CONSUMO - União Europeia “inundada” por brinquedos tóxicos chineses, alerta relatório
Os países da União Europeia estão a ser
"inundados" por brinquedos tóxicos, a maioria de plástico e com
origem na China, que estão a ameaçar a saúde das crianças, alerta um relatório.
O documento a que a Lusa teve acesso é da
responsabilidade do Gabinete Europeu do Ambiente, uma rede europeia de cerca de
150 organizações não-governamentais de ambiente, de mais de 30 países.
É referido inclusivamente que foram encontradas
contaminações perigosas por ftalatos (composto químico para deixar
plástico mais maleável e considerado cancerígeno) em crianças em 13 de 15
países analisados.
Segundo os números divulgados pela organização, só este
ano as autoridades nacionais bloquearam a venda de 248 modelos de
brinquedos, por revelarem em testes níveis ilegais de produtos químicos
tóxicos.
Destes, 228 (92%) foram catalogados como de
"risco grave", 219 (88%) vinham da China, e 127 (51%) estavam
contaminados com ftalatos.
Uma máscara detetada na Alemanha tinha 43% de ftalato e
produtos encontrados na Polónia e em França também estavam "seriamente contaminados", diz o
Gabinete Europeu do Ambiente (European Environmental Bureau, EEB), que cita o
Rapid Alert System da União Europeia (para produtos não alimentares).
Os brinquedos não foram os únicos produtos confiscados
por conterem produtos tóxicos, mas também veículos a motor e
eletrodomésticos entre muitos outros.
Nos documentos a que a Lusa teve acesso as
referências a Portugal são essencialmente em relação a produtos tóxicos em
automóveis. Outros países reportaram, além de brinquedos, desde cadeiras para
transportar crianças nos automóveis (Bulgária), roupas para crianças (Chipre),
cosméticos (República Checa), andarilhos para bebé (França) ou equipamentos
luminosos e elétricos (Itália).
No inverno passado as autoridades alfandegárias de quatro
países fronteiriços da União Europeia já tinham anunciado que tinham sido
feitas inspeções a 2,26 milhões de brinquedos de plástico chineses, na
sequência das quais tinham impedido a entrada na Europa de 722.598 brinquedos,
com níveis ilegais de ftalatos. Foram destruídos 31.590 brinquedos.
Dos brinquedos contaminados a grande maioria (92%)
tinham a marca de segurança CE do fabricante. A marca CE quer dizer que o brinquedo
cumpre a legislação em vigor. Os produtos apreendidos, apesar de ostentarem a
marca, não cumpriam a legislação europeia em termos de saúde, segurança e
padrões ambientais.
A EEB lembra que já foi feito um grande estudo em
vários países da União Europeia, um deles Portugal, envolvendo crianças dos 6
aos 11 anos e as suas mães e analisando a exposição a vários produtos. Foram
encontradas na altura em quase todos os países crianças contaminadas por
ftalatos, em média o dobro das mães, mas também houve níveis de contaminação
que chegaram a 12 vezes mais do que as respetivas mães.
"A Agência
Europeia de Produtos Químicos (com sede na Finlândia) concluiu que a situação
não é controlada adequadamente", diz a EEB, que acrescenta que "a Diretiva Europeia sobre segurança dos
brinquedos exclui a produção envolvendo muitos produtos químicos nocivos, mas
negligencia outros", além de que "existem evidências" de que está a ser comercializado plástico
reciclado, para brinquedos, que contém "substâncias proibidas", e que se vendem brinquedos "com substâncias legais em concentrações
ilegais".
A EEB lança esta quinta-feira uma campanha de
consciencialização para o problema, afirmando que é altura de as empresas
deixarem de pôr produtos tóxicos nos brinquedos.
A responsável pela área na EEB, Tatiana Santos, diz,
citada no documento, que os inspetores fazem um bom trabalho, mas questiona
quantos brinquedos perigosos entram na Europa sem serem detetados.
Tatiana Santos lembra que as crianças são vulneráveis e
salienta que a indústria deve "despertar
rapidamente" para o problema e que os importadores devem pressionar os
fornecedores chineses. E defende "leis
mais duras" e que os brinquedos sejam etiquetados com a composição
química.
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