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MEMÓRIAS - O Moinho do Aviador


"Voava" o ano de 1945 e, na praia frente à Carvoeira, todos aguardavam ansiosamente pela chegada de tão estranho e engraçado aparelho que só pelos relatos dos mais viajados, ou por alguma gravura entretanto publicada, chegara aos olhos dos penacovenses.
O piloto, António Feliciano de Sousa, era natural de Gondelim, onde tinha o seu pai, José Júlio de Sousa Henriques e a sua irmã, Olinda de Sousa Henriques, professora naquela localidade. Vinha do Porto, onde exercia a profissão solicitador, ao que sei, buscar azeite para levar de volta, suspeita-se que de forma clandestina, bem longe dos olhos da fiscalização.
No areal já se encontrava o sr. João Moreno, com o táxi que o havia de ir levar aos Casais, a Gondelim e a outros locais de Penacova, em busca daquele líquido cor de oliva.
Durante a noite, ficava a zelar pela segurança da avioneta, o sr. António Graxa, não fosse algum penacovense, movido pela curiosidade, causar algum dano em tão frágil aparelho e impedir o regresso de tão ousado aviador.
Mais tarde, nos anos 50 do século passado, António Feliciano decidiu mandar construir um moinho, em tudo semelhante aos originais que, por exemplo, podemos ver na Serra da Atalhada, não para moer, mas sim para viver na tranquilidade que as férias lhe pudessem trazer. Daquele promontório, poderia apreciar toda a beleza da paisagem sobre a vila de Penacova e ainda, quem sabe, avistar as serras do Buçaco, Caramulo ou Estrela.
Parece que os objectivos de Feliciano, não se concretizaram. Tirando as poucas vezes com que a voar se fez aos areais do Mondego, nada mais resta da sua passagem por aqui. O Moinho, apesar de ter sido construído na quase totalidade, foi ficando abandonado e ao dispor de todos, menos de quem o idealizou. Ainda me lembro de ver aquele moinho com um aspecto bastante razoável. Era, aliás, visita obrigatória dos romeiros que, todos os anos, no dia 8 de Setembro se deslocavam à ermida da Nª. Srª. do Mont’alto. Hoje mais não é do que uma construção de betão em ruínas, rodeada de infestantes que se propagam por tudo quanto é caminho livre, tomando aos poucos conta do que ainda resta ou daquilo que aqueles que ainda por lá se aventuram vão permitindo que se mantenha.
A reabilitação de tão singular edifício, não se prevê para breve, nem sequer terá sido equacionada. Não creio inclusivamente que alguma vez venha a acontecer, o que se compreenderá tendo em conta a propriedade privada do mesmo e o interesse para as políticas do município. Porém, nunca se sabe se não seria mais útil recuperar tal imóvel, do que deixá-lo no estado em que se encontra, quase destinado a assim permanecer, até se reduzir em pó, o que demorará, mas que inexoravelmente acabará por acontecer. Enquanto isso, manterá a utilidade que hoje tem, ou seja, servir de refúgio a quem procura alguns momentos de intimidade ou tão só para ser visitado por quem ainda se encante com a sua presença.

Pedro Viseu