REFLEXÕES - Utopias e sociedade local
As utopias [à letra, lugares que não existem] estão fora de
moda. A de Thomas More data de 1516. Desde então, seja por desilusão histórica,
rendição pragmática, desmobilização generalizante, a militância enfraqueceu, o
descontentamento vai-se contentando e a demissão indiferente delega ‘neles’ a
responsabilidade. A instalação clássica da política em aparelhos formais
rígidos converteu-a em partidarismo, escureceu o seu lado de serviço ao bem
comum e circunscreveu-a ao financeiro. Se antes as lutas tinham objetos
exteriores concretos, identificados como origens dos males, na
contemporaneidade a complexidade aumenta, porque as causas da fragilidade
social parecem radicar em subterrâneos de difícil alcance ou em bastidores de
acesso reservado. A discussão é frequentemente de trincheirismo ideológico, de
fanatização religiosa e pessoalização deseducada.
Pelo menos, três possibilidades. Submeter as dinâmicas pessoais e comunitárias a um cenário acolhido como fatalidade inevitável e assumir a rendição da autonomia, da liberdade e da inteligência. A ameaça da deterioração desaconselha! Esperar, em sentido forte e pagando o[s] preço[s] respetivo[s], sem vergar na verticalidade, alterações paradigmáticas profundas e revoluções estruturantes. Um martírio inconsequente é desinteressante! Firmeza de esperança, denúncia incisiva e profecia desassombrada em relação ao macro mundo, conjugadas com um empenhamento concreto em revoluções paradigmáticas nos princípios e pragmáticas nos projetos ao nível do [nosso] micro mundo. Re-inventar nichos criativos de novas militâncias faz todo o sentido!
É a ‘questão social’ o foco desta reflexão. E esta parece demasiadas vezes enredada, em nome da bondade da gestão dos recursos humanos, num pragmatismo rasteiro, quezilento, focado na manutenção do ‘de sempre’, centrado na identificação do erro e na culpabilização de alguém. Parece balizada pela fronteira curta de um financeirismo obsessivo, que, em nome da bondade do rigor, coloca o lucro num patamar superior ao da solidariedade. Parece ancorada, em nome da bondade da transparência, numa burocracia desumizadora, que mantém estatutos, consome tempo, inibe a delegação de responsabilidades, emperra dinâmicas, aprisiona a criatividade e compromete o crescimento.
Por equilíbrio pessoal, como alavanca comunitária e por seriedade de fundamentação intelectual, importa que os diagnósticos sinalizem a[s] positividade[s] reais e possíveis.
Assim, é estruturante e frutífero a médio-longo prazo todo o caminho de aposta na educação, na formação permanente das pessoas e das comunidades, na atração de conhecimento. É algo do âmbito do fermento e menos da[s] massa[s], do investimento opcional e não do custo, do retorno intangível e não do lucro!
É fundamentador o aproveitamento da nossa escala – próxima, humana, percorrível, comunicável-, da nossa identidade geográfica única e diferenciadora e da nossa localização territorial, próxima de muito do melhor. É a esfera da aposta nas pessoas, menos que nas estruturas, da perspetivação do futuro, menos que no resultadismo no presente, nas convicções profundas, menos que nas opiniões circunstanciais!
É uma utopia animadora, no sentido forte de nos dar ‘alma interior’ para prosseguir, apostar na família, com novas configurações humanizantes, como célula nuclear da coesão social. Esse é o ‘habitat’ natural e melhor do nascimento, do desenvolvimento e da morte. No limite, ainda que uma vez mais no reino da utopia, essa aposta sem reservas levaria a ação social a reconverter os seus programas de cuidado dos mais vulneráveis, enfraquecendo ou até mesmo anulando o peso da resposta clássica institucional. Numa sociedade ideal, aliás, a resposta social com a formalidade com que a conhecemos, serviria somente para o emergencial, dado que as famílias teriam condições para se manterem como protagonistas principais dos cuidados com os seus. Haverá espaço para, pelo menos, colocar tal pensamento em agenda ou interessará perversamente que os pobres se perpetuem, para garantir o lugar de um conjunto de estruturas, pessoas e serviços?
