INVESTIMENTO - Obras no IP3 dão esperança de viagens mais seguras
A requalificação do Itinerário Principal (IP) 3, entre
Viseu e Coimbra, saiu finalmente do papel, deixando quem a usa regularmente com
a esperança de viagens mais seguras, mas os prazos previstos não descansam os
autarcas.
No final de maio, foram consignadas as obras de requalificação do
troço do IP3 entre os nós de Penacova e da Lagoa Azul (16 quilómetros) e, neste
momento, "estão a ser executados
trabalhos de fresagem, tratamento de fundações quando necessário e execução de
pavimentos", disse à agência Lusa fonte da Infraestruturas de
Portugal.
"A requalificação do
IP3 remedeia, mas não resolve. Devia haver uma autoestrada alternativa",
considerou a professora Florbela Correia, que vive em Tondela, mas
está colocada no agrupamento Rainha Santa Isabel, de Coimbra, desde 2015.
Desde então, em tempo de aulas, a sua rotina passa por sair
de casa antes das 08:00, encontrar-se com duas colegas com quem partilha as
viagens e seguir pelo IP3, até à saída de Souselas.
"Levamos o
carro alternadamente. Em média, cada uma leva duas vezes por semana. Depois de
um ano de experiência, decidimos fazer assim, porque conduzir cinco dias
seguidos no IP3 tornava-se muito cansativo. Não é uma estrada fácil",
contou.
Neste anos, Florbela e as colegas já apanharam
vários sustos. O maior foi num dia em que "chovia torrencialmente, o carro apanhou água, despistou-se,
bateu à direita e bateu à esquerda, numa zona de duas faixas", junto à
livraria do Mondego.
"Não sofremos
ferimentos e fomos trabalhar. Tontas, mas fomos", acrescentou a
professora, esperançada de futuramente não apanhar tantos sustos no
IP3.
Os bombeiros de Tondela também conhecem bem esta estrada,
quer para sul, quer para norte, já que transportam diariamente doentes para
Coimbra, Viseu e Vila Real.
"Usamos o IP3
não só para transportar doentes emergentes para Viseu e Coimbra, mas também
para transportar doentes não urgentes para Viseu, Coimbra e Vila Real",
contou o comandante da corporação, Nuno Pereira.
Há dias em que os bombeiros de Tondela fazem 20 viagens no
IP3, outros em que esse número duplica, apanhando vários tipos de situações
pelo caminho.
"Temos de parar
para prestar o auxílio necessário e fazer a solicitação dos meios adequados.
Encontramos desde acidentes rodoviários a incêndios nos veículos, passando
pelos incêndios florestais", referiu.
Segundo Nuno Pereira, este tipo de situações nem sempre é
fácil de gerir, sobretudo "quando
se faz com muita fragilidade o transporte de doentes, que necessitam de uma
atenção diferente", mas acabam por ficar "encarcerados na estrada".
António Azevedo é motorista de longo curso, percorrendo
habitualmente estradas de Portugal, Espanha e França, e não tem dúvidas de que
o pior troço em que circula é o IP3 entre Souselas e a saída de
acesso ao IC6.
"Não tem
condições nenhumas. Nem sei como não há lá mais mortes", frisou.
Motorista há 29 anos, António Azevedo trabalha para uma
empresa que tem instalações na zona industrial do Louriçal, em Pombal, e é
obrigado a circular no IP3 três a quatro vezes por mês.
"Quem lá passa
mais vezes já está habituado e conduz com precaução. Todo o cuidado é pouco",
considerou, mostrando-se, contudo, otimista, já que "finalmente vão fazer alguma coisa e o IP3
vai deixar de ser uma estrada ao abandono".
Autarcas que há muito reclamam uma solução para a
ligação entre Viseu e Coimbra estão satisfeitos com o avanço das obras, mas
desiludidos com os prazos apontados pelo Governo.
"Está uma
pequena obra a ser feita (entre Penacova e a Lagoa Azul), que não deixa de ser
uma obra de manutenção. Quanto ao resto do IP3, o projeto só vai estar
pronto em 2021", lamentou o presidente da Câmara de Viseu,
Almeida Henriques, considerando que as obras, "seguramente, não estarão concluídas" no primeiro semestre de
2024.
Na sua opinião, "a viciação está no prazo para o projeto:
como é que numa obra tão urgente se podem dar dois anos para a feitura do projeto?"
Também o presidente da Câmara de Tondela, José António
Jesus, olha para os prazos anunciados "com alguma apreensão".
O IP3 atravessa o concelho de Tondela numa extensão de
cerca de 20 quilómetros.
"Gostaríamos
que fossem prazos mais curtos ou, se possível, iguais aos referidos
inicialmente", afirmou.
Na sua opinião, é importante "que se mantenha este acordo para além do ciclo eleitoral, com o próximo
Governo a manter a estratégia de elaboração de projeto para, daqui
por dois anos, se dar então início à duplicação".
Se for tudo executado, "devolve-se dignidade a uma estrada que há muito não cumpre as condições
de segurança e comodidade a que os utentes têm direito", considerou.
As obras de requalificação do troço entre
Penacova e a Lagoa Azul, que têm um prazo de execução de 330 dias, representam
um investimento de 11,8 milhões de euros.
Os 75 quilómetros do IP3 entre Viseu e Coimbra vão implicar
um investimento total de 134 milhões de euros.
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