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CHEIRA - Convívio de irmãos celebra longevidade



Quatro irmãos (duas mulheres e dois homens), com idades entre 87 e 98 anos, naturais de Penacova e residentes na Cheira, constituem, atualmente, no seu conjunto, uma das famílias mais idosas de Portugal. No total, os Flórido eram seis irmãos, todos vivos em 2015, mas o falecimento do mais velho nesse ano, com 103 anos de idade, e um outro, em junho passado, com 93 anos, reduziu o grupo familiar a Adelaide (98 anos), Casimiro (94 anos), Manuel (91 anos) e Lucília (87 anos).

À exceção de Adelaide, que vive com a família na Feira, os três restantes reuniram-se ontem em casa do primo emigrante António, em Cheira, que sempre que regressa ao país, em férias, gosta de celebrar a longa vida dos parentes mais antigos.

Considerando que se trata de “um registo inédito de longevidade”, o primo destaca principalmente que “todos os manos Flórido mantêm uma invejável lucidez, uma memória de elefante e uma razoável resistência física”.

Mesmo Adelaide, atualmente com 98 anos, conseguiu recuperar totalmente de uma queda que deu este ano, em que perdeu a consciência, voltando a ser autónoma nos seus movimentos.

A irmã Lucília, 11 anos mais nova, continua a residir em Cheira, sendo independente na lida diária, apenas apoiada numa bengala.

O irmão Casimiro (94 anos), renovou agora a carta de condução até aos 96 e Manuel (91 anos), embora já com problemas de vista, todos os dias, sempre que a meteorologia o permite, pratica a sua agricultura de subsistência.

Casimiro é o homem mais idoso do lugar. Mais conversador, recorda o episódio que mais marcou o filme da sua vida: o acidente ocorrido numa pedreira na zona do Caneiro, onde estava a trabalhar com o irmão António, entretanto falecido, e uma pedra se desprendeu lá do alto e apanhou a perna do irmão. Foi há 73 anos, mas recorda-se “como se tivesse sido hoje”. A vítima foi imediatamente transportada para os Hospitais da Universidade, mas parte da perna, abaixo do joelho, teve que se amputada.

Acidente há 85 anos

Lucília Flórido recorda – de ouvir contar – um acidente de que é, atualmente, a única sobrevivente. Assinalou-se, no passado 22 de agosto, os 85 anos de um desastre, numa época em que não havia jornais para relatar os factos. Um comboio abalroou, em Ceira, Coimbra, o autocarro onde seguia com mais 26 pessoas. Tinha apenas dois anos de idade e viajava com a mãe.

Entre mortos e feridos, houve 21 vítimas, com alguns a ficarem estropiados para o resto da vida. A pequena Lucília foi encontrada entre os carris, ilesa, com uma boneca nas mãos. Viúva há oito anos, encontra nos filhos (residentes em Lorvão e Coimbra) e nos dois manos que vivem na terra, um grande apoio, principalmente depois de uma vida de trabalho. Três dos quatro irmãos homens trabalharam na Companhia Elétrica das Beiras, tendo depois emigrado para a construção civil em França, Angola e Moçambique.

Todos eles já ultrapassaram a idade com que os pais morreram (80 e 82 anos), justificando a longevidade, “se calhar, pela vontade de viver, porque por terem tido boa vida é que não foi. Aos nove e dez anos já todos dávamos servidão, por isso pouco estudámos”.

António Rosado – Diário As Beiras


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