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ILUSTRES [DES]CONHECIDOS - Abel Rodrigues da Costa (1902-1990)



“Achará a vila que o nome de Abel Rodrigues da Costa posto em letras só visíveis ao microscópio e quatro palmos de rua é homenagem condigna? Não mereceria este apaixonado bairrista um busto de bronze no lugar mais central do largo vulgarmente conhecido pelo Terreiro?” – questionava Oliveira Cabral, em 1957, considerando que Penacova estava em dívida para com este grande benemérito.

Abel Rodrigues da Costa nasceu em Penacova no dia 20 de Agosto de 1902, filho de Libório da Costa, barqueiro, e de Maria Cândida, doméstica, naturais e moradores na vila. Neto paterno de Bento da Costa e Maria Carolina e materno de Luís Rodrigues Perpéctuo e Ana de Jesus. Baptizado a 12 de Outubro daquele ano por José Maria da Conceição Leite, teve como padrinhos António Carlos Montenegro (funcionário da Fazenda) e sua mulher Joaquina Augusta.

Com 21 anos rumou ao Brasil onde já se encontravam dois irmãos, com os quais trabalhou. No Rio de Janeiro singrou na vida como empresário da indústria de carnes verdes, celebrizando-se com a marca “O Porco que Ri”. A firma “Abel Rodrigues da Costa & Cª Lda” era proprietária do “Açougue Universal” e das filiais “Grande Açougue da Lapa” e “Salsicharia Olímpica”.

Além da actividade empresarial, o Comendador Abel Rodrigues da Costa (em 1953 foi condecorado, pelo Estado Português com a distinção de “Cavaleiro da Ordem de Benemerência”) foi presidente da Casa das Beiras e Beneficência Portuguesa e membro das direcções  do Ginásio Clube Português e do Clube Português de Leitura, no Rio de Janeiro.

Com frequência visitava a sua terra natal e contribuía com avultadas verbas para a concretização de muitas obras públicas, apoio a instituições e donativos regulares a pessoas carenciadas. A ele muito ficaram a dever a Câmara Municipal, os Bombeiros, a Misericórdia (principalmente  o Hospital), a Filarmónica, a Igreja e as Capelas.

Em 1947 ofereceu à Câmara 30 000$00 para o ajardinamento do Terreiro, mais tarde, 500 contos para apoio construção de parque de estacionamento entre a Pensão Avenida e Capela de S. João.

Em 1946, a 15 de Agosto, aquando da sua primeira visita depois de ter emigrado, foi homenageado no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Presentes, além de outros,  o Dr. Luís Duarte Sereno, Dr. Manuel Sales Guedes, Álvaro Alberto dos Santos (seu sobrinho e na altura regente da “Banda dos Bombeiros”), Prof. Oliveira Cabral (jornalista do “Comércio do Porto” a veranear em Penacova, que mesmo ali alvitrou a atribuição do nome daquele benemérito a uma artéria da vila), D. Raimunda Martins de Carvalho (“brasileira” há muito penacovense) e o Pároco de Penacova.

A sugestão de Oliveira Cabral foi acolhida e, na segunda metade da década de cinquenta do século passado, foi atribuído o nome da Abel Rodrigues da Costa à artéria que liga a capela de S. João à Igreja Matriz. Também nesta altura, mais do que a placa toponímica, se entendeu que seria de toda a justiça a edificação de um busto em local central da vila. Proposta  que nunca chegou a ver a luz do dia.

Em 1951, no contexto do Cortejo de Oferendas para o Hospital da Misericórdia, coordenou no Brasil uma subscrição que rendeu 70000$00, uma verba bastante significativa para a época.

Visitou novamente Penacova em 1952. Recebido entusiástica e solenemente em 7 de Junho foi homenageado, na hora de voltar ao Brasil, com um Jantar de Despedida que teve lugar na Pensão Avenida. Usaram da palavra os Drs.  Augusto Leitão, Viegas Pimentel, Alípio Barbosa, Augusto Coimbra e o pároco de Figueira de Lorvão. 

Em 1956 veio a Penacova para assistir à conclusão “do seu belo prédio junto ao parque municipal”, desenhado e construído sob a supervisão do Eng.º Rui Castro Pita.

Em 1969 esteve mais uma vez na sua terra natal. Na despedida, ofereceu 5000$00 à Misericórdia e, aos Bombeiros, deu o seu automóvel para ser sorteado em favor da Corporação.  Deixou ainda  200 contos para a Estrada no interior da Cheira, 1000$00 para o Notícias de Penacova (em 1984, entregará também 5000$00 ao Nova Esperança) e dinheiro para ser distribuído pelo Natal a pessoas necessitadas.

No 80º aniversário do nascimento, em 1982, Abel Rodrigues da Costa encontrava-se em Penacova. A Câmara, presidida pelo Dr. Joaquim Leitão Couto, prestou-lhe uma homenagem, visitando-o na sua residência e manifestando-lhe o reconhecimento concelhio pelo apoio ao Hospital da Misericórdia, ao embelezamento do Mirante, aos Bombeiros e a muitos penacovenses com dificuldades económicas (a título de exemplo, refira-se que em 1947 ofereceu quarenta pares de calçado para crianças pobres).

A ele se deveu também a compra de todo o equipamento para a sala de operações do Hospital (1951), o apoio ao Asilo de Figueira de Lorvão e a abertura da avenida de acesso ao Mirante (1951), hoje com o nome de Bissaya Barreto e, mais tarde, o financiamento da construção da estrada para o Penedo do Castro (1973). 

Sempre atento, Oliveira Cabral  escreveu a propósito da estrada do Mirante que, não sendo possível o busto por falta de verbas, que ao menos fosse ali colocada uma lápide com os seguintes dizeres: “A ABEL RODRIGUES DA COSTA, A CUJAS EXPENSAS SE CONCLUIU ESTA ESTRADA, GRATIDÃO IMORREDOURA DO POVO DE PENACOVA”.

Abel Rodrigues da Costa foi casado com Vita Soares Perpéctuo, falecida em 20 de Janeiro de 1977. Por sua vez, o dia do seu falecimento chegará com a data de 5 de Novembro de 1990, quando se encontrava na cidade onde passou a maior parte da sua vida, apesar de o seu pensamento estar muitas vezes, neste lado do Atlântico, na sua Penacova.

 ⇛ David Gonçalves de Almeida 



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