OBESIDADE INFANTIL - Alimentos com mais gorduras, açúcar e sal vão ser banidos da publicidade para crianças
Os produtos
alimentares que mais aparecem na publicidade para crianças são também os que
vão ter mais restrições a partir de outubro, sejam refrigerantes ou bolachas ou
outros alimentos com excesso de açúcar.
A
tabeja que define o perfil dos alimentos e bebidas com publicidade dirigida a
menores de 16 anos é publicada esta quarta-feira em Diário da República, num despacho que entra em vigor dentro de 60 dias.
O
perfil nutricional surge no seguimento da lei aprovada em abril, destinada a
restringir determinada publicidade dirigida a crianças. A lei então aprovada
incumbia a Direção-Geral da Saúde de identificar os produtos alimentares com
elevado valor energético, teor de sal, açúcar, ácidos gordos saturados e ácidos
gordos trans.
"Provavelmente as categorias mais atingidas
(pelas restrições) são também as que mais publicitam", disse à Lusa a
diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS),
Maria João Gregório, ressalvando que se trata de uma medida apenas para
restringir a publicidade alimentar dirigida a crianças, e devendo ser
essencialmente afetados produtos como refrigerantes e outras bebidas
açucaradas, chocolates, produtos de confeitaria e pastelaria, bolachas, cereais
de pequeno-almoço ou refeições prontas a consumir.
A tabela, a que a Lusa teve acesso, foi
construída tendo em conta as sugestões da Organização Mundial da Saúde (OMS),
legislação europeia, investigação científica e a realidade nacional, disse a
responsável.
Dentro de dois meses, produtos como chocolates ou barras
energéticas podem ter a publicidade limitada se tiveram mais de 40 kcal
(quilocalorias), ou mais de cinco gramas de açúcar ou 1,5 gramas de ácidos gordos
saturados por cada 100 gramas.
"Estes
são os valores-limite definidos para estas categorias, porém estes valores
diferem entre as diferentes categorias de produtos alimentares",
alerta a DGS num comunicado.
Maria João Gregório também o diz. Que os valores limite
foram definidos categoria a categoria. "Para algumas categorias podemos ser mais permissivos, na medida em que
temos valores mais elevados porque no global essa categoria tem um valor
nutricional interessante". E exemplificou com os iogurtes, com valores
limite mais elevados do que chocolates, bolachas e bolos, produtos que não
devem fazer parte de um "padrão
alimentar saudável".
É por isso que na categoria de iogurtes foram analisados
93 e desses 28% "estão aptos".
"Nas categorias com valor nutricional
importante o objetivo foi definir um perfil que permitisse que os melhores
perfis possam estar considerados aqui. Tal até pode ser um incentivo à
reformulação de outros iogurtes com mais açúcar", acrescentou.
A diretora do PNPAS reconheceu que o modelo que hoje é
publicado teve como base de trabalho o modelo da OMS mas com adaptações.
Questionada pela Lusa negou que o modelo português seja menos restritivo e
disse que por exemplo nos cereais de pequeno almoço o modelo da OMS é mais
permissivo. Mas, concluiu, comparando a aplicação dos dois modelos a quase
2.500 produtos "as diferenças em
geral não são muitas".
Certo é que, dentro de dois meses, produtos com o que
for considerado excesso de açúcar, sal ou gordura têm a publicidade vedada em
programas infantis ou outros, genéricos, cuja audiência seja superior a 25% de
jovens com menos de 16 anos, e também em outras plataformas, como a publicidade
em cartazes perto das escolas ou parques infantis, nas rádios, no cinema, ou
mesmo na internet, neste caso mais difícil de fiscalizar e algo "em que se está a trabalhar", com a
ajuda da OMS.
Da lista fazem parte muitos mais produtos além dos
chocolates, bolos ou refrigerantes, néctares e sumos de fruta. Está também, por
exemplo, o leite achocolatado ou aromatizado, a manteiga, os queijos e pão, os
preparados de carne ou mesmo as conservas.
Maria João Gregório não tem dúvidas. A lei também serve
para mudar os hábitos alimentares, que se formam numa idade mais precoce e que
se mantém na vida adulta, pelo que é importante que se promovam hábitos
alimentares saudáveis junto dos jovens.
"A lei tem
como objetivo limitar o estímulo ao consumo de alimentos menos saudáveis, ou
não saudáveis. A verdade é que a investigação científica diz que a publicidade
tem impacto no consumo alimentar das crianças, com impacto no seu estado de
saúde na infância e depois na idade adulta", salientou a responsável à
Lusa, frisando que mudar comportamentos pode ter uma influência significativa
na saúde, algo que a OMS também considera muito importante.
"Esta pode
ser de facto uma medida muito importante. Portugal tem tido nesta área uma
estratégia concertada e os resultados começam a aparecer, nomeadamente na
diminuição do excesso de peso nas crianças", disse também Maria João
Gregório, lamentando que 30% das crianças em Portugal tenham ainda excesso de
peso.
O Perfil Nutricional foi feito pelo PNPAS no seguimento
da aprovação da lei 30/2019, que introduz restrições à publicidade dirigida a
menores de 16 anos de géneros alimentícios e bebidas que contenham elevado
valor energético, teor de sal, açúcar, e gorduras, alterando o Código da
Publicidade.
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