GONDELIM - Tragédia pôs fim à festa mais esperada do ano na aldeia
«É uma festa linda, espectacular! De quarta a domingo é como se toda a
aldeia fosse uma só família». É com emoção que Lina Rodrigues fala das
festas de Nossa Senhora da Moita que todos os anos, a seguir à Páscoa, fazem
regressar às origens dezenas de famílias oriundas de Gondelim. A sua mãe,
Aurora da Conceição, de 87 anos, nunca falha à missa do primeiro dia de festa,
ao meio dia, seguida de procissão. Estava na capela quando, anteontem, uma
explosão de foguetes matou um jovem, que manuseava material pirotécnico, e
feriu dezenas de pessoas dentro e fora do templo. «Sofreu ferimentos graves ao nível da face, do maxilar. Já foi operada,
para já, parece estar bem, é forte», adianta Lina Rodrigues.
Depois de um dia em que a
grande preocupação foi acudir aos feridos - um total de 30 deram entrada no
hospital -, ontem verificavam-se os estragos provocados nas casas e conhecia-se
a evolução do estado de saúde dos atingidos pela explosão. O ambiente
tradicionalmente de festa e confraternização deu lugar à tristeza de ruas
silenciosas. Laurindo Brito, de 80 anos, e a esposa Maria Isabel, de 83,
ficaram «com os vidros partidos no salão
e na marquise», mas ontem já tratavam de os substituir. Acima de tudo,
davam graças por, na fatídica quarta-feira, ainda estarem em casa aquando da
explosão, a meia dúzia de metros da residência. «Íamos à procissão, é uma festa muito bonita, estava tudo alegre»,
conta Maria Isabel.
Os foguetes estão, desde
sempre associados a esta festa. «Quando
não há fogo as pessoas queixam-se, gostam porque se faz ouvir, porque dá nas
vistas», diz Elsa Brito, de 37 anos, habituada a esta forma de anunciar a
festa na aldeia. «Os foguetes costumam
estar ali, todos os anos. A missa foi mais cedo desta vez, e foi uma sorte -
estava menos gente cá fora para a procissão», revela.
A festa de Nossa Senhora da
Moita é, sem dúvida, uma festa de família, como nos conta Ilda Silva, de 38
anos, que viu pai e primos ficarem feridos, ainda que de forma ligeira, na
explosão. Residente em Sangalhos, vem sempre a Gondelim para «a festa mais importante» da aldeia com
cerca de 250 habitantes e dos arredores. Há emigrantes que também regressam
nesta altura.
Com o marido, Leandro
Ferreira, e a filha Maria, de apenas dois, Ilda pode dizer que teve sorte. Não
fosse uma birra da pequenita, que a levou a afastar-se, teria sofrido bem mais
com a explosão, já que estava perto do coreto, onde três pessoas manuseavam
material pirotécnico. Leandro tinha, inclusive, estado a observar «os dois pirotécnicos e o electricista».
«Algo correu mal», diz, recordando
duas explosões intervaladas por segundos.
Depois, Leandro Ferreira
lembra «a dificuldade em ouvir», o «caos de estilhaços, vidros, bocados de
telhas, ferros, uma porta arrancada». Juntamente com uma enfermeira e um
bombeiro, Leandro fez o que pode para ajudar os feridos mais graves - os que
antes manuseavam material pirotécnico - até chegar o INEM. Um deles, o jovem
André Baptista, de Torres de Mondego, viria a falecer. Os outros dois
encontram-se no hospital com prognóstico reservado.
Instrumentos
de filarmónica destruídos
A Associação Filarmónica Pátria Nova, de Coja, já tinha percorrido as ruas de Gondelim e, na hora da
missa, o grupo de cerca de 40 elementos - a maioria alunos do ensino básico e
secundário que se encontram estes dias de férias - cantavam dentro da capela. «O padre preparava-se para iniciar a homilia
quando se deram as explosões», lembra o maestro Daniel Gonçalves, cuja
primeira preocupação foi retirar os músicos da capela e perceber se todos
estavam bem, uma vez que muitos eram crianças.
A Filarmónica registou
apenas «quatro feridos ligeiros, dois
adultos, que se encontravam no exterior, e dois jovens». Perfurações de
tímpano, hematomas e feridas dos estilhaços eram as queixas principais. Estão
todos bem e as perdas materiais vão agora a ser aferidas.
A maioria dos instrumentos e
acessórios musicais tinha ficado junto ao coreto, onde se deu a explosão. «Alguns são recuperáveis outros não»,
diz o maestro, estimando «um prejuízo
que pode ascender aos 50 mil euros» e admitindo o cancelamento de «algumas iniciativas mais próximas»
Andrea Trindade – Diário de
Coimbra



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