LISBOA + 21 - António Guterres reconhece que a sua geração falhou desafio da emergência climática
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres,
assumiu este domingo que a sua geração falhou numa resposta apropriada ao
desafio da emergência climática e que compreende agora que os jovens podem e
devem liderar esta luta. António Guterres falava no encerramento da Conferência
Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude 2019, que terminou hoje em
Lisboa, 21 anos depois de um evento semelhante e no qual participou e liderou
como primeiro-ministro português.
“Nestes 21 anos
percorremos todos um longo caminho”, disse António Guterres, lembrando que
em 1998 a Internet dava os primeiros passos e a ameaça existencial das
alterações climáticas não era ainda totalmente compreendida.
Cerca de 100 delegações de responsáveis pela área da
juventude de todo o mundo reuniram-se durante dois dias na Conferência Mundial
de Ministros Responsáveis pela Juventude 2019, onde foram debatidos temas
emergentes da juventude, entre os quais o desenvolvimento sustentável e a crise
climática.
“Este encontro da
juventude é particularmente importante, num momento em que há que reconhecer
que os dirigentes políticos da minha geração não têm estado à altura dos
desafios do nosso tempo e isso é particularmente grave nas alterações
climáticas. É muito reconfortante para mim ver que são hoje os jovens que
assumem a liderança e que – espero – possam levar os dirigentes políticos da
minha geração a colocar-se do lado certo da história”, reforçou António
Guterres aos jornalistas, já à saída da Conferência.
O secretário-geral das Nações Unidas, que começou por
discursar em português e posteriormente, em inglês, avançou aos congressistas
que, comparando com dados de há 21 anos, habitam hoje, no nosso planeta, “mais dois mil milhões de pessoas,
aproximadamente”, o que significa que “temos
hoje a mais numerosa geração jovem da história”.
António Guterres reconheceu que são estes jovens que
encaram “novos desafios”, de entre
falta de emprego, de educação, de saúde, “de
mães grávidas enquanto ainda crianças, mas também ‘bullying’ ‘online’ e assédio”.
“Sem [tomada de]
ação na emergência climática esta geração pode vir a encarar consequências
devastadoras. A declaração oferece uma forma de abordar estes desafios”,
sublinhou.
O responsável adiantou ainda que em setembro “os olhos do mundo vão estar em Nova Iorque”
para discutir a Agenda 21 e o Acordo de Paris, e a implementação dos seus
desafios, recordando que “só há 11 anos para conseguir evitar os impactos das
alterações climáticas”.
“Em ambos os casos
estamos a ficar para trás, não estamos a fazer o necessário”, reconheceu.
António Guterres afirmou também ser “claro que sem a impaciência, criatividade e inovação dos jovens não vai haver êxito” na
luta, esperando que alguns dos presentes na Conferência possam estar em Nova
Iorque, em setembro.
“A minha geração
falhou numa resposta apropriada ao desafio da emergência climática, e as
crianças nas escolas perceberam melhor o desafio que muitos líderes e, em
alguns casos, já estão a fazer a mudança”, admitiu.
O responsável considerou que os governos “estão a começar a ouvir” os jovens e
reconheceu que a sua geração começa agora a perceber que os jovens “podem e devem liderar” contribuindo
para os problemas avançando com soluções num quadro em que todos trabalhem
conjuntamente.
“Estou convosco neste
caminho que trilhamos juntos. As Nações Unidas estão convosco sempre que
fizerem frente a injustiça e trabalhemos convosco para prevenir conflitos e
promover a paz”, garantiu António Guterres. Segundo o responsável, a parceria
da ONU com a juventude “está plasmada na estratégia 2030 para tornar a
organização das Nações Unidas num líder no trabalho com os jovens, que
compreenda as necessidades destes e assegure que as suas opiniões são escutadas”.
“Hoje vivemos uma
hora de mudança e queremos trabalhar no acesso à educação e saúde, assim como
promover o pleno envolvimento da juventude nos processos decisores sobre estas
matérias a nível local, nacional e global”, frisou António Guterres.
“Encorajo-vos para
que continuem a traçar metas ambiciosas e a testar limites”, afirmou.
Em 1998, o Governo Português, em cooperação com os
parceiros do Sistema das Nações Unidas, organizou a Conferência Mundial de
Ministros Responsáveis pela Juventude, que se tornou um marco no trabalho em
torno das políticas de Juventude.
Na Declaração final, ministros e demais líderes mundiais
presentes, comprometeram-se a trabalhar com a Juventude num conjunto de
políticas e programas que fossem ao encontro das preocupações dos jovens e
melhorassem as suas vidas.
Estes compromissos cobriam as áreas prioritárias do setor,
tal como definido no Programa Mundial de Ação para a Juventude, adotado em 1995
pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
Agora, os Estados são chamados a intensificar os seus
compromissos para integrar a perspetiva da Juventude na implementação da Agenda
2030 e da Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude 2019 e
do Fórum da Juventude “Lisboa+21”
resultará uma Declaração renovada sobre Políticas e Programas de Juventude
(Lisboa+21), no quadro da Agenda 2030.
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