ILUSTRES (DES)CONHECIDOS: Fernando Augusto de Andrade Pimentel e Melo (1836-1892)
Fernando Augusto de Andrade Pimentel e Melo nasceu em Penacova em 1836. Filho do Bacharel Fernando António de Andrade Pimentel e Melo e de Joaquina Emília Augusta de Melo, casou em S. Miguel de Poiares em 30 de Agosto de 1866 com Maria Júlia Godinho de Sousa.
Doutorou-se em Medicina em 30 de Julho de 1862. Na Universidade de Coimbra foi professor catedrático (1870) onde já lecionava desde 1865. Regeu várias cadeiras, entre as quais, “Medicina Legal, Higiene Pública e Polícia Higiénica”. Foi Director do Hospital dos Coléricos e do Asilo da Mendicidade de Coimbra ou dos Expostos e médico do Seminário Diocesano. O vol. XL (1893) de “O Instituto”, por ocasião da sua morte, refere que Fernando de Mello fora “exímio professor, distintíssimo orador e notável clínico.” Enquanto médico e professor universitário publicou “Da albuminúria nas mulheres grávidas” (1862) e “Instruções contra a Cólera-Morbus” (1885).
Fernando de Melo distinguiu-se também na política. Foi dirigente do Partido Regenerador em Penacova e Procurador à Junta Geral do Distrito de Coimbra por este concelho (e pelo concelho de Poiares). De 1876 a 1877 e de 1878 a 1879 esteve à frente do Governo Civil de Coimbra. O seu nome integra também a lista dos Presidentes da Câmara Municipal de Coimbra, cargo que exerceu de 1874 a 1875. Foi ainda Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra e agraciado com a Grã-Cruz de Isabel a Católica.
É de referir também a sua notória intervenção política enquanto deputado. Nesse sentido se lhe referiu “O Instituto” nos seguintes termos: “Possuía notáveis dotes de orador, tinha a palavra inspirada, fisionomia atraente, ideias elevadas, polidez na dicção e perspicácia no argumentar”.
Na Câmara dos Deputados afirmou em 1870 que, apesar de ter a obrigação de defender a nação e de proteger os interesses de todos, tinha de defender em primeiro lugar os interesses daqueles que o “honraram com a sua confiança” não esquecendo o círculo que o elegera.
Por influência sua, em 1867 o concelho de Penacova passou a agregar as freguesias de Poiares, Almaça, Cercosa e S. Paio. Só que, passado um mês, na sequência do movimento que ficou conhecido por “Janeirinha” o despacho de Martens Ferrão foi anulado. “Uma existência de rosas”, na expressão dos progressistas penacovenses, seus rivais na política local.
Uma curiosidade. Quando está na ordem do dia a questão das touradas, recorde-se que já em Julho de 1869 foi apresentado na Câmara dos Deputados um projecto de lei para proibir as corridas de toiros. Tendo como proponente Alves Mateus, o documento era subscrito por 17 deputados, entre os quais Fernando Augusto Andrade Pimentel de Melo.
Em tom sarcástico, mas amistoso, Bulhão Pato (no livro “Memórias”) dedica a Fernando de Melo os seguintes versos:
É filho de Pena Cova
Este doutor transcendente.
Arreda de lá tal pena,
Que traz a cova no dente!
De Pena Cova saiu
Fernando de Melo um dia
Sabem que fez? Quem diria!...
A quantos doentes viu,
Co’a pena, a cova lhe abriu!
Fernando de Melo faz parte da toponímia da vila de Penacova desde 1902, perpectuando a memória deste ilustre penacovense, que acabou por morrer vítima da tuberculose com apenas 56 anos.
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