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OPINIÃO - Homenagens...mas sem banalização!

Este meu defeito de não conseguir ficar calado perante as coisas em que praticamente sou obrigado a participar enquanto cidadão, faz com que desperte ódios e rancores. Contudo, esta liberdade de me poder exprimir, é comum ao mais comum dos mortais e desculpai a redundância. Basta que para isso resida num país livre e soberano, por isso cá estou a fazer mais um texto para o “Penacova Actual”.

Nos tempos que correm, tudo se está a banalizar a um ritmo louco, como loucos são os tempos em que vivemos. Não sei se isto advirá de problemas relacionados com a radioactividade, que anda por aí ao virar de cada esquina, por culpas de quem também banalizou a própria radioactividade, em busca da electricidade barata e assim construíram Chernobyl e Fukushima e muitos outros reactores, espalhados um pouco pelo mundo inteiro. No entanto, outros países mais pobres, procuram ainda hoje energias alternativas muito mais caras, mas menos maléficas para a vida dos seres humanos.

Assim, a pouco e pouco se vai banalizando tudo neste mundo. O sexo está banalizado de tal forma, que se oferece sexo à troca de tudo e mais alguma coisa. A palavra “amo-te” banalizou-se de tal forma, que se diz amo-te por tudo e por nada. Até o sofrimento se banalizou de tal maneira, que se sofre ao sabor dos tempos e das vontades. Existe também, de uma forma cada vez mais arreigada, uma banalização das profissões. A banalização dos crimes violentos e da violência virou moda. Para acabar o parágrafo, está tudo demasiado banalizado.

A exemplo disso, o que tem acontecido no nosso concelho nos últimos tempos. As actas das Assembleias Municipais estão cheias de votos de louvor por todo e qualquer motivo. Uma associação faz anos, recebe um louvor. Um clube fica numa posição honrosa, recebe um louvor. Um atleta consegue destacar-se numa prova regional, aí vai mais um louvor e assim por diante. Depois, vem também a luta dos partidos políticos, a ver quem primeiro apresenta a proposta ou a moção, sabendo-se à partida que quando se louva alguém ou alguma coisa, consegue-se sempre a unanimidade e todos sabemos, que quanto mais não seja, será para não ferir susceptibilidades. Sei que falar disto é sempre controverso mas, eu não conseguia ficar sem falar.

Atribuir nomes a ruas e homenagear quem quer que seja, deve ser um acto em que se valorize as pessoas ou a sua memória, nem que seja a título póstumo, pelo contributo que deram às suas terras, na defesa das suas gentes, na preservação do património edificado ou do património cultural. Pelo que deram à sociedade, pelas benfeitorias realizadas, por todas as obras efectuadas, por acções beneméritas ou donativos significativos, no apoio aos Bombeiros e outras entidades, enfim em tudo o que seja dar algo, em prol dos outros e da sociedade.

Assim sendo, não estou contra nenhuma homenagem nem nunca poderia estar, quanto mais não fosse, pelo respeito que me merecem todas as pessoas mas, não entendo homenagens sem qualquer critério, parecendo que feitas ao sabor do vento que passa, sem qualquer discussão, sem consultar pessoas que poderiam ajudar na escolha dos homenageados. Enfim de livre arbítrio e a uns perguntando e questionando sobre a escolha e a outros, simplesmente informando das decisões.

Reparem que, não está em causa a necessidade justa e meritória que todos temos de reconhecer o contributo que muitas pessoas têm dado e alguns continuam a dar ao concelho e até ao País. Porém, se a banalização se tornar efectiva, vai levar irreversivelmente ao demérito dos homenageados e elas passarão a ser tantas que, qualquer dia, vamos ter que começar a colocar placas atribuindo nomes, nos postes de iluminação pública.

A banalização das homenagens a continuar assim, vai-nos levar em duas direcções, sendo que, nenhuma delas me parece a ideal. Uma, a de homenagear sem critério nem rigor, a escolha dos méritos reconhecidos, onde o politico e a política poderá mais facilmente ser homenageado do que a benemerência, ou uma vida dedicada ao ensino, a outra, a de homenagear por homenagear cidadãos ilustres que mereciam o verdadeiro sentido da homenagem. 

Se assim não fizermos e nem procurarmos escutar nem unir em consenso uma grande parte da sociedade, podem crer, que a banalização das homenagens vai conduzir ao demérito dos próprios homenageados e isso vai-nos levar por caminhos irremediavelmente perdidos que nunca mais encontrarão um rumo e onde, só com o apagar do tempo se poderá colocar alguma justiça, pelo esquecimento que gerará. Mas nunca esqueçam, que a homenagem feita, jamais será esquecida mesmo que não tenha sido merecida.

António Catela