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OPINIÃO - Muito esquece a quem não sabe


Sob a égide da preocupação com “condições humanas adequadas” (sic), o Dr. Horácio Firmino (HF) publicou recentemente nas páginas de “As Beiras” um texto em que cita o Hospital do Lorvão como local de “acumulação depessoas sem as tentarem reabilitar”, adiantando até a existência de “más condições climáticas” (seja lá o que isso for: será muito frio, muito calor, muita chuva…?? Ou o contrário ??) como razões para a inexistência na instituição da desejável reabilitação dos doentes.
Não defendemos a manutenção dos hospitais psiquiátricos tradicionais – pelo seu carácter monolítico e indutor de estigmas. Mas o que não entendemos de todo é a referência negativa concreta apontada ao Lorvão: é desadequada, injusta e ignorante.
E dizemos ignorante (como sinónimo de não saber) porque nunca HF mostrou qualquer interesse em conhecer o Lorvão e o trabalho lá desenvolvido ao longo de décadas – nem mesmo quando cientistas de referência mundial se deslocaram ao Lorvão para conferências e workshops participados por centenas de técnicos de todo o país (o último deles foi o Prof. Alan Marlatt, autor incontornável na abordagem das adições e inspirador do programa diferenciado de tratamento do alcoolismo que tratou milhares de doentes, implementado no hospital).
Por isso, nunca pôde HF verificar o moderno e bem equipado edifício da terapia ocupacional (remodelado há poucos anos), os ateliers de treino de competências de vida diária, os programas de estimulação psicomotora, as múltiplas actividades de desenvolvimento pessoal. Também, não pôde constatar as instalações de prática desportiva e – espante-se !! – não lhe foi possível admirar a magnífica piscina rodeada por solário (sim, também fazia sol no Lorvão…).
Portanto, caro Dr., quanto a instalações capazes de facilitarem práticas de reabilitação, a evidência fala por si – oxalá outros tenham o que o Lorvão dispunha. Mas, como é óbvio, não apenas as instalações são relevantes quando se fala em tratar e reabilitar – para além de aspectos técnicos (e o Lorvão tinha excelentes profissionais), a dimensão relacional humana é vertente terapêutica fundamental. E neste domínio a cultura institucional do Lorvão era única, tal como era muito especial a relação da comunidade envolvente com os doentes.
Por via das mudanças institucionais havidas, o Lorvão encontra-se agora agonizante, esvaziado das plenas funções assistenciais que já teve. Não tem sido, entretanto, tratado com a dignidade devida. E é em nome desta necessária dignidade como instituição que marcou positivamente a vida de quem por lá passou (trabalhadores e doentes) que é importante dizer que HF veio bater à porta errada nas suas infelizes atribuições.
Paulo Henrique Figueiredo - Diário As Beiras