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OPINIÃO - Águas Revoltas




O Povo saiu à rua num dia assim, quase, e ainda bem que só “quase”, a lembrar uma canção de Zeca Afonso.

Não foi fácil para ninguém o que hoje, dia 29 de fevereiro de 2020, se passou no Largo do Terreiro, em Penacova. Nem para quem estava do lado de lá, muito menos para quem estava do lado de cá.
Do lado de cá, senti muita convicção, muita irritação, muita cólera, até. O Povo, que normalmente é paciente, talvez mesmo demasiado paciente, desta vez perdeu a paciência. É que ninguém gosta de ser tomado por parvo.

Em pleno século XXI (bendita Educação!) já poucos acreditam na primeira patranha que lhes querem impingir. Alguns, por convicção, ainda querem acreditar; outros, por obrigação, ainda fingem acreditar. Mas, que não restem dúvidas, o Povo está mais sabido e… ainda bem!

O Povo está cansado de ficar só com as migalhas, enquanto outros de banqueteiam despudoradamente. O Povo está cansado de trabalhar e levar para casa pouco mais de 600 €. Está cansado de se poder reformar cada vez mais próximo dos 70 anos e, ainda por cima, ter que (sobre)viver de uma reforma de miséria.

Para este Povo, um aumento de 10/20/30 ou mais Euros na fatura da água faz toda a diferença. E faz ainda mais a diferença quando sente que esse aumento há de pagar benesses de outros, engenharias empresariais de benefício mais do que duvidoso.

No caso concreto, o Povo não entende a necessidade de se criar uma nova estrutura empresarial, que mais parece um fato por medida, para gerir um bem tão essencial como a água. Os argumentos não nos convencem, muito menos o de que as autarquias, assim, não poderiam concorrer a fundos comunitários. Como fariam as que estão de fora de um processo semelhante? Para além disso, por este caminho, passando os deveres essenciais das Câmaras Municipais para empresas, o que ficariam a gerir no futuro? Festivais gastronómicos e arraiais nos Santos Populares? Com o devido respeito por tais eventos, parece-me manifestamente pouco. Ainda por cima porque, como é costume, a fatura vem sempre direitinha para casa do munícipe.

Hoje custou-me ouvir a tentativa de justificar o injustificável, mas também me custou ouvir o aproveitamento político que logo se fez da questão. Apetece-me perguntar, por onde andavam os senhores e senhoras que não chumbaram, à nascença, a proposta de criação da APIN? Que benefícios viram na altura que hoje deixaram de ver?

Hoje foi um dia de águas revoltas, mas foi também um dia de afirmação de cidadania. Alguns regozijaram-se com tal afirmação, mas, que diabo, o Povo vota na convicção de que V/ Ex.mas defendam os seus (dos eleitores, bem entendido!) interesses. Nem sempre o Povo tem disponibilidade para a tal “afirmação de cidadania”. Se tivesse, não precisaria de eleger V/ Ex.mas, não é verdade?
O Povo precisa de gente séria, responsável e coerente em todos os partidos políticos. Parece que, neste processo, apenas um senhor vereador manteve a coerência! Urge que mais gente honre as suas responsabilidades!

Mas, hoje, no essencial, não foi um dia de política com “p” minúsculo. Hoje, “Política” escreveu-se com um “P” enorme. Hoje “Política” foi sinónimo de “Cidadania”.

Afonso Manuel Martins Brito


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