assente no primado das espécies autóctones, com base numa estratégia de longo
prazo e de âmbito nacional".
Para a aliança, há que
reabilitar estruturas humanas e materiais "com provas dadas", como os
guardas florestais a tempo inteiro e viveiros, "imprimindo uma mudança do atual paradigma florestal assente em extensas
monoculturas, nomeadamente de eucalipto e pinheiro-bravo".
O apelo encoraja a um aumento
das espécies autóctones, que poderão garantir "maior resiliência perante o
fogo", mas também potenciar "a
biodiversidade, o equilíbrio ecológico e paisagístico", contribuir
para "minorar a problemática das
alterações climáticas" e melhorar "os solos e o ciclo hidrológico".
Segundo o movimento, deverá ser
suscitado também "um novo interesse
pela revitalização da agricultura assente em princípios ecológicos e de
qualidade, promovendo a regeneração dessas regiões numa perspetiva de
sustentabilidade, diversidade e perenidade".
Para Miguel Dantas da Gama,
"tem de haver uma verdadeira
revolução", face à complexidade e gravidade do problema.
"Estamos a gerir um problema grave com medidas e propostas no curto
prazo. A verdadeira questão só se resolve com tempo e mexendo em questões de
fundo, que têm a ver com o que fizemos ao longo de décadas e séculos. Neste
momento, temos arborizações e muito lixo verde, mas floresta não temos",
notou.
O ser humano "foi devastando a floresta, mas a destruição
estava controlada, porque o Homem vivia no interior, geria os matos porque
precisava deles. Depois disso, abandonou o território e deixou a natureza muito
alterada. Não satisfeito, ainda alterou o coberto vegetal, com grandes
monoculturas que não podem ser geridas sem gente".
Sobre a reforma da floresta
promovida pelo Governo, Miguel Dantas da Gama realça que foram criadas "ferramentas interessantes e indispensáveis",
mas se forem "mal utilizadas não
servem para nada".
"Não há na reforma
grandes incentivos para discriminar positivamente quem quer apostar nas
espécies autóctones", referiu.
No dia 17, a "Aliança pela Floresta Autóctone"
realizou o seu primeiro debate, no Porto, com o biólogo de Coimbra Jorge Paiva,
tendo a perspetiva de lançar um ciclo de debates nas regiões mais afetadas
pelos incêndios em 2017.
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