CIÊNCIA VIVA - Turbinas eólicas causam perda de habitat para aves planadoras migratórias
Um novo estudo, agora publicado no Journal of Animal Ecology,
demonstra que o impacto da produção de energia eólica na vida selvagem pode ser
maior do que se pensava; uma área com cerca de 650m a 700m de raio à volta de
cada turbina eólica é espaço de voo perdido para as aves planadoras. Os
investigadores recomendam o desenvolvimento de novas medidas reguladoras que
permitam conciliar a conservação da vida selvagem com a produção de energia
eólica em áreas importantes para a migração destas aves.
Milhafre-preto (Milvus migrans). Foto: Alejandro Onrubia |
Ao seguirem com equipamento GPS de alta-precisão o voo de
130 milhafres-pretos (Milvus migrans) numa região povoada por turbinas
eólicas, em Tarifa (sul de Espanha), e modelarem quais as áreas mais utilizadas
por estas aves tendo em conta as condições do vento e o relevo, os
investigadores verificaram que as turbinas eólicas causam uma perda
significativa de espaço de voo para estas aves.
“Os resultados
demonstram que em torno de cada turbina eólica existe uma área com cerca de
650m a 700m de raio que é menos utilizada do que o esperado tendo em conta o
seu potencial. Esta perda de habitat pode ser particularmente relevante para as
aves planadoras, que no seu voo de migração estão restritas a utilizar áreas
com condições de vento específicas. Para estas aves, pequenas perdas de área
adequada de voo podem ter um grande impacto na sua viagem migratória”,
explica Ana Teresa Marques, estudante de doutoramento no Centro de Ecologia,
Evolução e Alterações Ambientais – cE3c (Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa) e no CEABN InBIO e primeira autora do estudo.
O estreito de Gibraltar é uma região-chave para a
migração de aves de toda a Europa. A equipa internacional de investigadores
desenvolveu este estudo na região de Tarifa, no lado espanhol do Estreito de
Gibraltar, numa área de estudo que compreendia 160 turbinas distribuídas por
sete parques eólicos. Para acompanhar o voo das aves, os investigadores
utilizaram dispositivos de telemetria por GPS de alta resolução temporal (um
ponto GPS a cada minuto) e precisão de 1.5 metros. Para modelar as regiões mais
favoráveis ao voo destas aves, i.e. com correntes de ar térmicas ou orográficas
ascendentes, os investigadores utilizaram dados sobre o relevo e direção e
velocidade do vento.
Este é o primeiro estudo que quantifica a proporção de
habitat perdido ou negativamente afetado pela presença de parques eólicos para
as aves planadoras em migração. E os investigadores estimam que a magnitude do
impacto observado será semelhante em outras regiões do mundo importantes para
as aves migratórias e onde estão a ser construídos grandes projetos de energia
eólica, como no istmo de Suez, no Egipto, ou no istmo de Tehuantepec, no
México.
“O nosso estudo
demonstra que o impacto da produção de energia eólica vai muito além da
mortalidade por colisão, que já tem vindo a ser reportada para aves e morcegos.
Acreditamos que a produção de energia eólica é importante e necessária:
recomendamos que as autoridades reconheçam este impacto alargado da produção de
energia eólica e estabeleçam novas medidas reguladoras a aplicar em áreas
importantes para a migração de aves planadoras que permitam conciliar a
produção de energia eólica com a conservação da vida selvagem”, conclui Ana
Teresa Marques.
Este estudo foi desenvolvido em estreita parceria com o
Instituto Max Planck de Ornitologia (Alemanha), envolvendo investigadores da
Universidade de Lisboa, Universidade do Porto, Universidade Federal do Pará
(Brasil), Universidade de Málaga (Espanha), Instituto Norueguês para
Investigação da Natureza, Universidade de Konstanz(Alemanha) e Fundação Migres
(Espanha).
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