A frase bíblica “sempre tereis convosco os pobres” [Jo 12,8], convém recordá-la não como rendição à inevitabilidade da pobreza, mas como humilde banho de realidade, que ensina que a nossa solução individual nunca será chave dos problemas, mas um contributo apenas relativo. Para concluir com um aforisma popular, a resposta social ampla será a soma de ‘dar a cana’, ‘ensinar a pescar’ e ‘dar peixe’, de acordo com o discernimento das circunstâncias.
Pelo menos, três possibilidades. Submeter as dinâmicas pessoais e comunitárias a um cenário acolhido como fatalidade inevitável e assumir a rendição da autonomia, da liberdade e da inteligência. A ameaça da deterioração desaconselha! Esperar, em sentido forte e pagando o[s] preço[s] respetivo[s], sem vergar na verticalidade, alterações paradigmáticas profundas e revoluções estruturantes. Um martírio inconsequente é desinteressante! Firmeza de esperança, denúncia incisiva e profecia desassombrada em relação ao macro mundo, conjugadas com um empenhamento concreto em revoluções paradigmáticas nos princípios e pragmáticas nos projetos ao nível do [nosso] micro mundo. Re-inventar nichos criativos de novas militâncias faz todo o sentido!
É a ‘questão social’ o foco desta reflexão. E esta parece demasiadas vezes enredada, em nome da bondade da gestão dos recursos humanos, num pragmatismo rasteiro, quezilento, focado na manutenção do ‘de sempre’, centrado na identificação do erro e na culpabilização de alguém. Parece balizada pela fronteira curta de um financeirismo obsessivo, que, em nome da bondade do rigor, coloca o lucro num patamar superior ao da solidariedade. Parece ancorada, em nome da bondade da transparência, numa burocracia desumizadora, que mantém estatutos, consome tempo, inibe a delegação de responsabilidades, emperra dinâmicas, aprisiona a criatividade e compromete o crescimento.
Por equilíbrio pessoal, como alavanca comunitária e por seriedade de fundamentação intelectual, importa que os diagnósticos sinalizem a[s] positividade[s] reais e possíveis.
Assim, é estruturante e frutífero a médio-longo prazo todo o caminho de aposta na educação, na formação permanente das pessoas e das comunidades, na atração de conhecimento. É algo do âmbito do fermento e menos da[s] massa[s], do investimento opcional e não do custo, do retorno intangível e não do lucro!
É fundamentador o aproveitamento da nossa escala – próxima, humana, percorrível, comunicável-, da nossa identidade geográfica única e diferenciadora e da nossa localização territorial, próxima de muito do melhor. É a esfera da aposta nas pessoas, menos que nas estruturas, da perspetivação do futuro, menos que no resultadismo no presente, nas convicções profundas, menos que nas opiniões circunstanciais!
É uma utopia animadora, no sentido forte de nos dar ‘alma interior’ para prosseguir, apostar na família, com novas configurações humanizantes, como célula nuclear da coesão social. Esse é o ‘habitat’ natural e melhor do nascimento, do desenvolvimento e da morte. No limite, ainda que uma vez mais no reino da utopia, essa aposta sem reservas levaria a ação social a reconverter os seus programas de cuidado dos mais vulneráveis, enfraquecendo ou até mesmo anulando o peso da resposta clássica institucional. Numa sociedade ideal, aliás, a resposta social com a formalidade com que a conhecemos, serviria somente para o emergencial, dado que as famílias teriam condições para se manterem como protagonistas principais dos cuidados com os seus. Haverá espaço para, pelo menos, colocar tal pensamento em agenda ou interessará perversamente que os pobres se perpetuem, para garantir o lugar de um conjunto de estruturas, pessoas e serviços?
A frase bíblica “sempre tereis convosco os pobres” [Jo 12,8], convém recordá-la não como rendição à inevitabilidade da pobreza, mas como humilde banho de realidade, que ensina que a nossa solução individual nunca será chave dos problemas, mas um contributo apenas relativo. Para concluir com um aforisma popular, a resposta social ampla será a soma de ‘dar a cana’, ‘ensinar a pescar’ e ‘dar peixe’, de acordo com o discernimento das circunstâncias.
Luís
Francisco Cordeiro Marques
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