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ILUSTRES [DES]CONHECIDOS - Alípio Barbosa de Oliveira Coimbra (1865-1956)

Alípio Barbosa de Oliveira Coimbra 

Alípio Barbosa de Oliveira Coimbra era natural de Figueira de Lorvão, onde nasceu a 7 de Agosto de 1865. Filho de Bernardo Álvares Barbosa, natural daquela localidade, e de Maria Jesuína de Oliveira Coimbra, natural de Gondelim. Faleceu a 23 de Abril de 1956.

Estudou Medicina na Universidade de Coimbra e em 1892 foi nomeado médico interino  em S. Pedro de Alva tendo, no ano seguinte, obtido a nomeação definitiva. Em 1917, no impedimento do Dr. Bernardo Pedro de Almeida Baptista, foi nomeado interinamente para ''facultativo do partido médico'' daquela freguesia.

Casou com Maria José Leitão, filha do Conselheiro Alípio Leitão, ficando viúvo prematuramente. A sua filha, Maria Pureza Leitão, acabou por ser criada pelos tios, Palmira Leitão e Luís Sereno. Do segundo casamento, com Maria do Amparo, teve mais duas filhas: Maria da Natividade Oliveira Coimbra e Júlia Álvares Oliveira Coimbra

Mais conhecido como fundador da Cerâmica Estrela de Alva[1], apesar de se ter licenciado em Medicina.  Em 1903, com seu irmão, Augusto Barbosa de Oliveira Coimbra, que exercia as funções de professor primário em Figueira de Lorvão, fundou a Estrela d´Alva, fábrica que iria ter uma existência centenária, fechando as suas portas já na segunda década do nosso século.

Obra publicada aquando do
cinquentenário da fábrica de cerâmica
“Foi um autêntico e esclarecido gestor, tendo-se, inclusive, deslocado à Pampilhosa e, posteriormente, ao estrangeiro, a fim de visitar fábricas de cerâmica. Da sua viagem ao estrangeiro deixou uma interessante descrição, com considerações úteis sobre alguns dos bloqueios com que a indústria cerâmica se debatia em Portugal .” – recorda José Amado Mendes.

Recebeu a Comenda da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial em 3 de Agosto de 1952.

Alípio Barbosa distinguiu-se também enquanto fervoroso republicano[2]. É nas "Memórias de um Industrial", uma série de artigos publicados no Notícias de Penacova (Outubro de 1932), jornal de que era fundador e director o seu sobrinho, José de Gouveia Leitão, que relata a sua passagem pela política.

A minha figura como médico foi apagada. Um João Semana, como qualquer outro. Como político foi mal interpretada a minha atitude. Republicano desde os bancos da Escola, nunca fui de exibicionismos. Ligado a uma família de políticos era natural o meu interesse pelo partido em que eles militavam. O partido Republicano só estava organizado nas lojas maçónicas e, para essas, recusei-me sempre a entrar. Pensador livre, o que é muito diferente de livre-pensador, todos os sectarismos fanáticos me repugnavam […] Em minha casa se reuniam os políticos e se nunca pedi um voto, dei o meu apoio moral e aconselhei a que votassem naqueles que mais serviços podiam prestar à região. Já, pois, procurando ser útil, alguns serviços prestei.

Os políticos obcecados pela intransigência partidária, não podiam aceitar de bom grado a minha independência. Não compreendiam que era outro o meu ideal e só esperava a oportunidade para trabalhar por ele. O meu romantismo parecia, aos olhos dos políticos, incoerência e duplicidade.

Chegou o momento em que o partido Republicano procurou organizar-se na província e logo organizei a primeira comissão municipal Republicana. Essa atitude criou-me más vontades na família e nos amigos. Vieram as eleições, trabalhei para que fosse honrosa a representação republicana e na aura do romantismo republicano fiz-me propagandista.

Passo de leve sobre estes factos e acontecimentos […] Desavenças políticas, ódios pessoais e intrigas mesquinhas, insinuações caluniosas, de tudo tive. Sempre idealista e sempre romântico, não podiam compreender-me os homens e muito menos os políticos, regra geral, utilitaristas. Chegou a ser estribilho a minha incoerência, definida pela frase consagrada – ''coisas do Alípio''. […] É que eu só tinha uma coerência, a que resultava da harmonia dos meus actos com o meu modo de pensar. E essa coerência, raro deixa de acarretar dissabores, porque é pouco acomodatícia, principalmente nos individualistas ferrenhos como eu era. Deixemos a política que na minha vida foi mero incidente, passemos à história da minha vida industrial.


Também nos jornais locais deixou bem expressos os seus ideais e as suas críticas. Veja-se o Jornal de Penacova de 29 de Março de 1908 onde escreve:



Alípio Barbosa quando
estudante de Medicina
''Saibamos todos cumprir o nosso dever cívico rasgando esse passado ignominioso e o povo levantar-se-á do pesado letargo em que tem vegetado, despertando para a vida luminosa da República, porque reconhecerá que só aí está a sua própria salvação e a da pátria''. Em Maio seguinte, lança um apelo a todos os republicanos: ''Vamos para a luta, visto que ela é já inevitável; não serei eu que deserte […] agora que todos os soldados são precisos ao grande exército da República''.

᷑ David Gonçalves de Almeida




[1] Paula Cristina Ferreira Silva, Cerâmica Estrela d’Alva 100 anos de história, Estrela d’Alva – São Paio do Mondego: Cerâmica Estrela d’Alva – Barbosa Coimbra, S.A, 2004.
[2] David Almeida, Penacova e a República na Imprensa Local, Câmara Municipal de Penacova, 2011


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